O POVO CARIRI
23/07/2018 - 18h00
Conheça iniciativas tecnológicas em Juazeiro do Norte
Para benefício da comunidade local e de outras localidades, iniciativas tecnológicas em Juazeiro buscam atrair investidores e promover troca de conhecimento entre atores da região
Hamlet Oliveira
hamlet.oliveira@opovo.com.br
Foto: Camila de Almeida/O POVO
Uma das criações surgidas a partir da iniciativa, são óculos feitos por impressoras 3D para auxiliar deficientes visuais a se locomoverem
Entre os horários de aula e atividades complementares, estudantes do colégio Paraíso, em Juazeiro do Norte, produzem iniciativas para colocar a região do Cariri em evidência e levar benefícios para a população. Em uma sala voltada para o desenvolvimento da robótica e inovação, alunos da instituição têm acesso a ferramentas para criação de projetos, sempre com forte viés tecnológico.
Responsável por organizar os estudantes, o professor Jorge Raniere, mestre em Ciência da Computação, explica que o projeto começou em 2016 e surgiu a partir de uma apresentação dele para a direção do colégio. O que começou como aulas de robótica logo se tornou um espaço maker, no qual diversas vertentes da inovação podem ser trabalhadas. O aprendizado dos jovens utiliza o sistema STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em tradução da sigla para o português), como forma de interligar linhas de conhecimento.
Uma das criações surgidas a partir da iniciativa, são óculos feitos por impressoras 3D para auxiliar deficientes visuais a se locomoverem. Atualmente, o objeto já ganhou uma segunda versão e vem sendo produzido por três alunos da escola. O equipamento funciona por meio de sensores instalados nas laterais. Quando um obstáculo chega a 50 cm de proximidade do usuário, uma vibração avisa que é preciso uma mudança de rota. Uma versão 3.0 já está em desenvolvimento.
Lucas Simião, de 15 anos, é um dos realizadores do projeto e estudante do 1º ano do colégio Paraíso. Ele explica que entre as inovações que pretendem aplicar no futuro está o uso de pulseiras em cada braço, de forma a facilitar a sensibilidade do usuário às vibrações emitidas mediante a detecção de obstáculos. O foco, explica, é conceber um produto que seja acessível ao público. “Uma startup pode financiar o projeto e disponibilizá-lo para a população. Na internet existem vários projetos relacionados”, diz, falando sobre trabalhos que podem ser acessados de forma gratuita pelo público, desde que possuam uma impressora 3D para imprimir o produto.
“Quando Lucas chegou com a ideia, a primeira pergunta que eu fiz foi: ‘Você já viu se existe algo semelhante?’ Inovação é trazer um projeto que já existe e torná-lo mais simples, mais acessível. Porque você copiar outros é copiar, mas se pegar a ideia e transformar para uma forma simples, você está inovando”, explica o professor Raniere.
Outro integrante do projeto, Jonas Duarte, de 13 anos e aluno do 8º ano, explica que o processamento da tecnologia ocorre por meio da plataforma arduino, um equipamento de baixo custo, mas que permite que diversas programações sejam realizadas de forma simples.
“Assim que ele é colocado no rosto, já começa a funcionar. A gente usa uma bateria recarregável. Ele tem autonomia de duas horas e precisa de meia hora para recarregar”, diz o estudante.
Uma das barreiras encontradas é a de popularizar o conceito. Para isso, pretendem apresentá-lo no projeto Corredores Digitais, uma iniciativa do Governo do Estado do Cerará em parceria com a Microsoft. A expectativa é de que a multinacional se interesse pelos óculos e auxilie no financiamento.
Muito mais que brinquedos
Outra atividade disponível no espaço é um tapete da empresa Lego. Fazendo referência a uma pequena cidade, o equipamento permite o uso e programação de robôs, produzidos pela própria multinacional, para superarem obstáculos. Fica a cargo dos alunos utilizarem os materiais para cumprir objetivos. Em 2017, alunos do colégio Paraíso participaram da First Lego League, que premia quem conseguir realizar o maior número de tarefas. Uma nova edição ocorrerá neste ano e Raniere garante uma nova participação da escola. “Todo ano tem um tema diferente. Ano passado, foi hydrodynamics (hidrodinâmica) e, este ano, é sobre space travels (viagens espaciais). Vamos receber outro tapete, outro conjunto. Deixamos [o equipamento] montado para que os alunos que entram na robótica entendam qual é o princípio da First”, diz Raniere.
Juazeiro inteligente
Presente em países como Coréia do Sul, Dinamarca e Estados Unidos, a iniciativa de cidades inteligentes, chamadas smart cities, pode começar a ser implantada em Juazeiro do Norte ainda este ano. O projeto é de autoria da prefeitura de Juazeiro, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (Sedeci). O primeiro passo já foi dado, com a instalação de um smart place na Praça do Giradouro, inaugurado em 25 de maio.
De acordo com Michel Araújo, titular da Sedeci, a iniciativa se classifica como uma parceria público-privada (PPP), na qual o município entra com o projeto e uma empresa ficará responsável pela gestão. O foco da ação será na área de iluminação pública de Juazeiro do Norte. Na Praça do Giradouro, onde funciona o projeto piloto, todas as lâmpadas foram trocadas por outras de led. No futuro, já na implantação da smart city, com o uso de sensores, as lâmpadas dos postes diminuirão a intensidade da iluminação para 30%, caso não haja ninguém por perto. Quando a presença de uma pessoa for detectada, a potência volta para 100%. A medida tanto auxilia na redução de custos de energia elétrica como transmite uma sensação de segurança para quem passa. A intenção é de que todo o sistema seja aplicado no município até junho de 2020.
Outras iniciativas também já foram aplicadas na Praça do Giradouro. Um beacon transmissor de dados é capaz de enviar mensagens importantes para a população. “Ele se comunica com seu celular. Então, posso fazer uma campanha de vacinação com a Secretaria da Saúde e mandar para o celular o layout [da campanha]. Quem passar em um raio de 200 metros recebe a mensagem”, explica Araújo. Para quem tem animal de estimação, um espaço pet friendly. Com água disponível para os pets, o líquido é esvaziado após o consumo, e reintroduzido à medida que recebe novos visitantes, evitando o acúmulo de água parada.
Acerca do desenvolvimento social da região, o secretário explica que o objetivo final é levar melhoria de vida para a população. Para isso, a secretaria vem firmando parcerias para a promoção de eventos de inovação em Juazeiro. Entre as ações, ele cita a realização do TEDx (evento mundial de palestras e inovação), realizado ano passado no morro do Horto, e o Elevator Pitch, no qual integrantes de startups do município precisam divulgar seus projetos em apenas 41 segundos, o tempo de viagem de um elevador do térreo à cobertura. “Ano passado realizamos 23 eventos, sendo nove próprios da secretaria, e 14 em parcerias. Esses somente na área de inovação e empreendedorismo. Foram 1.978 pessoas impactadas”, relata.
O secretário explica que o processo licitatório para o projeto da smart city deve começar em agosto. Caso todo o trâmite siga dentro do esperado, a iniciativa será implantada em meados de dezembro próximo.
Espaço para crescimento
Por meio da união da Sedeci, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL e CDL Jovem) e a Universidade Federal do Cariri (UFCA), a criação do Centro Regional de Inovação e Empreendedorismo (CRIE) será uma iniciativa para elevar o fomento de tecnologia e de desenvolvimento na região. O empreendimento tem por objetivo ser um espaço para o qual empresas e startups levarão projetos a serem desenvolvidos.
O CRIE funcionará de forma a garantir capacitação e consultoria para empreendedores locais, como incubadora, aceleradora e coworking, relata Michel Araújo. A intenção é de que qualquer projeto, desde que se encaixe nas diretrizes de tecnologia e inovação, possa ser levado para desenvolvimento.
O espaço será construído no Cariri Garden Shopping, mas ainda faltam recursos para que possa ser colocado em prática. “O CRIE será o primeiro centro do Norte-Nordeste, que temos conhecimento, que liga as três esferas: a pública, a privada e a acadêmica (...) Somos um oásis na questão turística, então, por que não ser um oásis na questão da tecnologia? O centro vem justamente para fortalecer essa ideia”, fala Douglas Feitosa, empresário e coordenador da CDL Jovem Ceará.
Pró-reitor da UFCA, Roberto Ramos conta que o CRIE servirá como forma de receber pessoas com iniciativas inovadoras no Cariri. “A universidade trabalha muito com inovação, tecnologia e gestão e a prefeitura tem se envolvido muito com isso, então a demanda surgiu a partir daí. Isso tem mudado um pouco a tendência do lugar [Cariri], que era baseado na romaria, artesanato.”
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