cidades 16/01/2019 - 14h15

Para consolidar a mobilidade urbana em Fortaleza

Nos últimos anos, houve avanço nas políticas de mobilidade urbana na Capital, mas ainda existem pontos a serem melhorados. Especialistas apontam fatores para a consolidação dessas iniciativas
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Gabriela Custódio gabrielacustodio@opovo.com.br

Gustavo Simões
Fortaleza está passando por uma mudança de paradigma, e encarando a mobilidade urbana como uma realidade que vai além do fluxo de veículos, aponta representante da Prefeitura.
Com 255,1 quilômetros de malha cicloviária, entre ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota e passeio compartilhado, Fortaleza tem se destacado quando se fala em mobilidade urbana. Ações voltadas para essa área também incluem implantação de binários, faixas exclusivas para ônibus, travessias elevadas para pedestres, faixas de pedestre em diagonal, sistemas de bicicletas compartilhadas e construção de linhas de metrô. Porém, a expansão das iniciativas de mobilidade para toda a Cidade é um desafio para o poder público municipal.

Yuri Pezeta, desenvolvedor web e membro do coletivo Direitos Urbanos Fortaleza, argumenta que a Prefeitura segue diretrizes corretas em relação à mobilidade urbana. Ele, contudo, pondera que as ações realizadas pela equipe do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (Paitt), ligado à Secretaria de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza (SCSP), não chegam a todos os bairros. “São coisas pontuais que às vezes têm muita mídia, mas que não refletem a maioria da Cidade.”

Secretário-executivo da SCSP e coordenador do Paitt, Luiz Alberto Sabóia reconhece que expandir as ações é um desafio para a Prefeitura. “Dado os desafios de recursos que uma cidade como Fortaleza sempre tem, temos optado por ser muito focados no diagnóstico para priorizar as áreas que começam a receber e depois expandir isso como política pública”, afirma. Os locais onde as intervenções acontecem inicialmente são definidos com base em dados como atração de pessoas, ocorrência de acidentes e saturação do trânsito, além do tipo de via, explica o secretário.

Sabóia pondera que Fortaleza está passando por uma mudança de paradigma e encarando a mobilidade urbana como uma realidade que vai além do que fluxo de veículos. A saúde pública, defende o secretário, é um dos fatores que podem ser impactados positivamente. “Hoje, olhamos para mobilidade como um fator que tem relação fortíssima com a saúde pública. Pensamos exatamente em como ela pode ajudar, na ponta, a saúde do município”, afirma.

Sabóia lista como expoentes da SCSP segurança e humanização do trânsito; priorização do transporte público e proteção e estímulo aos modos de transporte sustentáveis. A mudança de posicionamento, porém, não exclui obras para melhoria do fluxo de carros, aponta o titular da pasta. O investimento em túneis e viadutos, entretanto, é uma crítica da sociedade civil organizada. Diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), o artista visual Daniel Neves destaca como positivos o Paitt, mas critica a realização de obras que não têm como prioridade o deslocamento ativo. “Ainda vemos muitos túneis, viadutos e obras que, nas concepções de mobilidade urbana mais atuais, são bem defasadas.”

Apesar de reconhecer “que, como elemento de mobilidade, o automóvel individual não ajuda”, Sabóia afirma que os usuários de carros e motos também devem ter suas demandas atendidas.

Camila de Almeida
Uma medida para que o deslocamento torne-se mais rápido é o aumento da distância entre paradas de ônibus, acompanhado de calçadas acessíveis a todos os pedestres, sugere professor

MELHORIAS

Reconhecendo a atuação da Prefeitura em prol do transporte público, o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, aponta a necessidade de aprimoramento. Exemplos citados por ele são o funcionamento do metrô e o BRT da avenida Bezerra de Menezes. Segundo Azevedo, a melhor eficiência do equipamento está relacionada à exclusividade da via e ao embarque e desembarque rápidos.

“A ideia de um BRT é fazer um sistema parecido com um metrô, mas gastando menos. O metrô tem a linha para ele, então vamos fazer uma faixa exclusiva para esse ônibus. As faixas exclusivas para o BRT não são assim tão exclusivas. Tem linhas de todos os tipos, ônibus de todos os tamanhos. E, quando chega à estação, se tiver muita gente para entrar, vai ter que parar mais porque não consegue todo mundo entrar”, explica.

Uma medida para que o deslocamento torne-se mais rápido, de acordo com o professor, é o aumento da distância entre paradas de ônibus, acompanhado de calçadas acessíveis a todos os pedestres. Para a consolidação de políticas públicas de mobilidade urbana, Neves sugere a criação de um conselho para que a sociedade civil possa debater o tema. “Em especial o transporte ativo, bicicleta e a pé, e que englobe também questões como acessibilidade, calçadas, arborização.” Além disso, Neves destaca a importância de estabelecer como permanentes iniciativas como o Paitt, que, de acordo com Sabóia, já é definitivo.

SEGURANÇA NO TRÂNSITO

No quesito amplitude da malha cicloviária, Fortaleza se posiciona em quarto lugar em ranking nacional, ficando atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Para Neves, porém, os números não são a questão mais importante: ele aponta que localmente faltam, por exemplo, mais Áreas de Trânsito Calmo, que têm velocidade máxima de 30 km/h e intervenções como travessia elevada e prolongamento de calçada.

“Por certo período, até nós do movimento cicloativista achávamos importante ter uma malha cicloviária grande. Lógico que queremos mais ciclofaixas, uma malha cicloviária que seja mais integrada, mais forte, mas não acreditamos que isso seja a coisa mais importante, porque, quando se fala de malha cicloviária, acaba reduzindo toda essa questão de segurança viária a números”, argumenta.

Durante 2017, aconteceram 20.309 acidentes com mortes, feridos ou perdas materiais, segundo o relatório Anual de Segurança Viária de Fortaleza de 2017, lançado em setembro de 2018 — último disponível sobre o assunto. O número representa queda de 26% em relação aos 27.492 casos registrados em 2016. Sabóia explica que, para diminuir os índices de acidentes e mortes, a Prefeitura atua em quatro pilares: fiscalização, comunicação, desenho urbano e dados.

Entre as ações, estão iniciativas voltadas para a educação, que podem ter objetivos em curto prazo — como fiscalização focada em problemas tratados em campanhas de conscientização — e em longo prazo, como o projeto Caminhos da Escola, lançado pela Prefeitura em dezembro de 2018. A iniciativa visa à implantação de mini Áreas de Trânsito Calmo no entorno de escolas municipais, iniciando com pelo menos seis instituições. “Além disso, estamos em diálogo com a Secretaria Municipal de Educação para introduzir no currículo escolar o tema segurança viária em várias disciplinas, de forma continuada”, complementa.

PROBLEMA A SER PREVENIDO

De acordo com Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), a demanda por deslocamento acontece pelo crescimento da cidade e pela concentração, em uma área de pessoas de baixa renda, que prestam serviços em outra região com maior densidade de pessoas de alta renda. “Seria bom se todo mundo morasse no mesmo quarteirão, tanto o estudante quanto o professor, tanto o freguês do restaurante quanto o garçom. Mas não é assim. [...] Com esse deslocamento, você está chamando necessidades de transportes que cada vez custam mais caro, porque às vezes só um sistema de ônibus normal não resolve, precisa de um BRT, [depois] nem o BRT está resolvendo, precisa de um metrô.”

Para o professor, é necessário que, em longo prazo, haja controle da ocupação da Cidade. “O que é um grande problema, porque quanto mais você pode ocupar um determinado local na cidade, mais valorizado ele é, mais valioso é o terreno e mais valioso é o prédio que está lá. Então, é difícil porque acaba mexendo com interesses de muitas pessoas. [...] Mas, se deixar por conta do mercado, daqui a pouco a Cidade é inabitável, não roda mais, vai estar toda congestionada e o terreno vai diminuir de preço de qualquer maneira.”

OUTRA OPÇÃO DE DESLOCAMENTO

Mais uma opção de transporte coletivo, o metrô também está incluso na mobilidade urbana. Em Fortaleza, o equipamento conta com as linhas Sul e Oeste e o VLT Parangaba-Mucuripe. As obras da linha Leste, que ligará o Papicu ao Centro, estavam paradas desde 2015 e a ordem de serviço para sua retomada foi dada no último mês de novembro. Com 24,1 quilômetros de extensão, a linha Sul interliga Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba enquanto a Oeste interliga Fortaleza e Caucaia e tem 19,5 quilômetros de extensão. O VLT Parangaba-Mucuripe, que está operando de forma assistida (sem cobrança de tarifa), integra-se ao sistema de ônibus da Prefeitura e às linhas do metrô. São previstos 13,2 quilômetros de extensão.

Para Yuri Pezeta, membro do coletivo Direitos Urbanos Fortaleza, apesar de ser um bom transporte, o metrô é uma opção cara. “Acho que, com o orçamento mais baixo, conseguimos ter um benefício bom, não ao nível do metrô, utilizando o ônibus, fazendo corredores de ônibus.” Ele argumenta, porém, que essa iniciativa depende de poder político, uma vez que é retirado espaço dos carros para as faixas exclusivas. “Acredito que com ônibus modulado a gente consiga trazer muitas pessoas das áreas metropolitanas para o centro, que daria para suprir a demanda e ajudaria a diminuir o trânsito também.”

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