18/09/2016

Transtornos alimentares: a comida e os dilemas com o corpo

Os padrões de beleza e magreza podem provocar reflexos visíveis e preocupantes como os distúrbios alimentares, que afetam principalmente pessoas jovens. Prevenção é a melhor atitude
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Angélica Feitosa angelica@opovo.com.br


Ela tinha apenas nove anos quando começou a apresentar sinais de que algo estaria errado. Passou a vestir peças largas. Aos 12, evitava comer na presença de qualquer pessoa. Na hora do almoço, a mãe precisava fechar portas e janelas para que a menina conseguisse fazer a refeição. Até que chegou a não querer mais se alimentar. Hoje, aos 21 anos, mede 1,61m e não sabe quanto pesa. “Faz um ano que não subo numa balança. É uma tortura para mim”, lamenta a moça, que preferiu não se identificar. A anorexia foi diagnosticada. Ela está em tratamento.


 

Pessoas cada vez mais jovens apresentam sinais do que pode se desenvolver como um transtorno alimentar, tal qual a anorexia. A razão, para o psiquiatra Fábio Gomes de Matos, é, principalmente, a pressão social em torno da beleza e do quanto se pesa. “Especialmente para as mulheres, que são induzidas a ter uma magreza absoluta”, cita. Ele compõe a equipe do Centro de Estudos e Tratamento em Transtornos Alimentares (Cetrata), do Hospital Universitário Walter Cantídio.


O primeiro sinal dos transtornos é a insatisfação com o corpo. “O desejo de emagrecer acontece mesmo quando você já atingiu o peso desejado”, destaca a psicóloga clínica Raquel Bacci. Ela trabalha no atendimento a pessoas com transtornos como anorexia, bulimia e compulsão por comida.


Prevenir, dando atenção aos primeiros sinais, é a melhor saída no combate aos transtornos, cita Gomes de Matos. No caso da anorexia, os pais ou responsáveis podem ficar atentos a indícios como evitar fazer refeições com a família; consumir quantidade extremamente pequena de alimentos e apresentar insatisfação com qualquer comentário sobre a forma física.


Já os primeiros sinais da bulimia podem estar ligados a uma radicalização do linguajar e da conduta, segundo o médico. “A pessoa pode passar a usar muito as palavras ‘tudo’, ‘nada’, ‘sempre’. É mais comum acontecer a bulimia em pessoas muito rígidas com o próprio comportamento, como excelentes alunas. Elas também podem apresentar rigidez no andar”, lista.


Esses comportamentos são indicativos e não determinante dos transtornos alimentares, lembra o psiquiatra, enfatizando que uma pessoa sem esses problemas pode manifestar qualquer um dos sintomas, sem necessariamente ser diagnosticado. “Somente uma equipe multidisciplinar, com médico, psicólogo e nutricionista, pode dar o diagnóstico correto”, lembra.


O Ciência&Saúde deste domingo discute os transtornos alimentares e os prejuízos aos quais as disfunções podem levar. O conteúdo integra série de reportagens sobre alimentação publicada nas últimas semanas. Hoje, conheça histórias de pessoas que sofrem ou sofreram com os transtornos e saiba como evitá-los. Boa leitura!

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