A rotina das crianças muda nos meses de férias escolares e as atividades diárias passam a incluir muitas brincadeiras em horários mais flexíveis. Porém, é importante pais e responsáveis manterem o cuidado com a alimentação e com a hidratação dos pequenos ao longo dos dias de folga, evitando pular refeições ou o excesso de guloseimas. Os dias livres podem, inclusive, ser um estímulo a pôr a mão na massa e ensinar os pequenos sobre alimentação saudável.

De acordo com a nutricionista materno infantil Juliana Araújo, a praticidade na alimentação das crianças é uma característica priorizada, principalmente nas férias. A busca por ela, segundo a nutricionista, é o que muitas vezes leva as pessoas a terem ou não uma alimentação equilibrada. "O prático não é necessariamente abrir um pacotinho, abrir uma garrafinha, furar uma caixinha. Isso não é necessariamente ser prático e saudável, mas sim descascar uma fruta, levar a criança para a cozinha para fazer um preparo, um bolo, uma torta, fazer espetinho de fruta, sorvetinho", afirma.

Para a nutricionista, levar as crianças para criar receitas na cozinha facilita a quebra da barreira da rejeição alimentar e a leva a se permitir experimentar novos alimentos. Além disso, Juliana indica também levar os filhos para o momento de compras no supermercado. "São estratégias positivas para tentar aliar essa praticidade com saúde", afirma.

Outra maneira lúdica de incentivar o consumo de frutas, de acordo com a nutricionista materno infantil Camila Navarro, é preparar dindins — ou sacolés, uma das várias formas como eles são chamados em outras regiões do País. "É uma coisa que as crianças sempre gostam, quando elas veem o dindim, já se animam. Então, você pode simplesmente bater uma fruta com água, às vezes, dependendo da fruta, não precisa nem adicionar açúcar."

Cuidados diários
Nas férias escolares, a coordenadora pedagógica Waldyleidy de Araújo Silva, 35, acompanha mais de perto a alimentação do filho, Lucas de Araújo Carvalho, 5. Priorizando a saúde e a praticidade, ela incentiva que o pequeno consuma mais frutas e as manuseie. "Vou dando mais autonomia para ele. A banana, ele mesmo descasca. A maçã, ele vai lá e come. São alimentos mais práticos e saudáveis que vou dando como lanche, após as refeições maiores, e ele vai se identificando mais e tendo mais autonomia alimentar."

Além disso, a coordenadora conta que, nas férias, consegue incluir o filho nas idas ao supermercado e que permite o consumo de alimentos como picolés, chocolates e pizzas aos finais de semana — sempre com orientações sobre os malefícios do excesso deles. "Eu dou, mas também já estou dizendo que pode causar cárie, que vai ficar com os dentes estragados. Vou mostrando a parte que pode prejudicar para que ele tenha a consciência."

Com acompanhamento nutricional de Juliana Araújo desde que estava grávida, Waldyleidy atribui à orientação o fato de Lucas gostar de comer frutas e legumes. "Quanto mais cedo você incluir os hábitos alimentares saudáveis na vida da criança, acredito que não vai ter tanta dificuldade nos anos seguintes", afirma. Na escola em que é coordenadora, no município de Boa Viagem, percebe o contrário. "Não só acompanhamos a parte de ensino e aprendizagem, como também vemos a alimentar. Na minha escola, por exemplo, vemos muitas crianças que têm resistência a certos tipos de alimentos exatamente porque na tenra infância não tiveram esse contato."

Confira dicas das nutricionistas para manter a alimentação das crianças saudável:

1. Não pular refeições
Mesmo com a flexibilidade de horários das férias, Juliana afirma que é importante não pular as refeições principais e nem substituí-las por lanches ou guloseimas. O café da manhã, por exemplo, não deve ser pulado, caso o pequeno acorde um pouco mais tarde do que o normal. "Hoje, o café da manhã é uma das refeições mais importantes para uma criança, porque quebra o jejum com qualidade", afirma.

Além disso, segundo explica a nutricionista, almoço e jantar representam, cada um, uma média de 30% do valor calórico diário total "Uma coisa que me preocupa muito é que, às vezes, nem só em período de férias, as crianças estão substituindo jantar por lanche. Se dou um lanche mais leve, não atinjo os 30% necessários para suprir o valor calórico total e ela fica em débito nutricional."

2. Cuidado com os industrializados
Ao optar por alimentos industrializados, deve-se ter atenção à lista de ingredientes no rótulo — que trazem, em primeiro lugar, os que estão em maior quantidade. "Se ele [o pai] pega um chocolate que no primeiro ingrediente já é açúcar, gordura vegetal hidrogenada, não seria [uma opção] tão interessante", pondera Juliana.

3. Hidratação
As férias incluem muita brincadeira com os amigos, idas à praia e à piscina ou ainda longas caminhadas em viagens e é importante lembrar-se de ter cuidado com a hidratação. Água, água de coco e sucos naturais são as recomendações de Camila.

4. Moderação
De acordo com Juliana, não é possível orientar as famílias a serem rigorosas com a alimentação das crianças nas férias, proibindo doces, por exemplo. Mas é necessário evitar excessos. "É tentar não ir para o caminho do excesso e evitar muitos alimentos açucarados, cheios de gordura saturadas, muitos industrializados e substituto de refeições."

5. Pé na estrada
Ao decidir viajar, o conselho das nutricionistas é ter na bolsa opções saudáveis, como frutas, para oferecer às crianças — seja levando de casa ou comprando no destino escolhido."O planejamento alimentar da viagem é fundamental", afirma Juliana. Além disso, Camila indica fazer escolhas mais saudáveis nas refeições. "Não pode pensar que não vai sair daquela alimentação ideal. Mas sempre podemos fazer escolhas melhores. É o que sempre falo: [Se] vai comer uma pizza, precisa pedir com presunto e bacon? Não, pode pedir uma pizza margherita, que é de queijo com tomate."