Entre a saúde e a fé, há uma caminho demarcado pela tradição. O conhecimento popular fez-se acreditar que a sanidade do corpo poderia ser recuperada com auxílio das ervas e também com as preces das rezadeiras, as receitas de curandeiros e a crença no Divino. Quando a ciência disseminou os tratamentos por doutores, a espiritualidade perdeu abrangência. A fé passou a cuidar somente do espírito. Do corpo, os tratamentos dão conta. Essa divisão, porém, não é tão clara para muitos estudiosos. Nos tempos de agora — e não é de hoje —, há quem perceba que a cura também pode passar pela relação dos pacientes com o Sagrado.

Os estudos sobre a influência da espiritualidade em tratamentos de saúde foram iniciados nos Estados Unidos no final da década de 1980. De lá até hoje, as pesquisas vêm se avolumando. Parte dos estudiosos entende essa abordagem como “um novo paradigma” para a medicina. É o caso do cardiologista Fernando Lucchese, do Hospital de São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Para o médico e pesquisador do assunto, o paciente se constitui de uma tríade: corpo, mente e espírito. “As doenças de um setor afetam os outros”, defende.

Cuidar do espírito é um dos fatores que, conforme o cardiologista, pode interferir na saúde do corpo. E se a pessoa já estiver doente, pela fé é possível se curar. E não é milagre, por assim dizer. Nem benefício de uma ou outra religião. É que, de acordo com os estudos, pessoas religiosas têm melhores hábitos, evitam excessos e possuem uma rede de amparo em sua volta. Tudo isso afasta doenças ou auxiliam nos tratamentos de saúde.

“Quando a pessoa já está doente, a espiritualidade ajuda a aceitar melhor o momento da doença. Isso as faz aceitarem melhor o tratamento também. Eles aceitam a enfermidade e não se revoltam com ela. Quando eles se revoltam é pior, porque o corpo fica mais vulnerável”, diz o especialista.

Para Frank Usarski, coordenador do programa de pós-graduação em Ciência das Religiões da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os benefícios da espiritualidade para o corpo não é algo novo. O professor cita a experiência dos japoneses cujas correntes religiosas pregam o bem-estar corporal. “A relação entre saúde e religião é mais corriqueira quando se pratica uma técnica em que se tem a ideia de que espírito e corpo funcionam como dois lados de uma mesma moeda”, comenta.

Neste domingo de Páscoa, uma das datas mais importantes para os cristãos, o Ciência&Saúde se propõe a compreender como os médicos e outros especialistas entendem a fé no contexto científico. Nas próximas páginas, você poderá saber mais sobre os benefícios da espiritualidade, os estudos sobre o tema e como a experiência vem sendo trabalhada no Ceará.

Multimídia Veja galeria de fotos em
www.opovo.com.br/galeria