Dois estudos publicados em boletins da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que, antes da “era zika”, havia mais casos de microcefalia que o divulgado pelo Ministério da Saúde, o que expõe a fragilidade das estatísticas oficiais do País.
Pelos dados do Sisnac (sistema de informações sobre nascidos vivos), a taxa de notificação de microcefalia no País até 2014 era de 0,5 caso para cada 10 mil nascimentos. Mas pesquisas de dois grupos do Nordeste mostram taxa muito maior, de pelo menos 20 casos para cada 10 mil.
Nos EUA, a prevalência da microcefalia varia entre 2 e 12 por 10 mil nascimentos. Considerando que lá nascem 4 milhões de crianças por ano, haveria então de 800 a 4.800 casos de microcefalia por ano. Se projetadas as mesmas estimativas para o Brasil, onde há 3 milhões de nascimentos/ano, seriam de 600 a 3.600 casos anuais. Pelas estatísticas oficiais o número de casos seria de 150 ao ano.
No surto atual, iniciado em 2015, foram confirmados 462 casos de microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso central, sendo 41 associados à zika. Mais 3.852 registros são investigados.
Considerando-se as estimativas dos dois grupos de pesquisa, antes da zika, o País teria pelo menos 6 mil casos de microcefalia por ano. Ainda que esses estudos tenham limitações metodológicas, especialistas dizem que são valiosos. “Os dados do Ministério da Saúde são absolutamente inúteis no que se refere à epidemiologia da microcefalia. Melhor que não tivessem porque só serviram para atrapalhar ainda mais o cenário”, diz o médico Salmo Raskin, especialista em genética médica e professor da PUC-PR.
Segundo o geneticista Décio Brunoni, professor do programa de pós-graduação em distúrbios do desenvolvimento da Universidade Mackenzie, a subnotificação de anomalias congênitas, entre elas a microcefalia, na declaração de nascidos vivos ocorre em praticamente todo o País.
Para as geneticistas Ana Beatriz Pérez e Mirlene Cernach, professoras da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o sub-registro ocorre por vários motivos, entre eles a não obrigatoriedade dos registros e a dificuldade de se fazer o diagnóstico. (agência Folhapress)
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