ENTREI NA HISTÓRIA 31/08/2014

Brotando a emancipação, uma experiência de 24 horas sem dinheiro

Rosa da Fonseca e amigos do grupo "crítica radical" iniciaram num sítio em Cascavel a experiência de viver sem a necessidade do dinheiro. O POVO passou um dia lá
notícia 17 comentários
DictSql({'grupo': 'ESPECIAL PARA O POVO', 'id_autor': 18826, 'email': 'politica@opovo.com.br', 'nome': 'Bruno Pontes'})
Bruno Pontes politica@opovo.com.br
Fotos: Fábio Lima


Desde seis de julho passado, ocupantes de um sítio em Cascavel, na Região Metropolitana de Fortaleza, vêm agindo para alcançar um modo de vida que, segundo eles, pode voltar a existir, embora com esforços: a vida sem dinheiro. Eu e o repórter fotográfico Fábio Lima passamos um dia no Sítio Brotando a Emancipação experimentando a rotina de homens e mulheres que querem jogar fora o que eles consideram ser o deus da sociedade capitalista.


A iniciativa é do grupo Crítica Radical, cuja integrante mais famosa é Rosa da Fonseca. Vereadora de Fortaleza pelo PSB nos anos 90, desde há muito ela está definitivamente desiludida da possibilidade de a política tradicional tornar a humanidade feliz. “As pessoas ainda têm uma visão pequena do que propomos. É uma ruptura com o sistema e com nós mesmos”. Além de Rosa, três pessoas moram no sítio: Etel, Sandra e Ronaldo. Dos quatro, Etel ainda trabalha. É professora de Filosofia e Sociologia na rede estadual. Visitantes vêm e vão, chegando a 30 em fins de semana.


O que é trabalho?

 

 

 

 

 

 

 

 

Fábio e eu chegamos no meio da tarde da última quinta. Fui logo incentivado a tomar parte na colheita de bananas. Cortei alguns cachos e carreguei um carro de mão abarrotado deles. Dali fomos puxar água do poço para regar pés de feijão, milho, melão e outros que começavam a brotar. Já que o Fábio se limitava a fotografar, brinquei: “Eu trabalhando e ele só tirando foto”. Rosa fez a observação: “Trabalho não, atividade. Trabalho é o que a gente faz por dinheiro”. Outros comentários desse tipo viriam.

 

A casa tem notebooks e aparelhos celulares (o sinal é um problema, dizem os moradores), mas não televisão. Sobre a mesa do jantar, leite em caixa, biscoitos e outros itens comprados em mercantil. Segundo Rosa, o grupo quer se livrar com o tempo da necessidade de produtos desse tipo. Nos próximos dias, começarão a criar galinhas que vizinhos lhes deram.


“Esse cuscuz que a gente vai comer ainda é transgênico. Por isso a gente tem tanto cuidado com o nosso milho. Queremos nos livrar disso”, afirma Rosa antes do jantar. Depois de muito papo político, ela e Manoel Inácio do Nascimento, membro do movimento Ciclovida, tocam músicas de cunho igualmente político no violão (pois é, a Rosa toca).


Etel chega da escola trazendo carne, que aceito. Ronaldo dispensa, dizendo que àquela hora não quer comida “que dê trabalho, quer dizer, trabalho entre aspas”.


Às 5h30min, José Ciriaco, 66, meeiro do antigo dono e colaborador dos atuais, chega gritando para anunciar o início das atividades. Aquela manhã é reservada para cercar com rede um plantio (proteção contra galinhas) e para caminhar quase uma hora mato adentro até o rio Choró, onde se colhem búzios que dão um caldo muito prestigiado. Rosa, seu Zé e o filho dele, Edivaldo, vão para mais perto do encontro de rio e mar para pegar as ostras e siris do almoço.


Em certo trecho do caminho, os repórteres, exaltados com a beleza da vegetação, comentam entre si que uma mulher nua naquela paisagem daria uma bela foto. “É a fetichização do sexo”, nota a professora Iracir de Souza, que nos escutou.


O almoço tem feijão, batata e macaxeira do terreno e carne de caju tirado de uma área não exatamente nossa. Quando nos preparamos para partir, chega uma vizinha e Rosa a presenteia com uns cachos de banana, fruta que ali tem para dar e vender. Opa! Só para dar.


 

16h

Chegando ao sítio, direto para a retirada e carregamento de cachos de banana

 

17h

A água com que se rega as plantas sai do poço. Rosa da Fonseca vistoria

 

6h

Acordado pelos gritos do seu Zé, hora de regar as plantas de novo, pois chuvas estão fracas

 

7h

Moradores e visitantes do sítio terminam cuidados com a bulandeira

 

espaço do leitor
Ricardo Magalhães 15/11/2015 19:58
Concordo com Dr. Mundico. Desejar viver assim e acreditar que é possível impor tal forma de vida sobre o mundo atual, é uma completa e estúpida loucura. É da natureza humana a ganância e o não aceitar limites. Limitar o que cada um pode alcançar, geraria psicopatas na sociedade, e corruptos no poder. Abram o olho para realidade porque ela é OBJETIVA. O sonho do mundo perfeito como muitos querem, é uma visão SUBJETIVA. Ou seja, nunca será alcançada. Abraços.
eduardo 13/04/2015 16:44
Muito bom, adorei. Meu sonho atual é viver assim.
reagan 07/02/2015 13:40
isso só mostra o quanto esquerdista é hipócrita... duvido que esses babaquinhas de faculdade queiram ir morar lá, longe do capital do papai...
Aline 02/09/2014 19:35
O réporter despesreita e zomba do movimento. Lamentável a falta de seriedade do jornalista.
Dr. Mundico 02/09/2014 14:22
Impressionante como pessoas encaram uma aberração dessas como normal,quando nem países nem indivíduos conseguem ser autosuficientes.Negar isso é retroceder mentalmente a infancia e fugir á realidade do convívio humano civilizado, buscando devaneios e causas estúpidas como desculpas.
Ver mais comentários
17
Comentários
500
As informações são de responsabilidade do autor:
  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

ACOMPANHE O POVO NAS REDES SOCIAIS

Erro ao renderizar o portlet: Barra Sites do Grupo

Erro: <urlopen error [Errno 110] Tempo esgotado para conexão>