CIÊNCIA 25/04/2018 - 07h00

Primeira bebê de proveta completa 40 anos em 2018

A primeira bebê cearense de proveta chega aos 20 anos. Durante essas décadas, a procura por tratamentos de fertilidade tem aumentado. Entenda o porquê
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Kelly Hekally kellyhekally@opovo.com.br

No próximo mês de julho, a primeira bebê de proveta do mundo completa 40 anos. A primeira bebê cearense de proveta celebra duas décadas de vida em outubro de 2019. Os fatos são uma deixa para a discussão sobre como a medicina reprodutiva tem comportado-se nesse período no Brasil. Segundo levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) relativo ao período entre 2011 e 2016 e publicado em 2017, o número de fertilizações in vitro (FIVs) no País saltou cerca de 150%. O estudo mais recente da instituição sobre o assunto aponta que a quantidade de realizações desse procedimento passou de 13.527 para 33.790 nesse intervalo de tempo.

O dado é reflexo de um cenário que percorre diversos países. De acordo com a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em levantamento divulgado em 2016, último da entidade acerca do tema, um em cada seis casais enfrentam a infertilidade. Especialistas ponderam que mudança de cultura das mulheres brasileiras, que passaram a engravidar mais tarde, desmitificação do tratamento e redução dos valores dos tratamentos de reprodução humana são razões para o crescimento da procura por métodos da medicina reprodutiva, inclusive no Brasil, nos últimos anos.

Ginecologista e coordenador do Centro de Reprodução Humana Governador Mário Covas, do Hospital das Clínicas de São Paulo, Pedro Augusto Araújo Monteleone explica que idade da mulher, ovários policísticos e endometriose são fatores que levam à infertilidade feminina e acrescenta que baixa concentração de espermatozóides no homem, conhecida como azoospermia, é a principal razão da masculina. Diretor do Centro de Reprodução Humana Monteleone, o médico explica também que a relação entre fertilidade e alimentação é alvo de questionamento e ressalta que há uma interseção entre os dois.

"A alimentação relaciona-se sim à fertilidade, mas principalmente nos extremos: na desnutrição e no sobrepeso. Um indivíduo saudável e que às vezes tem uma alimentação inadequada não corre o risco de ter sua fertilidade diminuída. Da mesma forma, se ele fizer uma alimentação estritamente rigorosa, isso não vai aumentar a fertilidade dele."

Divulgação
Louise Brown é britânica e filha de John e Lesley Brown. O casal tentou o procedimento aproximadamente 50 vezes antes do êxito

Tipos de tratamento e perfil dos casais
Referência mundial entre os estudiosos da medicina reprodutiva, Ernesto Bosch explica que existem diversos tratamentos de fertilidade praticados em diversos países e que, dentro do panorama da fertilização in vitro, os mais procurados são a fecundação de óvulos e a implantação de embriões. O espanhol estima que, no mundo, aconteçam cerca de 1,5 milhão de fecundações in vitro anualmente. "Possivelmente mais, mas esse é o número aproximado que se tem."

Premiado em 2008 pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva em 2008 e diretor médico da Human Reproduction Unit of the Instituto Valenciano de Infertilidad University of Valencia, na Espanha, o especialista argumenta que as taxas de infertilidade entre mulheres e homens são basicamente as mesmas. Acerca da média de idade das mulheres latino-americanas que buscam tratamento para engravidar, Bosch responde que varia entre o meio urbano e o meio rural: no primeiro, pondera, elas costumam procurar as técnicas quando mais novas e no segundo, mais velhas. "O cenário é semelhante ao do sul da Europa", finaliza.

Cenário para os próximos anos
Sobre o futuro cenário da medicina reprodutiva brasileira, Monteleone diz que acredita que a disseminação desse área vai depender diretamente da capacidade econômica do País. Paralelo a ela, afirma o médico, o aumento do sucesso dos casos da reprodução humana está condicionado diretamente à idade das mulheres que vão nos próximos anos buscar tratamento desse segmento.

"Quando você tem uma crise econômica como a em que a gente vive, obviamente, há uma diminuição na busca pelo tratamento. Em melhor desempenho econômico, esses recursos vão voltar a surgir e você vai ter o aumento da busca. Ao longo do tempo, o tratamento tem diminuído seu custo, o que efetivamente ajuda. Mas a grande preocupação de hoje e de sempre é que atualmente as mulheres deixam para engravidar mais tarde e isso realmente causa impacto no prognóstico do sucesso do tratamento. A gente tem como alternativa sempre a doação de óvulos, que não deve ser vista com preconceito porque é um tratamento como outro qualquer. Mas a maioria dos casais desejam engravidar usando seus próprios gametas, o que é um direito nato. Porém, com o passar dos anos, principalmente na mulher, há impacto negativo nas chances de gravidez."

*As entrevistas foram realizadas este mês em São Paulo, durante evento da Ferring Brasil. A jornalista viajou a convite da organização do evento.  

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