Vaidade não tem idade nem preço que não se pague. A frase sopra na rua Nossa Senhora das Graças, uma das principais vias do Pirambu, bairro que é periferia e vista para o mar ao mesmo tempo, na zona oeste de Fortaleza. “O povo, aqui, se cuida. Ganham apenas um salário mínimo, mas são fiéis, pagam direito. Tem cabelo que cobro R$ 250 e pagam à vista!”, demonstra a cabeleireira Jacqueline Azevedo Bernardo Damasceno, 42, que não aceita cartão de crédito e anota o que lhe devem na agenda. “Pense num povo pra se arrumar! O pessoal do Pirambu é vaidoso!”, contabiliza.
A rua é popular pela quantidade de cabeleireiros que se avizinham. Entre as casas, ou mesmo sendo parte delas, existe um mundo de salões de beleza que compõem a economia e a história locais. Jacqueline é dona e única funcionária de um dos salões de beleza antigos do bairro. Fez o curso, “de manicure até depilação”, com o patrocínio da Igreja Batista, quando se casou aos 19 anos. Desde então, divide o salão com a garagem do carro: “Você começa com um secador, uma tesoura e uma chapinha”.
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O salão da Jack foi crescendo junto com os três filhos que ela teve “próximo um do outro e não poderia deixar com alguém pra cuidar”. A garagem ganhou pintura lilás e prateleiras que acomodam o modesto comércio de tinturas e cremes. “A não ser que você queira colocar um salão chique”, diz, os investimentos para montar o negócio não são altos. “Coloquei uma banquinha e comecei a vender sanduíche, mugunzá. Todo dinheiro que arrecadava comprava espelho, cadeira, uma coisa a mais”, soma.
Clientela fiel
Da conversa, avistam-se mais três, cinco salões de beleza próximos. Semelhantes em estrutura, eles nascem pelas casas da rua Nossa Senhora das Graças, quase vizinhos uns dos outros. Têm histórias geminadas. Um quarteirão adiante, Rosilene Monteiro Gomes Sobrinho, 43, a Nena, também se formou cabeleireira e mãe ao mesmo tempo. Ela se casou aos 15 anos e, aos 17, alugou o primeiro ponto com a ajuda da mãe. “Fiz curso profissionalizante no Senac e não tive medo de botar meu salão. Eu tinha meus filhos muito pequenos e não podia sair de casa”, narra.
Depois de muitos fins de semana de trabalho, mais o que o marido recebeu quando saiu da firma, o salão rendeu ao casal o imóvel próprio e um carro. Mesmo com “12 salões aqui perto”, conta Nena, a profissão dá pro gasto: “Já fui pro Rio de Janeiro, morar. Tava ótimo, meu salão ‘bombando’, aí, o marido ficou com saudade (dos dois filhos; só a mais nova foi com eles e voltou manicure)”.
Nos salões visitados pelo O POVO, os serviços mais caros são as chamadas “químicas” (como as escovas inteligente e definitiva) e custam entre R$ 180 e R$ 250. Mas com uma trança embutida se ganha R$ 20, R$ 30. Dependendo do mês, tira-se até dois salários mínimos. E, em meio à concorrência que se acirrou nos últimos anos, um diferencial pode ser aceitar cartão de crédito, ou instalar um ar condicionado, ou vender Avon e Natura, ou ainda se especializar de algum modo.
Nena não fez mais cursos desde os anos 80, mas aceita cartão e garante: “O que passa na televisão, eu faço do mesmo jeito”. A alguns passos, Jacqueline Damasceno também dá seu jeito: “Tenho ‘n’ clientes. Tenho clientes de escola particular, que só recebem por mês. Então, elas passam o mês fazendo o cabelo e, no dia ‘x’, me pagam o total... A gente conquista os nossos clientes. Já tenho minha clientela formada: as de química, as loiras, os cortes. São fiéis a mim, todo mês estão aqui. Os fiéis não traem!”.
SERVIÇO
Informações sobre horários e preços dos cursos na área de beleza podem ser obtidas nos sites das instituições:
Senac – www.ce.senac.br
Instituto Embelleze – www.instutoembelleze.com
Iasocial – www.cursoiasocial.com.br
SAIBA MAIS
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