curso de inglês 27/06/2018 - 07h00

Projeto brasileiro empodera mulheres norte-americanas

Idealizada por brasileiros que moram nos Estados Unidos, a plataforma Soulphia ensina inglês a partir de aulas ministradas por mulheres negras estadunidenses em situação de rua ou moradoras de casas de acolhimento
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Kelly Hekally kellyhekally@opovo.com.br
Foto: Divulgação
Na imagem, as tutoras, como são chamadas as professoras do projeto. À esquerda, o aluno Paulo Leandro; à direita, o cofundador Felipe Marinho

Profissionalização do terceiro setor e ações sociais realizadas por instituições filantrópicas, ambas visíveis aos olhos da sociedade nas últimas décadas, suavizam, ainda que lentamente, o cenário de desigualdade em diversos países do mundo. Há, também, iniciativas protagonizadas por mãos que argumentam ser importante, enquanto ser humano, dar suas contribuições para uma oportunidade de vida mais digna a todos. Assim, elas lançam mão de ideias que podem ir de um simples lanche oferecido a pessoas em situação de vulnerabilidade à capacitação profissional desse grupo social. E é desta segunda forma que começa a história da dupla Tiago Noel Souza, 31, e Felipe Marinho, 40.

Respectivamente paulistano e potiguar, Souza e Marinho residem nos Estados Unidos desde 2017. Após meses morando no país e trabalhando em projetos sociais diferentes, os brasileiros conheceram-se e resolveram apostar em um projeto não tão convencional: o Soulphia, plataforma online que oferece aulas de inglês ministradas por mulheres negras norte-americanas em situação de rua ou moradoras de casas de acolhimento. O objetivo, pontua Souza, é, mais que proporcionar trabalho remunerado para as tutoras, fazer com que elas descobrissem que havia potenciais em si e que eles poderiam ser explorados de maneira construtiva.

"Nossa ideia era ajudar moradores de rua. Aqui nos Estados Unidos são mais de 100 mil. Trabalhávamos em projetos sociais, mas percebíamos que havia uma lacuna na inserção de mulheres. Começamos a ir a abrigos femininos e ajudar assistencialmente. Porém, vimos que isso não as ajudava a mudar de vida. Era algo muito pontual”, descreve Souza. Ele explica que depois da constatação no segundo semestre do ano passado, os dois foram em busca de apoio local e conseguiram o da Universidade Columbia, em Nova York, responsável pela metodologia que meses depois as 25 mulheres beneficiadas pelo Soulphia passaram a utilizar no ensino virtual com os alunos. Atualmente, são cerca de 300 estudantes, divididos em cinco países: Argentina, Brasil, China, Colômbia e Estados Unidos.

"Pensamos: 'Elas sabem falar bem inglês. Então, por que não utilizar essa habilidade e treiná-las?' Iniciamos no final de 2017 um projeto piloto e de lá pra cá já foram cerca de 1.500 aulas”, diz Souza, acrescentando que a iniciativa teve também o apoio da Universidade Country College of Moriss, em Nova Jersey. O coidealizador conta que, em sete meses de desenvolvimento do programa, é possível perceber mudanças na vida de algumas das beneficiárias. Souza diz que quatro delas conseguiram financiamento do governo estadunidense para aquisição da casa própria e duas, empregos formais, cuja carga horária não choca com a das aulas. "Como as aulas do Soulphia são onlines, as tutoras, maneira como são chamadas, ajustam diretamente com seus alunos os horários.”

A iniciativa no Brasil
Souza explica que meninas acolhidas pela casa Vila Bethânia, que funciona em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, começaram a participar gratuitamente do projeto Soulphia. "Estamos ainda em fase de análise dessa ação aí o Brasil, pois queremos nos estabelecer." Diretor de comunicação da Shores of Grace, Organização Não-Governamental com sede em Recife e vinculada à Vila Bethânia, Pedro Dias conta que, no momento, uma das meninas é aluna do programa e que, no próximo mês, período de férias escolares para as moradoras da casa Vila Bethânia, as demais serão contempladas. "Será mais um curso dos muitos que elas já fazem", fala Dias.  

Sobre a importância de envolvimento da sociedade civil em projetos de ajuda ao próximo, Souza argumenta que iniciativas como essa injetam expectativa de vida nas pessoas que fazem parte das ações, especialmente as socialmente mais frágeis, porque geram autoconfiança e sensação de pertencimento ao meio. "São atividades que exigem esforço e, uma vez que elas conseguem completar, voltam a acreditar em si e ficam empoderadas, resolvem outros problemas. Elas se deram a oportunidade de serem melhores."

Horizontalidade em projetos sociais
Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Verônica Morais Ximenes considera importante que existam projetos sociais que tenham como finalidade melhorar a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade, mas pondera que programas de cunho assistencialista precisam estar atentos a pontos como horizontalidade e participação das pessoas que serão beneficiadas com as iniciativas. "A primeira questão é que um trabalho social não pode ser criado de cima pra baixo. As ações precisam ter um momento de diálogo, com a participação da demanda local. Às vezes, achamos que o que a gente está querendo é o melhor. Tem que haver um momento de maturação com as pessoas envolvidas. Para mim, é um elemento central."

Também coordenadora do Núcleo de Psicologia Comunitária (Nucom) da UFC, a docente reforça a necessidade de parceria entre fundadores e beneficiários. "É preciso empoderar as pessoas com foco na autonomia, no reconhecimento delas enquanto sujeito de direitos e não na visão da específica de filantropia, porque esta não leva à autonomia. Quando o projeto vai embora, muitas vezes, os resultados deixam de acontecer. Outro elemento a ser ponderado é a responsabilidade do Estado nas políticas públicas. Quando só existente no projeto, ela deixa uma visão de que quem vai resolver é isso ou aquilo e, na verdade, é a política pública que ajuda, resolve."

Serviço
Projeto Soulphia
Onde: soulphia.com/nossa-historia
Quanto: preços variam entre R$ 50 (aulas unitárias) e R$ 40 (aulas em pacotes fechados) – aula inicial - R$ 20
*Os cursos são pagos no cartão de crédito no site do projeto

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