Logo na primeira consulta, o cirurgião e cardiologista Fernando Lucchese, do Hospital de São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, faz a seguinte pergunta aos pacientes: “Você tem alguma religião?”. A informação faz parte do que ele chama de “anamnese espiritual”. Se o paciente professar alguma crença, a orientação do médico é buscar fortalecer a “rede espiritual” nos dias antes da cirurgia. Não importa qual. “Se for evangélico, eu peço pra conversar com o pastor. Os católicos, com os padres. Os umbandistas, com os pais de santo. Essa força não deve ser desconsiderada”, defende.
Alunos discutem os benefícios da espiritualidade em disciplina na UFCHistórias de quem se viu curado pela fé
Lucchese coordena o Núcleo de Pesquisas do Hospital de São Francisco, que, em parceria com a Universidade Duck, nos Estados Unidos, realiza pesquisas que tentam explicar as influências da religiosidade nos tratamentos de saúde. Cinco pesquisadores e três médicos participam dos estudos. Em recente pesquisa realizada com 260 pacientes do hospital gaúcho, 96% das pessoas atendidas disseram acreditar em Deus. Dessas, 88,2% usam a fé como conforto na doença. O resultado, segundo o doutor, abriu caminho para tentar perceber como essa crença se reflete no corpo.
Outras evidências levam o médico a acreditar numa relação entre a saúde e a religiosidade. Estudos já comprovaram que a religiosidade reduz de algum modo as possibilidades de inflamação no corpo. Lucchesi explica que esse efeito é causado pela redução da substância interleucina 6 no organismo. “As doenças inflamatórias se caracterizam pelo aumento dessa substância no corpo. Em pessoas que mantêm hábitos religiosos, ela tende a diminuir. A partir de então, a gente começou a tatear uma explicação para as doenças da alma”, considera.
Segundo ele, a principal vantagem da espiritualidade é “apaziguar o espírito”. O fato de tranquilizar os pacientes, reverbera na eficiência do tratamento. A relação entre o paciente e o médico também melhora. “É uma espécie de senha entre os médicos e os enfermos. Nós deixamos de ser doutores, simplesmente, quando enxergamos essas outras possibilidades neles”, acrescenta.
Humanização
Para a professora Eliane Oliveira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a humanização do tratamento e das relações entre os médicos e os pacientes é uma das principais vantagens dessa abordagem. “O cuidado deve ser centrado no sujeito”, assevera.
Segundo a especialista, os médicos precisam identificar se os pacientes valorizam a espiritualidade. “É preciso ter sensibilidade para saber se a crença tem uma repercussão na vida do paciente e tomá-la como aliada nesse processo”, explica. A professora também fala da importância de se identificar as redes de apoio, que pode vir da família, mas também das comunidades religiosas.
“Isso faz parte da identidade de muitas pessoas, por isso é importante valorizar. Nas pessoas que tem uma religiosidade mais acentuada tem uma rede de apoio mais significativa e são importantes nos momentos difíceis”, comenta. (Rômulo Costa)
“É preciso ter sensibilidade para saber se a crença tem uma repercussão na
vida do paciente”
SAIBA MAIS
Apoio
O serviço de capelania faz parte da política de alguns hospitais brasileiros como forma de dar apoio aos pacientes e humanizar o tratamento. A professora Eliane Oliveira (UFC) defende que essa alternativa pode contribuir para o tratamento de quem tem uma crença.
Capelania
O Hospital de São Francisco, em Porto Alegre, dispõe do serviço. São cinco capelães que atuam na unidade entre católicos e evangélicos. Os profissionais são acionados pela equipe médica e intermedeiam a relação entre os doutores e o paciente recém-operados.Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje
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