O POVO CARIRI 26/06/2018 - 17h17

Uma vida quebrando barreiras: a história de Michelle Sampaio

Aos 36 anos, Michelle Sampaio é uma das queridinhas de Juazeiro do Norte. Funcionária do Banco do Brasil e palestrante, ela leva um discurso de positividade e superação por onde passa
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Hamlet Oliveira hamlet.oliveira@opovo.com.br
FOTOS: CAMILA DE ALMEIDA / O POVO

A palavra "obstáculo" é desconhecida para Michelle Sampaio, 36. Analista da Superintendência do Banco do Brasil em Juazeiro do Norte, ela é quase uma celebridade no Cariri. Para comprovar isso, basta caminhar ao seu lado por alguns minutos. Apertos de mão, "Olá, Michelle, tudo bem?" e conversas rápidas são comuns com outros moradores do município.

Com displasia diastrófica, um tipo raro de nanismo, ela possui 1,03 m, mas a condição não a impediu de realizar seus sonhos.

"Quando eu era criança, ninguém acreditou muito que eu ia crescer nem namorar nem casar. Desde aquela publicação do meu casamento [no Youtube, o vídeo da cerimônia de Michelle possui mais de 1,2 milhão de visualizações], sempre sou convidada para palestrar. As pessoas me seguem no Instagram. Todo dia recebo cerca de 100 solicitações de amizade no Facebook. Agora tenho uma página para quem me procura", conta.

Michelle vive, hoje, com os pais, o irmão, o esposo Tiago Moraes e a filha de seis meses, Maria Clara. Nas palestras que dá, tanto em Juazeiro quanto Brasil afora, aborda diferentes etapas de sua vida e sua ascensão profissional, sempre com bom humor. Em entrevista concedida à O POVO Cariri, a analista relata como foi amadurecer sem fazer questão de que a sociedade se adequasse a ela, sempre pronta para enfrentar os desafios cotidianos.

Sua casa nunca foi adaptada por conta do nanismo. Como foi superar os obstáculos da residência?
Foi opção minha não adaptar [a casa]. Eu sempre achei que se eu adaptasse alguma coisa, eu ia ter mais dificuldade quando viajasse, fosse pra casa de parentes. Costumo falar na minha palestra que o mundo nunca vai se adaptar a mim. O banheiro é normal. Pra subir na pia eu uso uma escadinha, para a cama também. Para o chuveiro, eu uso um rodo mesmo. Eu pego o cabo do rodo, bato no registro para ligar o chuveiro. Quando viajo a trabalho, tenho que levar um banquinho para subir na cama.

Como foi a relação dos seus colegas de Juazeiro com seu nanismo? Passou por alguma situação desconfortável em algum momento?
Nasci em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e, com um ano e meio, vim para o Ceará. Fui direto para Juazeiro. Quando eu era mais novinha, não dava para reparar muito o nanismo. Como o tipo é raro, meu rosto não é afetado. Quando tinham curiosidade e me olhavam, não sabiam o que eu tinha. E me perguntavam, mas eu não sabia também. Até que um dia eu perguntei a minha vó e ela respondeu: “Diga que você é normal”. Ela nunca mandou eu dizer que eu possuía nanismo, então eu cresci achando que o nome do problema era “normal” (risos). Eu cresci sabendo que tinha nanismo, mas que era um tipo raro foi apenas há dois anos. E sempre tem aquelas mulheres que olham, apontam, riem, têm medo, mas eu não me preocupo, levo muito disso na "esportiva".

Quais as particularidades do seu tipo de nanismo?
Ele só mexe nos membros superiores e inferiores. Também possuo fenda palatina, o palato mole, que eu não tenho. Aí têm pessoas que fazem cirurgia, mas eu nunca fiz. E tenho os membros encurtados. Eu não fecho a mão porque não têm juntas nos dedos, e nos pés também não. O joelho não tem muita flexibilidade. E o tendão de aquiles é encurtado, então ando nas pontas dos pés. Todas as displasias têm essas mesmas características. O crânio não é afetado. Normalmente, os anões têm um pouco de hidrocefalia, mas no nosso caso não afeta a cabeça e o crânio. Nunca fiz um procedimento cirúrgico. Quando morava no Rio, minha mãe quis fazer, mas ficou com medo e não fiz. Existem poucas pessoas com meu nanismo adultos. Talvez só umas dez pessoas [no mundo]. Mas têm muitos bebês.

Como foi sua trajetória no Banco do Brasil até chegar ao cargo de analista?
Quando eu terminei o Ensino Médio, teve aquilo: "Qual a faculdade vamos fazer, qual rumo de trabalho vamos seguir". Sempre fui da área da matemática, então, fiz faculdade de automação industrial. Aí teve o concurso e minha dentista disse que eu fizesse. Comprei as apostilas faltando um mês para a prova. Passei em segundo lugar nas vagas especiais. Quando fui convocada, um ano depois, passei seis meses para assumir, porque pela lei do Ministério do Trabalho eles tinham que adaptar muita coisa para mim. Colocaram um elevador no prédio, uma maçaneta que puxa. Dois anos atrás fizeram uma cadeira adaptada do jeito que preciso, com o assento mais curto, com apoio para subir. No início, o banco me deixou bem reservada, no fundo. Como se tivessem medo de eu não fazer as coisas. Mas fiz questão de fazer o mais difícil e atender o público. Se eu tenho uma limitação, faço questão de vencer essa limitação. Inicialmente, fizeram as adaptações que eles achavam que ia ficar bom pra mim, mas nenhuma ficou e com o tempo fui pedindo coisas para mim mesmo. De resto, tudo é normal.

Como foi sua experiência no Inspira BB? A recepção do público foi boa? Vai participar de outra edição?
A palestra que participei foi na segunda edição. Eles colocam a inscrição aberta somente para funcionários do banco. E me inscrevi sem nem saber o que era, porque gosto de participar de tudo do banco. Me inscrevi e fui selecionada. Eles escolhem dez para fazer o treinamento. De acordo com o desempenho de cada um, escolhem cinco para palestrar. Eu já dava algumas palestras em Juazeiro nas faculdades. Essa palestra foi específica para o banco, por isso não falei muito do meu dia a dia. E se tornou a palestra mais acessada do Inspira BB. De lá pra cá, fiquei gestante, e não pude mais viajar. Não pude mais porque fui a primeira desse tipo de nanismo no mundo a engravidar, então foi considerada de risco. E meu tipo de nanismo é recessivo, não gera filho com nenhum tipo de nanismo. Foi tudo com certo medo. A médica proibiu de viajar de avião, ônibus, carro, de tudo.

Como foi sua gestação?
Apesar de todo o alarde de ser de risco, não teve risco nenhum. Não senti cólica, nem dor nas costas, nem nada. Trabalhei até o último dia possível, pois programei minhas férias para antes do parto. Só tive incômodo no joelho por conta do peso. Continuei andando até os oito meses, e a obstetra tinha dito que eu ia andar só até os quatro. Tive ela com oito meses. O parto teve um alvoroço porque a anestesia não podia ser pra uma pessoa grande, mas nem para uma criança. Teve todo um cálculo para a anestesia, para acima de criança e abaixo de adulto. Foi cesárea e sem complicação. Passei também por nutricionista, porque eu não podia engordar. Ela nasceu com um quilo e 685 gramas, muito magrinha. Porém, não foi pra encubadora, apesar do peso baixo. Ela ficou só tomando leite pela sonda, mas não teve nenhum problema. Mamou na hora quando a levamos, e no dia seguinte já voltei para casa. Ela está com seis meses.

Como começou a relação com seu esposo?
Ele tem 1,55m, é baixinho. Assim que comecei a trabalhar no banco, ele tinha 16 e eu, 22 anos. Mesmo assim, o pessoal ficava brincando no trabalho. São seis anos de diferença, ele era adolescente, levava tudo na esportiva e a gente não se paquerou na época. Trabalhamos dois anos juntos. Aí a gente perdeu contato quando acabou o estágio dele, mas dois anos depois ele começou a estudar o terceiro ano com minha prima. Sempre falavam de mim na hora do intervalo. Eu pedi para que ele fosse para o sítio da minha família, quando teve a festa de final de ano, e lá ele me pediu em namoro, cinco anos depois que a gente se conheceu. Estava com 27 e ele com 21. Tive outras propostas de casamento, mas nunca aceitei, nunca acreditei no casamento dos outros. O que me fez casar com ele, desde o primeiro momento, foi que nunca senti nenhum tipo de preconceito dele comigo. Andava comigo de mãos dadas no shopping, e se olhavam estranho pra mim, ele se incomodava. Uma vez fiquei internada por artrose. O osso tocava no nervo e me causava dor, e ele andava três quilômetros pra poder me ver no hospital. Todo o carinho dele comigo, não existia sequer 1% de preconceito. Meu medo era casar com a pessoa e ter medo de separar. E minha família é muito tradicional, não aceita separação.

Ser mãe sempre foi um sonho para você?
Sempre. Desde que tinha 15 anos. Minha menstruação era irregular, vinha uma vez no ano. E minha ginecologista perguntou se queria ser mãe. Eu disse que sim, então ela me passou um anticoncepcional para regular a menstruação, que tomei até os 29 anos. Como eu era muito ansiosa para engravidar, passei uns cinco anos para conseguir. Achava que eu não podia ter filhos, mas [a demora] deve ter sido mais pela ânsia de ter filhos. Quando me despreocupei e desisti, aconteceu. Engravidei, pelas contas, nas viagens para o Inspira BB. No dia da palestra eu estava com duas semanas de gravidez e não sabia.

Multimídia

Acesse a 13ª edição da O POVO Cariri na íntegra.

Confira a entrevista com Michelle em vídeo:

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