Em um cenário de queda constante do Produto Interno Bruno (PIB) com a crise iniciada em 2014, a recuperação da economia brasileira começa a se solidificar em 2018. Acompanhada de desemprego, a crise forçou profissionais a procurarem alternativas para que a perda de renda não prejudicasse o cotidiano. Dados mostram que, em relação aos anos anteriores, a criação de vagas no Ceará vem crescendo neste ano. Especialistas avaliam que carreiras ligadas aos setores de tecnologia, marketing e finanças tendem a se desenvolver mais nos próximos anos no mercado local.
Após uma retração de dois anos consecutivos em 2015 e em 2016, cenário repetido na história nacional apenas no início dos anos 1930, os setores produtivos começaram a apresentar melhora em 2017. Acompanhando o período, o desemprego passou, em 2018, da casa dos 13 milhões de brasileiros.
Em relatório disponibilizado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE), dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram que o número de admissões vem sendo quase igual ao de desligamentos em Fortaleza. O cálculo da geração de empregos é realizado a partir do valor subtraído de um aspecto pelo outro. Caso seja positivo, atesta-se a geração de empregos.
No período entre janeiro e junho de 2018, o número de admitidos em Fortaleza foi de 110.434, enquanto o de desligados ficou em 109.939. Responsável pela análise dos dados, Priscilla Borges, assistente social da célula de emprego, renda e gestão dos Sines Municipais, conta que Fortaleza é a sexta capital que mais admite no Brasil, e a primeira no Nordeste.
Vagas no estado
Em relação ao cenário cearense, Erle Mesquita, analista de mercado de trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), diz que o Estado não difere do contexto brasileiro. Dessa forma, o setor de serviços, que engloba segmentos de saúde, finanças, engenharia, entre outros, concentra o maior número de vagas “independente do período de crise”. “O que vem despontando tanto localmente quanto nacionalmente é a administração de condomínios. Por conta da concentração econômica, a gente tem visto um processo de verticalização muito grande, mas principalmente [empregos]
ligados à administração de imóveis."
No acumulado até maio de 2018, 8.168 vagas foram geradas no Ceará. Somente o setor de serviços concentrou 6.608 destas vagas. O maior número de contratações se encontra dividido entre a área de administração de imóveis (3.132) e ensino (1.996). O setor industrial também apresentou saldo positivo, com 3.674 empregos gerados. Destes, 3.289 são representados pela indústria de calçados. A soma final difere por conta de outras variáveis, como o setor de agropecuária, que perdeu 1.427 postos de trabalho neste ano.
Em análise, Mesquita relata que a modernização de alguns empregos provoca mudanças no número de vagas no mercado. “Nós temos aí várias ocupações que muitas vezes são
transformadas por conta dos aplicativos. A área de finanças tem destaque [na economia], mas temos visto que empresas da área bancária enxugaram seus quadros. Essa dinâmica pode mudar muito rapidamente”, ressalta.
Próximas apostas
Acerca das perspectivas do mercado, Guilherme Said, cofundador e diretor acadêmico da EASE Brasil, aponta que profissionais de logística tendem a ser cada vez mais demandados, em parte pelas necessidades da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). “Gestor de logística, gerente de logística, analistas para essa área. Porque hoje a gente tem muito curso de Administração, mas essas pessoas não chegam preparadas. Existe muita teoria. O modelo tradicional de educação puxa muito para teoria e pesquisa e, no mercado, esses administradores não conseguem desenvolver algo que as empresas precisam na prática”, diz. Sobre a área de marketing, o especialista aponta funções como analista de trade marketing e analistas de inteligência de mercado.
Sobre o investimento das próprias empresas na melhoria dos colaboradores, Said conta que o empresariado precisa desenvolver mais dessa cultura no Estado. “O investimento em capacitação aqui ainda é baixo, não treinamos muito o profissional. No Ceará, o empresário vê a capacitação, o treinamento, como um custo. Não somos referência nisso.”
Para Rafaelle Sobreira, psicóloga, especialista em Recursos Humanos e membro da Diretoria do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) Ceará, a área de finanças continua a crescer no Estado, mas com foco nos conselheiros. Esses profissionais geralmente já possuem uma carreira consolidada na área. “Finanças sempre estará em alta. O que mudou recentemente foi o fato do executivo de finanças começar a atuar também na área comercial da empresa, participando de reuniões com clientes, por exemplo.”