O POVO CARIRI 21/11/2017 - 07h00

Vinho de cambuí é um dos sabores da Chapada do Araripe

Após anos de estudo e consumo, o agrônomo José Marôpo é conhecido na região do Cariri por ter desenvolvido o vinho de cambuí, uma bebida com sabor único
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Hamlet Oliveira hamletvictor@opovo.com.br
Foto: Camila de Almeida
O cambuí serve de matéria prima para diversos derivados

Popular entre os moradores da Chapada do Araripe e arredores, o vinho de cambuí é uma especiaria genuinamente cearense. Fruto de muita pesquisa para acertar o ponto correto para a produção, o vinho foi desenvolvido pelo agrônomo José Marôpo, morador do Crato. Natural de Nova Olinda, ele fez a descoberta da fruta ainda na infância, durante caçadas com o pai pela serra. 
 
Após a formatura em agronomia, conseguiu um emprego na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde foi introduzido pelo chefe a formas de produzir vinhos. Daí, foram anos distante do cambuí, até que, durante uma pesquisa de campo no município de Jardim, encontrou uma senhora que dizia produzir vinho de cambuí. Após provar o produto e perceber que não se tratava do mesmo estilo de bebida ao qual estava habituado, sendo mais semelhante a um licor, começou ele próprio a realizar as pesquisas para a produção do verdadeiro vinho de cambuí. O início do estudo foi financiado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). 
 
Após algumas primeiras tentativas sem sucesso, Marôpo conseguiu aperfeiçoar o processo, com o uso correto de leveduras para fermentação do produto. Ele explica que a produção é praticamente igual a de vinho de uva, com a diferença de que não se pode armazenar cambuí para produção posterior, sendo preciso dar início ao processo logo após a colheita. Uma vez, perdeu mais de 500 litros por ter utilizado cambuí com mais de três dias de colhido.
 
“O primeiro fermentado que fiz foi em 2006. Na Chapada do Araripe, varia a época em que dá cambuí. Na região oeste do município de Crato, ele sai entre final de fevereiro e final de abril. Pegando o trecho de Pernambuco, ele começa a sair no início de maio, até junho. Já em Jardim, começa a sair no final de junho e talvez até agosto em anos de boa chuva”, diz. Marôpo não possui uma plantação do fruto, então compra de diferentes lugares. “Atualmente, estou comprando mais do Crato ou de Nova Olinda. Vão me trazer da serra de Pernambuco, estou esperando.” 
 
A produção do agrônomo varia de fevereiro a julho, chegando a cerca de 3.000 litros por ano. Entretanto, em 2017, a produção ficou na casa dos 2.000 litros. Por garrafa, José cobra R$ 25, que ele diz acabar em pouco tempo. Além do vinho, outros derivados de cambuí são produzidos por ele, como cachaça, geleia e doce de leite com a fruta. Ele também garante que a fruta possui qualidade medicinal, sendo possível extrair chá para controlar diarreia, além de ter função hipoglicemiante, para o controle de diabetes. 
 
Foto: Camila de Almeida
José Marôpo, criador do vinho de cambuí
 

Patente
Depois de anos de tentativas, José conseguiu realizar a patente oficial do vinho de cambuí, no último dia 8 de agosto. Com isso, o registro oficial da bebida é seu. Contudo, o objetivo não é lucrar o máximo possível do cambuí, mas assegurar a preservação dele. Por não possuir autorização para vender a bebida comercialmente, as transações são realizadas de maneira informal, como bebida artesanal, “diretamente para o consumidor da região do Cariri”, garante Marôpo.
 
No entanto, a demanda por uma maior quantidade de vinho existe. “Já quiseram que eu vendesse a patente do vinho, mas eu quero produzir localmente mesmo. Um homem entrou em contato e me ofereceu R$ 250 mil pela patente, mas eu não aceitei.” 
Além de contribuir para a preservação do fruto, o trabalho de Marôpo garante renda para os produtores de cambuí, que agora podem vender a fruta cada vez mais no mercado.  

Degustações
Logo após começar a produção, José conta que o sabor diferenciado da bebida foi bem recebido por degustadores da Embrapa e moradores da região do Cariri. O sommelier Ícaro Pinheiro, entretanto, não atribui a classificação de vinho para a bebida de Marôpo. Para Pinheiro, o vinho de cambuí deve ser classificado como uma “bebida mista bem alcóolica, mais semelhante a um licor”. 
 
Sobre a semelhança com vinhos produzido por uva, o sommelier diz que a variação é grande e a diferença no paladar é acentuada. “Ele é uma bebida mais forte, contém um gosto único da fruta. É totalmente diferente de uma garrafa de vinho. Chega até a chocar. Na minha opinião de consumidor, é que, se classificado como licor, acho que seria mais aceito pelo público”, comenta.   
 
Marôpo defende que sua criação se trata sim de um vinho, por ser feita exatamente com o mesmo processo utilizado com uvas. “Licor não é fermentado, é um processo aditivado. Você pega cambuí e adiciona cachaça. É diferente do vinho”, argumenta. 
Há pouco mais de um ano, o agrônomo fundou a Associação dos Produtores Orgânicos do Cariri Cearense (Aproce). A instituição reúne 25 produtores de tipos variados de frutas e legumes, como tomate, goiaba, muriti e o próprio cambuí. 

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