Há 42 anos na Câmara dos Deputados, o jornalista e advogado Miro Teixeira passou pelas mais diversas crises da política, incluindo a transição da ditadura para a democracia e o impeachment de Fernando Collor de Melo. O decano do Rio de Janeiro foi eleito 11 vezes e já passou por oito partidos ao longo da carreira política, do PMDB à Rede, ao qual é filiado atualmente.
Novas eleições
Miro Teixeira sustenta que a melhor solução para o atual cenário do Brasil seria a convocação de novas eleições ainda neste ano. Em entrevista ao O POVO, o deputado explica por que mudou de ideia em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, passando de contra a favorável. Apesar de crítico à política nacional, ele também se mostra otimista sobre o futuro próximo do País.
OPOVO - Qual a sua avaliação das últimas duas semanas da política brasileira?
Miro Teixeira - É uma dificuldade crescente para o País. Além do ambiente político já conhecido, pioram os indicadores de emprego, de negócios. Há uma acumulação de problemas acontecendo. É um momento que exige muita criatividade, muita serenidade. Mas não há dúvida alguma de que as últimas gravações tenham trazido a discussão política para o âmbito do impeachment. Embora o ideal seja nós empregarmos Diretas Já, só as eleições já seriam a salvação para o Brasil.
OP- Qual a saída para essa crise?
Miro - A saída seria o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicar que a campanha (de Dilma) foi viciada e que teremos eleições. O povo saberá encontrar os caminhos para nossas aflições. A velocidade do movimento social é muito expressiva e as exigências republicanas se tornam cada vez maiores. As instituições brasileiras perderam a credibilidade. Como todo direito emana do povo, devemos dar a ele a oportunidade de recuperar instituições sadias. E isso, o povo só poderá fazer através do voto direto. Seria um serviço patriótico.
OP- O que seriam Diretas Já neste contexto?
Miro - Seriam as eleições para presidente e vice. Se fosse possível fazer para deputados, seria o cenário ideal. Porém, aprovaram uma emenda constitucional que torna isso impossível. Em vez de ficarmos no cenário do impossível, podemos considerar o possível e rápido, que seria a decisão do TSE de que a campanha teve vícios que levaram a população a uma decisão errada. A própria população pode reconstruir um bom caminho para o Brasil.
OP - Como o senhor enxerga a atuação do juiz Sérgio Moro em relação a grampos e vazamentos?
Miro - Não houve grampo nem vazamento. Grampo é interceptação ilegal de telefone. A defesa usa a expressão “grampo” para desqualificar. Os vazamentos podem ser obrigações de levar ao conhecimento público aquilo que faz parte do conceito geral da transparência. O dever do servidor público é comunicar as irregularidades que podem provocar grandes males ao país. Penso ao contrário: se não houvesse tido a divulgação desses vazamentos, não seria pior?
OP- As controvérsias dessas decisões prejudicam a imagem do Judiciário?
Miro - Não. Pelo contrário, foi muito útil.
OP- Quais as diferenças desta crise política para outras pelas quais o senhor passou no Congresso?
Miro - O nível de interação das pessoas, a tecnologia da informação, a presença dos jovens na formação das suas redes de amigos que tornam a informação confiável e a acumulação da crise política com a crise de confiança. Ninguém acredita nos atores presentes ao palco como capazes de encontrar soluções, descrença na Presidência e no Parlamento.
OP- Nessas novas eleições, que o senhor prega, que papel teria o fim do financiamento empresarial de campanha?
Miro - Não acredito que seja um fator decisivo. Mas, já que está aí, que se faça da melhor maneira. A contribuição do setor privado, sem o caráter criminoso que está sendo agora revelado, é útil. Um empresário que toca decentemente sua vida tem o dever e o direito de participar do processo e apostar na eleição de pessoas que representem o seu pensamento.
OP - Mas isso seria empresário como pessoa física ou jurídica?
Miro - Pode ser física ou jurídica. Com relação à pessoa física, não há problema. Na jurídica, é bom que se estabeleça limites para que muitas (empresas diferentes) possam participar.
OP- Qual a avaliação do senhor sobre o processo de impeachment?
Miro - Eu era contra o impeachment, conforme estava formulado. Mas a revelação das últimas gravações me colocou a favor do impedimento. Houve o aditamento da colaboração do Delcídio do Amaral. A presidente da República foi intimada e já começou na última sexta-feira a contar o prazo de dez sessões para apresentar sua defesa. Eu penso que o mês de abril trará a decisão.
OP- Como o senhor encara a formação da comissão de impeachment, visto que muitos parlamentares que a compõem têm pendências com a Justiça?
Miro - A avaliação pessoal é secundária. É preciso esperar a avaliação do trabalho. Vamos ver o que sai da comissão. Se os direitos são assegurados, se os direitos de defesa da presidente da República são assegurados. Não existem disparates na soberania do plenário. Este é um momento intermediário: 513 podem tomar uma decisão errada. Sócrates foi condenado ao suicídio por um plenário de mais ou menos 500 pessoas. A publicidade dos atos praticados ao longo desse processo vai refinar a qualidade do foro.
OP - Quando o senhor diz que é a favor do impeachment, significaria que prefere um governo de Michel Temer ao de Dilma?
Miro - Eu prefiro solução que nos conduza à eleição. Mas eu não posso ficar esperando a solução que eu considero ideal, enquanto existe uma possibilidade constitucional de outra solução. Uma pode suceder a outra, nada impede. Defender o ideal não pode ser um biombo para se esconder do que está acontecendo no Brasil,
que é muito grave.
OP- O que um eventual governo Temer poder trazer de bom para o atual cenário?
Miro - Eu creio que não será restabelecido ambiente de confiança com facilidade. Em termos políticos, acredito que será mantida a mesma base de aliança. Não creio ser essa uma solução ideal. Mas, se for a única aposta, nós temos que lutar. Da mesma forma que, se não houvesse processo de impeachment, teríamos que lutar para que o governo Dilma acertasse o passo. Nós não podemos é permitir que os jovens continuem sem emprego, necessitados sem saúde e que o País fique paralisado pela falta de coragem dos agentes políticos.
OP - O que a condução do impeachment por Eduardo Cunha representa?
Miro - Não prejudica nem ajuda. O ideal seria uma figura com perfil de Padre Cícero. Mas nós não temos isso. Vamos trabalhar com o que temos. Não podemos cruzar os braços.
OP - O senhor acredita na redução da liberdade das instituições (PF e Ministério Público) após a queda do governo do PT?
Miro - Não acredito, porque a Polícia Federal, atuando como polícia judiciária, tem autonomia absoluta em relação ao que está apurando. Não existe ninguém que se meta na PF.
OP- De que forma seria possível corrigir o sentimento de falta de liderança e descrença nos partidos?
Miro - Seria bom se tivéssemos a permissão de candidaturas independentes. Quanto aos líderes, eles surgem na luta, não há
dúvida sobre isso.
OP - Qual o papel da mídia nessa crise?
Miro - Faz parte do movimento de evolução da vida democrática brasileira. Eu gosto de participação política nos jornais, na rádio e na televisão. Gosto de jornais de países em que os editorais apontam seus candidatos. É normal que seja assim. O ideal é que haja veículos com tendências políticas porque, dessa maneira, o povo se informa de tudo. Mas ainda não chegamos a esse ponto no Brasil.
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