Reportagem.dom 31/01/2016

Trégua. Dez meses sem mortes pelo tráfico

Na Sapiranga, onde se contabilizavam de oito a dez homicídios por mês, a trégua entre facções criminosas diminuiu a estatística da violência. E os rivais não se enfrentam
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Na Sapiranga, bairro situado na zona sul de Fortaleza, nove gangues, divididas em dois grupos inimigos, permitiram que a “paz” se instalasse no território esquadrinhado pelo terror e o risco constante de morrer bandido e inocente. Quem conta parte dessa história é o microempresário e líder comunitário Wander Alencar, 46. “Eles viviam se matando numa guerra sem sentido”, lembra.


O dia era dos pais. E, como sempre, as festas aconteciam dentro de casa e a portas fechadas. Ainda mais porque, às vésperas daquele agosto de 2014, o bairro se ressentia do assassinato de mais um morador.


Wander e o filho pintaram uma cartolina pedindo “Paz na Sapiranga”. Fotografados, a imagem viralizou e virou campanha na Internet. O líder comunitário criou a logomarca e se apropriou da cruzada. A febre na web ganhou visibilidade nos meios de comunicação. “Como convivi com muitos dos que se envolveram em coisas erradas, moro na Sapiranga há mais de 20 anos, fui pedir que conversassem”, revela Wander.


Mas a história não seria resolvida por causa da boa vontade e disposição de Wander Alencar. Por algum motivo, ainda não decifrado, foi decretada uma trégua entre as facções criminosas. Entre eles, foi proposto liberar os moradores da Sapiranga para circular “livre” entre as nove comunidades que viviam em conflito.


Segundo Wander, eles teriam acertado que “continuariam inimigos, mas cessariam as brigas e a perseguições contra os que não tinham a ver com o que eles faziam”. E assim está posto até agora. “Eles continuam rivais porque ninguém quer apertar a mão de quem, no passado recente, matou o irmão, o primo e o pai do outro”.


A Sapiranga, segundo dados da SSPDS está há dez meses sem um homicídio ligado à disputa pelo tráfico de drogas. De acordo com um policial, a única morte nesse período teria sido em decorrência de uma briga entre vizinhos. “Rezo para que essa trégua dure a vida toda. Pra isso, passamos a envolver a comunidade em atividades na rua”, explica Wander.


A relação teria deixado de ser tensa e o acordo prevê que os integrantes das gangues não participam das ações comunitárias. Não matam cidadãos e não expulsam das casas familiares ligados a desafetos. “Somente os filhos e as companheiras deles se envolvem nas festas, passeatas, campeonatos, cursos e outras coisas que estimulamos para mudar a cultura da violência”, explica o líder comunitário, que foi candidado a deputado estadual em 2014 pelo PTdoB.


Os grupos

A rivalidade do tráfico na Sapiranga coloca do mesmo lado as gangues da Fronteira, Alecrim, Muro Alto, Cidade Nova e Cidade Leste. Na outra ponta da disputa do território: Lagoa Seca, Uruca, Barreira e Piçarreira. (Demitri Túlio)

 

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