Foto: Camila de Almeida
Fernando Siqueira é professor de sistemas de informação e de ciências de dados e gerente e executivo do setor de Business Intelligence do BNB
Trabalhar com ciência de dados, aconselhar diretores, cuidar da saúde dos mais velhos ou ainda fazer marmitas. Áreas de atuação díspares ligadas por um mesmo contexto: o futuro. As carreiras mudam com a tecnologia e as demandas da sociedade, mas é possível antecipar tendências a partir do comportamento atual do mercado. Para isso, consultorias especializadas gerenciam números e desenham o novo. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mapeou, com base em taxas de câmbio, juros e inflação, algumas das atividades mais favoráveis este ano. A retomada da economia sinaliza consumo de alimentação fora de casa, preocupação com a saúde dos idosos e oferta de serviços pessoais estéticos.
"Todas as atividades voltadas para o atendimento das demandas do mercado interno, em especial o consumo básico das famílias, nas áreas de alimentos, vestuário e moradia vão apresentar uma recuperação, ainda que modesta. Mas é preciso estar atento que ainda não está garantido que a recuperação seguirá em 2019", explica o analista de Gestão Estratégica e economista do Sebrae Marco Aurélio Bedê. O processo de aumento da idade média da população, segundo Bedê, deve manter no próximo ano a aposta em carreiras voltadas para o atendimento das necessidades internas no campo da alimentação, saúde e educação.
No movimento de serviços relacionados à alimentação, a nutricionista Thicyane Borges, 35, criou a própria marca de marmitas saudáveis, chamada de Soul Fit Thicy Borges, em 2017. Ela investiu cerca de R$ 5 mil para montar em casa estrutura necessária ao preparo das marmitas congeladas com alimentos saudáveis. Hoje, trabalha com dois tamanhos de marmitas, vendidas a R$ 12 e R$ 17, mas também faz pacotes para 30 dias. No cardápio, salgados, tortinhas, sopas, tomates recheados, lasanha de berinjela, arroz integral.
"Eu sempre gostei muito de cozinhar, até antes mesmo de começar a faculdade de Nutrição. Meus professores sempre diziam: 'Thicy, você tem que abrir um negócio porque cozinha muito bem'. Formei-me e comecei a atender."
Com o mercado ruim para a clínica que possuía, Thicyane deu mais um passo. "Comecei a fazer salgados fits, inventei a massa", relata. Antes de iniciar as vendas, ela adquiriu experiência em congelados na cozinha de Danielle Lodetti, com encomendas para os Mercadinhos São Luiz e o evento Costume Saudável. “Desde então, faço aqui em casa e tem dias que eu trabalho 14 horas, mas já estou pensando de no ano que vem abrir um espaço”, acrescenta Thicyane.
Em paralelo, cresce a demanda por profissionais com capacidade de liderança, mas também de ler dados, com foco no conceito de compliance (normas estabelecidas para negócios e atividades das instituições). A Michael Page, empresa de recrutamento, identifica 21 profissões em alta com perspectivas de maior retorno no futuro. O levantamento é resultado de pesquisa com profissionais de funções diversas, desde analistas e técnicos até presidentes e gerentes de alto escalão. Rodolfo Pagano, gerente da Michael Page para o mercado do Nordeste, informa a contribuição de mais de duas mil pessoas na formatação do estudo. Entre as carreiras, projetam-se as de cientista de dados, gerente de expansão (TI) e analista de desenvolvimento humano organizacional. "Após momento de redução de custos e recursos, as companhias enxergam a necessidade de fortalecer seu time para a retomada de mercado. Para isso, há a necessidade de estruturação e amadurecimento cultural para atração e retenção de talentos", avalia.
O professor do Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7) e gerente e executivo do setor de Business Intelligence do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Fernando Siqueira, resgata mudanças provocadas pelas tecnologias digitais nos últimos cinco anos para validar o destaque da profissão de cientista de dados. "Transformações em vários pontos, no comportamento do consumidor, na concorrência entre as empresas, nos canais de comunicação, na mídia, nos modelos de negócios, entre outros. E é nesse novo cenário digital que as empresas identificaram uma oportunidade para fazer a diferença em seus negócios, com o uso dos dados", pontua.
Qual o movimento da educação?
A informatização fomenta a procura de cursos e graduações ligados à tecnologia e às atividades econômicas. Para Marco Aurélio Bedê, do Sebrae, é de se esperar o aumento da demanda por softwares e tudo relacionado à transformação digital da sociedade. Contudo, Pagano, que argumenta que o mercado do Nordeste está apostando muito em profissionais de Marketing Digital, acredita que não se deve, necessariamente, pensar em cursos associados ao futuro de imediato. "O processo é o contrário. Primeiro o mercado e as pessoas de modo geral criam as profissões e começam a experimentá-las. Só depois, pela ordem natural das coisas, os cursos, as universidades, enfim, criam a teoria para melhor formar essas pessoas", explica.
Nesse sentido, cursos de Big Data e Data Science estão sendo criados com grande velocidade, de acordo com o CEO da Plugar Data & Intelligence, Fábio Rios. "Com essa corrida incansável pela redução de custos, automatizar funções humanas será um direcionamento sem volta. Cientistas de dados possuem capacidade de apoiar na análise de negócios e propor processos de automatização via inteligência artificial, o que inclusive nos leva a outras competências correlatas aos cientistas de dados: programadores e especialistas em criação de algoritmos e implementação de inteligência artificial."
Enquanto as competências de cientistas de dados ainda não fazem parte daquelas dos profissionais de todas as áreas, eles devem ser cada vez mais requisitados. Rios diz que há movimentos em torno da criação de escritórios de dados nas empresas, assim como ocorreu há 15 anos com os escritórios de projetos. "Em função disso, podem nascer estruturas cada vez mais robustas com demanda por diversos cargos relacionados a dados. Os próprios CDOs (Chief Data Officer) já são realidade em várias empresas", completa.
Bate-Pronto
Fernando Siqueira, professor dos cursos de graduação em Sistemas de Informação e de especialização em Ciência de Dados, ambos da UNI7, nos fala sobre o sucesso do cientista de dados.
Por que cientista de dados pode ser considerada uma profissão do futuro?
As descobertas obtidas no imenso volume de dados (Big Data) proporciona aos líderes das organizações a realização de disrupturas de seus modelos de negócio. Há vários cases que mostram o impacto da ciência de dados. Exemplos de empresas de logísticas que coletam informações, a partir de vários sensores, dados de pneus da frota, de consumo de combustível, de trajetos realizados: o cruzamento de todos esses dados consegue definir uma melhor abordagem para manutenção da frota, rodízio de pneus e outros pontos que aumentam o uso da frota e diminui a sua indisponibilidade, sem contar com a redução de custos. Enfim, o campo de atuação é vasto e as empresas que já perceberam o potencial da ciência de dados e os impactos positivos que proporcionam nos resultados dos seus negócios têm acrescentado na sua estrutura organizacional equipes e até mesmo unidades de Data Science (Ciências de Dados) para atuar de forma sistemática na organização.
O que é preciso para ser um cientista de dados?
O cientista de dados é um profissional multidisciplinar, com conhecimento em ciência da computação, matemática, estatística e muitas vezes com entendimento do segmento de negócio dos dados. Seu conhecimento permite analisar um grande volume de dados coletados e identificar nessa imensidão de dados insights, obtidos através da aplicação de algoritmos matemáticos, estatísticos e de inteligência artificial, que proporcionem aos gestores das empresas tomar ações que façam a diferença no mercado em que atuam. Pode-se destacar que um cientista de dados precisa obter a competência para conceber, especificar, analisar, desenvolver, adaptar, manter e evoluir soluções com as modernas tecnologias de dados, voltadas às necessidades de indústrias ou empresas de diversos segmentos, entre outras características.
Atualmente, como está o mercado para esta área?
Em uma pesquisa recente do Gartner, submetida a quase 3.000 CIOs (Chiefs Information Officer), para identificar que tecnologias podem ajudar as empresas na diferenciação dos seus negócios frente aos seus concorrentes, BI/Analytics ficou posicionada em 1º lugar, com 26% no ranking das dez mais citadas. Na sequência Marketing Digital com 14%, Cloud com 10%, Aplicações Móveis com 6% e as seis restantes em média de 5%.
Áreas Promissoras
Alimentos e bebidas: lanchonetes, casas de chá, de sucos, comércio de alimentos, fornecimento de alimentos preparados, bares, restaurantes, comércio de bebidas e fabricação de produtos de padaria
e confeitaria;
Vestuário e calçados: confecção de roupas sob medida, comércio de vestuário e calçados;
Construção: pequenas reformas, instalação e manutenção elétrica, serralheria, comércio de material de construção e serviços de pintura;
Saúde: venda de planos de previdência complementar e de saúde, atividades de condicionamento físico, serviço de diagnóstico por imagem, atividades de fisioterapia, atividade médica ambulatorial, ensino de esportes, instituições para idosos e serviços veterinários;
Educação: serviços de educação infantil, treinamento profissional/gerencial, transporte escolar e ensino
de esportes;
Serviços pessoais: cabeleireiros, manicure e pedicure, atividades de estética e beleza e comércio
de cosméticos;
Serviços especializados: transporte de carga, serviço de táxi, lavagem/lubrificação/polimento de veículos, lanternagem e pintura de veículos, serviço de entrega rápida, produção de fotografia e serviços
de contabilidade;
Vendas: marketing direto, promoção de vendas, representação comercial e fabricação de letreiros;
Comunicação/Computação: serviço de comunicação/multimídia, desenvolvimento de softwares, portais/provedores de conteúdo e outros serviços
de internet;
Informática: comércio de equipamentos
de informática;
Entretenimento: casas de festas e eventos, organização de feiras, congressos, exposições e festas.
Lojas de conveniência