Os primeiros sinais surgiram há cerca de 30 anos, nos cotovelos de Marcus Gomes. O que, a princípio, era algo discreto, começou a apresentar uma piora ao longo dos anos. Placas formaram-se no couro cabeludo, no tronco e nos braços. Diagnosticado com psoríase, o servidor público convive com a doença de forma cíclica: em um período está bem e em outro novos sinais começam a surgir. No Brasil, cerca de três milhões de pessoas são afetadas pela condição.
Se caracterizado como uma doença autoimune, a psoríase desenvolve-se, na sua forma mais comum, por meio de placas que cobrem a superfície da pele dos pacientes, como couro cabeludo, cotovelo e joelhos. O sintoma ocorre pelo excesso de células de pele. Ainda não existe uma definição acerca de causas para o surgimento, porém se acredita que haja uma predisposição genética envolvida. As placas causam coceira e, em alguns casos, dor nos pacientes. Dependendo da localização, elas podem impedir o indivíduo de realizar atividades básicas, como trabalhar e caminhar com tranquilidade.
Hoje aos 52 anos, Gomes conta que, na família, o pai e a avó materna já foram diagnosticados com psoríase. No princípio, seu tratamento envolveu aplicações tópicas de remédios, por meio de pomadas. "Depois, começou a se propagar no corpo. Apareceram umas placas na cabeça, também surgiram na perna. Mas isto depois de uns 10 anos. Também começaram a surgir na ponta das unhas". Atualmente, o servidor diz estar passando pela crise de psoríase mais intensa que já viveu, com placas no tronco, braços e pernas afetados.
Diálogo
Por ser autoimune, a psoríase não é contagiosa. Devido ao visual das marcas na pele, contudo, existem relatos de pacientes que deixaram de lado alguns aspectos do cotidiano por vergonha da própria pele. No caso de Gomes, ele evita sair de casa utilizando bermudas, para não ser alvo de olhares na rua, ainda que, conta, nunca tenha passado por qualquer tipo de preconceito.
Foto: Flávio Damião
No evento, dados e informações foram apresentados para jornalistas e convidados
A temática sobre a saúde mental dos pacientes com psoríase foi levantada durante o evento "Psoríase em Fatos e Fotos", realizado pela companhia farmacêutica Janssen, em São Paulo, no último dia 7. Na ocasião, médicos dermatologistas e representantes da empresa abordaram dados e comentaram o cenário nacional do tratamento da patologia. Um dos dados apresentados mostra que 70% dos pacientes brasileiros apresentam distúrbios emocionais como ansiedade (30,7%) e depressão (27,1%).
"Apesar da gente reforçar que não existe risco de contágio, que a psoríase é uma doença imunomediada, quando as pessoas veem pacientes com psoríase, sempre existe julgamento. Ele acaba piorando a qualidade de vida dessas pessoas, que já têm uma doença orgânica ruim. E acaba, de certa maneira, levando os portadores a se esconder, não ter contato com o próximo", explica André Hirayama, dermatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
De acordo com Marcelo Arnone, dermatologista e coordenador de psoríase do HCFMUSP, a doença, por ser crônica, pode apenas ser controlada, com os níveis sintomas variando com o tempo. "A média de idade de surgimento é dos 20 aos 40 anos. Então, você vai comprometer, deixando doente, a parcela economicamente ativa da sociedade. (...) Você tira pessoas do mercado de trabalho. Mesmo que ela não falte ao trabalho, diminui a produção. Impacta além da pele", fala.
Para Hirayama, um dos problemas que atingem a parcela de baixa renda dos pacientes com psoríase é a dificuldade para conseguir consulta com um especialista. Desta forma, o diagnóstico pode demorar a acontecer, fazendo com que muitos busquem tratamentos não eficazes com a condição demandada por cada caso.