O grafite é uma das expressões artísticas que mais ganham espaço em diversas capitais brasileiras desde o final da década passada. Visto enquanto iniciativa cultural que dialoga diretamente com a sociedade, especialmente por estar ao alcance direto dos olhos de quem passa a pé, ônibus, carro, entre outros modos de deslocamento, nas ruas de uma cidade, ele encontra espaço em bairros fortalezenses, como Centro (av. Duque de Caxias, próximo à Praça Coração de Jesus), Praia de Iracema (Vila Grafite) e Benfica (avenida Treze de Maio, próximo à Reitoria da UFC).
O grafite, entretanto, pode ir além da estética e se conjugar a filosofias como a do sentimento de pertencimento à cidade, relação essa exteriorizada, por exemplo, por meio da mudança de locais antes tidos como depósitos inapropriados de resíduos residenciais e comerciais. Essa é uma das razões para o surgimento do projeto Urbano Arte, realizado pela House Cultura & Cidadania e que desde o final de 2017 transformou mais de 20 lugares da Capital fadados ao desleixo em cantinhos que viraram xodó de comunidades. Álvaro Weyne, Barra do Ceará, Jacarecanga, Meireles e Montese, além de escolas, já foram contemplados com a iniciativa. A meta é chegar a 33 bairros.
"Fortaleza é muito volátil em termos de memória. Vemos diversos monumentos arquitetônicos sendo derrubados, e artes como o grafite ajudam a criar uma memória mais afetiva", opina o artista visual Narcélio Grud. O coordenador do ateliê Amplitude, contudo, defende que ações que utilizam o grafite com finalidade estética precisam ser cuidadosas para não carregarem estigmas e preconceitos. "Algumas vezes, o grafite é tido como veículo de higienização, viável para tirar pichação. Essa não é uma visão bacana. O grafite tem uma visão social, que consegue ressignificar o espaço e é legal porque mostra a força que a imagem tem", enfatiza.
Curador do Urbano Arte, Gustavo Wanderley explica que a iniciativa é reflexo de "um movimento muito forte baseado na arte contemporânea de revitalização de áreas de praias" e que esse pensamento foi a base do convite que o paulista recebeu para fazer parte dele em Fortaleza.
O paulista acrescenta que, antes da realização de uma intervenção como o grafite, que ele define como "instrumento de embelezamento da cidade e de cuidado com ela", é preciso se ter claro que depois da finalização do trabalho o espaço será uma área com novo paisagismo, "que deve ser habitado, inclusive, por outros seres vivos", e que esse entendimento é um dos aspectos a serem levados em conta em ações do estilo do projeto. "A própria população tem abraçado. No Jacarecanga, sei que virou uma espécie de atração turística. A vizinha aproveitou para fazer um comércio de comida ao lado e os moradores abraçaram a causa, acolheram o espaço."
A experiência de participar
Para a artista plástica e visual Ingra Rabelo, o Urbano Arte torna-se importante mecanismo de conscientização da população por chamar atenção para um olhar micro de preservação ambiental. Ela diz que a experiência de participar do projeto mostrou-lhe que os moradores começaram a ter uma visão diferente para com a produção de lixo de suas casas e zelo com o bairro.
"Acredito que o mais importante é a comunidade do entorno ativar o contato e a consciência de preservação para com as proximidades. Eles até têm essa consciência, mas ela é dificultada pela ausência de apoios financeiro e governamental, que poderiam ajudar com a educação para com espaços desabitados e que acabam virando depósito para lixo", diz Ingra, que durante o projeto revitalizou uma área próxima ao Liceu do Conjunto Ceará e outra dentro da Escola de Ensino Médio Professor José Maria Campos de Oliveira, também no Conjunto Ceará.
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