atenção básica 23/02/2016

Dentistas e enfermeiros da rede municipal de Fortaleza iniciam greve

Os profissionais reivindicam, principalmente, reajuste salarial de 19% e realização de concursos públicos. Enfermeiros e dentistas relatam ainda falta de medicamentos e insumos para o atendimento primário
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Amanda Araújo amandaaraujo@opovo.com.br
foto: mauri melo/o povo
O ato foi encerrado às 11 horas, mas por volta de 10h40min os manifestantes começaram a se dispersar

No primeiro dia de greve, cerca de 350 dentistas e enfermeiros, segundo estimativa do Sindicato dos Odontologistas do Ceará (Sindiodonto), protestaram, no Centro, por reajuste salarial e melhores condições de trabalho, na manhã de ontem. Acompanhados de um carro elétrico e vestidos de preto, eles chamaram o prefeito Roberto Cláudio (PDT) para um café da manhã de negociação. Nenhuma comissão foi recebida, mas a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que RC realizará reunião da Mesa Central de Negociação nesta sexta, 26.

A concentração foi iniciada às 8 horas e, por volta das 9h30min, os manifestantes fecharam a rua São José, entre o Paço Municipal e a Catedral Metropolitana.  Segundo o presidente do Sindiodonto, Cláudio Ferreira, a greve foi deliberada na última segunda, 15, e teve adesão integral, mas foi mantido um percentual de 30% de enfermeiros e dentistas nos postos de saúde da Capital. "O atendimento fica restrito para casos emergenciais, como aplicação de vacinas e pacientes com dor", disse

A Guarda Municipal não apresentou contagem dos manifestantes e fez o controle do trânsito até a chegada de viaturas da Autarquia de Trânsito, Serviço Público e Cidadania (AMC). Os motoristas que vinham pela rua Sobral tiveram que dobrar na contramão à direita e descer até o cruzamento da Costa Barros com Senador Almir Pinto, que ficou congestionado por cerca de uma hora.

"Esperamos quase 90 dias a Prefeitura, buscamos a Câmara e a única resposta que recebemos foi de que não haveria reajuste. Por isso, a indignação, a revolta. Já não bastam as péssimas condições de trabalho, temos de engolir as perdas salariais", citou Cláudio.  A categoria reivindica reajuste salarial de 19%, realização de concurso público, incorporação da Gratificação de Incentivo de Nível Superior (GINS) e regulamentação da carga horária dos servidores do Programa Saúde da família (PSF).

Os profissionais também reclamam da falta de insumos básicos, tantos nos postos de saúde como nos hospitais.  "Falta tudo: luvas, máscara, papel toalha, medicamentos", afirma a dentista Mirlene Matos, 34.  A enfermeira Themis Forte, 40, da Unidade Básica de Saúde (UBS) Galba de Araújo, lembra que a greve impacta diretamente no aumento das filas de espera. "A população fica insatisfeita, mas nossa função não é valorizada e falta material para prevenção. A inflação subiu e nada do nosso salário subir. Não existe condição de trabalho".

O enfermeiro Márcio Oliveira, 42, lotado na UBS Janival de Almeida, também reclama da falta de materiais. "As pessoas vêm para os postos e ainda têm que se deslocar quilômetros para as farmácias". "São medicamentos de hipertensão, diabetes. Quando chega é numa quantidade muito pequena", completa a enfermeira Terezinha Bezerra, 56.

A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Ceará (Senece), Renata Cavalcante, alega ainda que uma grande parte do serviço é prestado por Recibo de Pagamento Avulso (RPA). "Somos concursados, mas a maioria recebe sem nenhuma garantia de férias ou 13º. O que a gente tem denunciado também é o fato de eles inaugurarem esses postos novos sem concursos. Os servidores da ativa pagam os aposentados, sem mais concursados não vai ter quem pague nossa aposentadoria".

Em nota, a assessoria de imprensa da SMS informou "total surpresa diante da mobilização dos dentistas e enfermeiros que atuam na atenção primária". A secretaria disse que esteve reunida com representantes das duas categorias no último dia 16.

O encontro teve a participação da titular da SMS, Socorro Martins, o secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão, Felipe Nothigan e os vereadores Didi Mangueira, Rutmar Xavier e Pastor Reginaldo Rolim. As questões salariais serão discutidas na reunião da Mesa Central de Negociação, e as demais demandas serão negociadas em Mesa Setorial, no dia 7 de março, ainda conforme a SMS.

Saiba mais
Na última segunda, os enfermeiros e dentistas paralisaram as atividades por 24 horas e o atendimento nos postos foi suspenso.O salário inicial dos dentistas e enfermeiros com lotação de 20 horas semanais é de cerca de R$ 1 mil; de 40 horas semanais é de R$ 2 mil, segundo o Sindiodonto. A SMS não repassou os valores oficiais até o fechamento da matéria.

O Sindiodonto estima que em torno de 650 profissionais integrem o PSF, espalhados em 92 postos de saúde da capital. Desses, 350 são enfermeiros e 300 dentistas. A quantidade de profissionais varia em cada posto, conforme o coordenador de saúde bucal do município, José Carlos de Souza.

Cidadão
O enfermeiro Ricardo Costa de Siqueira, 42 anos, da Unidade de Pronto Atendimento César Cals, disse que o problema dos postos é estrutural, pois há paredes com infiltrações e riscos de choques elétricos. “Temos postos reformados que continuam com vazamentos. A Prefeitura não deu nenhuma previsão de reajuste e, infelizmente, a gente tem que tomar atitudes graves. Nenhum profissional quer greve, é uma ação necessária para a Prefeitura atender as demandas. A gente acaba tendo que parar de pensar nas outras famílias para pensar na nossa. Quem sofre é a população, muita gente está deixando de ser atendida".

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