ENTREVISTA 05/08/2018 - 07h00

"Somos privadas de exercer a nossa liberdade"

Em bate-papo com as Revistas O POVO, a cantora paraense fala se seu mais novo trabalho e assuntos ligados ao feminismo
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Kelly Hekally kellyhekally@opovo.com.br
Ganzaro/Capa Image/Divulgação
A cantora celebrou seus 40 anos de idade no último dia 1

Gaby Amarantos foi assunto nos primeiros meses de 2018: a paraense passou a integrar o comando do programa Saia Justa, do canal GNT, protagonizou vídeo da Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo o fim da violência contra as mulheres negras e chamou atenção nas redes sociais depois de criticar Silvio Santos.

"Sério que vocês acham Silvio Santos ídolo? O cara fez a gente crescer vendo-o ridicularizar negros, mulheres, gays, plus e ganhar mídia com isso. Cês tão mal de ícone viu, não dá mais pra normalizar isso!", escreveu no Twitter em junho último repudiando declarações do apresentador direcionadas à cantora Preta Gil. A artista que celebrou os 40 anos de idade na última quarta-feira, 1º, bateu um papo com as Revistas O POVO sobre preconceito contra a mulher e mudanças que julga necessárias ao público feminino.

Você está no Saia Justa desde março deste ano. Qual a sua avaliação de seus primeiros primeiros meses de programa?
O Saia Justa é um lugar muito importante para mim como mulher, mulher negra, mulher do Norte. Estou recebendo muito feedback das pessoas, principalmente de mulheres negras. Eu nunca tinha sido convidada para estar em eventos contando minhas experiências e falando sob a ótica da mulher negra. É importante estar ali. É um lugar que estou muito feliz de poder estar ocupando.

Desde mais nova, você opta por um visual, digamos, mais “chamativo”. Esse perfil já seria uma espécie de reafirmação?
Quando eu era criança, naquela fase da infância em que muitas crianças ainda não tem essas neuras sociais impostas, eu era muito livre, muito colorida. Na minha adolescência, passei por uma fase de negação de tudo isso, porque fui uma adolescente muito corpulenta e ouvia dizer que mulheres acima do peso não podiam usar roupa colorida. As revistas só me diziam ‘não, não e não’. Teve uma fase entre adolescência e início da vida adulta em que meu guarda-roupa era todo preto. Depois, entendi o poder de me libertar e de viver o fato de ser uma pessoa muito colorida. Acho que meu visual tem muito a ver com isso.

Como chega a Gaby Amarantos aos 40 anos?
Esse lance de fazer 40 anos é muito mais uma parada cronológica. Acho que hoje a mulher de 40 é diferente. Fico vendo fotos das minhas avós e acompanhando as avós de hoje. As avós de hoje não são mais como as de antigamente. A minha mão quando tinha 40 anos parecia que já tinha 60. Acho que tem um ciclo que traz mais maturidade. Estou muito feliz de chegar aos 40 anos. De saber que continuo gata, empoderando com beleza. Não quero ser uma menina de 20. Sou uma mulher de 40 muito bem resolvida e feliz.

Seu mais novo trabalho, "Sou + Eu", evidencia a sensualidade da mulher. Embora tenha havido muitos avanços nas discussões próprias à mulher, ainda existem polarizações, inclusive em meio ao público feminino, sobre a ligação entre o empoderamento feminino e a maneira como a mulher expõe seu corpo. Como você enxerga essa discussão?
Eu acho que o grande problema dessa questão é a forma como essa sociedade vê essa mulher, julga essa mulher. Essa ideia de que a mulher que usa sua sensualidade e sexualidade para poder ser livre ainda ser julgada como vulgar é tão errada quanto a de que o homem pode apropriar-se de uma mulher porque ele está usando roupa curta, rebolando na balada. Acho que a discussão do feminismo, muito acalorada no Brasil, traz questões muito importantes, como a da liberdade sexual, que foi o que eu quis mostrar no meu clipe. Sou uma pessoa que frequenta balada e nela vejo a forma como muitos homens tratam as mulheres. O que me motivou a colocar essa mulher com essa liberdade sexual e não só no sentido da sensualidade é que temos que entender que essa mulher pode querer ficar com vários caras, botar a virilha no jogo (sic) e ninguém tem que julgá-la por isso, passar a mão nela por isso, abusar dela por isso, estuprá-la por isso. Somos privadas de exercer a nossa liberdade para não despertar esse sentimento masculino de agressividade. É uma parada meio pré-histórica. Essa mulher hipersexualizada pode ser assim porque é uma opção dela, assim como ela também pode ser inteligente, ter duas faculdades. Pode ser juíza, promotora, médica, gari, o que ela quiser. Eu tow muito orgulhosa de ter feito esse trabalho.

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