Iranildo Pereira 24/02/2014

Política se faz com coragem

Fundador do velho MDB, o ex-deputado Iranildo Pereira fala das transformações pelas quais as política passou ao longo das últimas seis décadas e dos muitos conflitos acumulados em uma trajetória de contestação
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Erivaldo Carvalho
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Érico Firmo ericofirmo@opovo.com.br
Deyvison Teixeira
Iranildo Pereira falou de sua vida política, desde os primeiros passos aos dias de hoje, e admitiu como um dos grandes erros a decisão de sair do PMDB, que ajudara a fundar nos anos 1980

--> O início na política foi precoce. Na década de 40, a família pertencia ao PSD, no tempo em que a UDN dava as cartas em Santana do Cariri. Iranildo, filho do vereador Antônio Pereira de Oliveira, era uma espécie de garoto prodígio, levado para discursar, como atração nos comícios pessedistas. Além disso, não tinha nem sete anos de idade quando aproveitava para ganhar um dinheirinho indo buscar água para o partido, que a distribuía entre os eleitores – a escassez é usada politicamente não de hoje.

 

Mas a política não tinha nada de infantil. Pelo contrário, era marcadamente violenta. “Violenta mesmo, de matar gente lá em Santana”, enfatiza Iranildo. Perigos que se tornariam ainda maiores anos depois, quando o PSD e os demais partidos políticos brasileiros. O menino de Santana, então, assim como boa parte dos velhos pessedistas, passam a organizar o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição consentida à ditadura militar.

Nesta entrevista, Iranildo percorre seis décadas de atuação política e conta os bastidores momentos-chave da recente política cearense, da anistia e o movimento pelas Diretas, das quais foi personagem destacado, até a entrada de Tasso Jereissati na política, o ciclo do amigo Juraci Magalhães em Fortaleza e a traumática saída do PMDB, devido a conflitos com Eunício Oliveira.

 

Deputado estadual em dois mandatos entre as décadas de 60 e 70 e deputado federal entre os anos 70 e 80, incluindo períodos nos quais exerceu o posto como suplente, tem hoje como vínculo na política um cargo na direção do Partido da República (PR), no qual acompanha os debates sobre a possibilidade de apoio a Eunício ou o lançamento da candidatura de Roberto Pessoa a governador. Mas, nesse último caso, só se Tasso Jereissati topar concorrer ao Senado.

 

O POVO – O senhor, que participou da organização do MDB, em outro momento, qual seu sentimento ao ver o que o PMDB é hoje. Que é o maior partido do Brasil hoje. Tanto tempo depois, qual sua opinião, como um dos que originaram esse processo?

Iranildo Pereira – Meu sentimento é de profunda tristeza. Eu vivi um MDB. Sempre faço essa diferença. O MDB era um partido arrojado, corajoso, contra a ditadura. Enfrentando todas as dificuldades para sobreviver. Houve momento em que a gente achava que não ia sobreviver, até por falta de eleitores. Marcamos uma história. E essa história reflete ainda hoje pelo fato de o PMDB ser o maior partido em termos de eleitores. A história do MDB ficou impregnada na mente do eleitor.

 

OP – O que deu errado para aquele MDB se transformar numa força política que vive do poder, digamos assim?

Iranildo – Houve um momento em que extinguiram os partidos da ditadura. Extinguiram Arena e MDB eveio o PMDB. Para a formação do PMDB, veio muita gente da Arena.

 

OP – A ditadura já se fragilizando...

Iranildo – É, e os caras não se acomodavam muito lá. Primeiro, o Tancredo Neves criou um partido, o PP, Partido Popular. E trouxe para esse partido uma leva de pessoas da Arena. Depois, o próprio Tancredo verificou que não era viável a formação de um partido nacional naquele nível. Aí ele retorna para o novo partido, que era o PMDB que se formava. Nesse retorno, a confusão entrou em cena. Quem tinha mais hegemonia não era mais o MDB. Era o PMDB, com o advento dessas pessoas.

 

OP – Já era um partido diferente.

Iranildo – Passou a ser um partido fisiológico. Porque o pessoal que vinha de lá queria era cargo, cargo, cargo.  Nós não queríamos cargo, cargo, cargo, queríamos manter a identidade para ir em frente defendendo nossas teses populares, sociais.

 

OP – Agora, vamos voltar um pouco mais no tempo. O senhor é de Santana do Cariri. Como é seu início na política?

Iranildo – O início remonta ao tempo em que eu era criança. Era PSD e UDN. Meu pai era do PSD. Antonio Pereira de Oliveira (ex-vereador em Santana). Naquele tempo eu já tinha vocação, de ir para os comícios e falar. Nas eleições, eu, como já tinha aquele enxerimento de participar de política e gostava muito de ficar entre os adultos, o diabo a quatro, conversar, ainda criança, aí começaram a me levar para falar nos comícios. E tinha outra faceta. Naquele tempo, os partidos (no dia da eleição) davam comida, matavam boi, davam água. E, no lugar em que a gente morava, Araporanga, não tinha água, a gente se abastecia nuns poços que tinham num lugar chamado Latão, que era água boa. Aí eu tomei a iniciativa, menino véi, de fornecer ao PSD a água. Não tinha sete anos. Eu ia pra esse sítio num jumento aí fornecia. Claro que eu já recebia um dinheirinho quando vendia essa água pros potes do PSD.

 

OP –O senhor chegou a fazer política em Santana, além das meninices?

Iranildo –Depois desse tempo, vim estudar aqui (em Fortaleza). Em torno de 1947, 48.Depois, houve uma campanha lá (em Santana), não guardo muito as datas, em que o PSD lançou candidato a prefeito, um senhor chamado Netinho Lacerda, e me convocou para ser candidato a vice-prefeito. Claro que eu perdi, porque a força maior de lá era a UDN. Naquele tempo, o sujeito votava no prefeito e no vice. Eu tive mais voto do que o (candidato a) prefeito (pelo PSD). Cheguei lá com aquelas idéias, discurso para lá e para cá. Enfrentando uma oligarquia violenta. Violenta mesmo, de matar gente lá em Santana. Aí vinha toda aquela luta, morte, perseguição. E o Netinho Lacerda era um homem meio idoso, não se metia. Praticamente emprestou o nome, que era um homem de bem, para ser candidato a prefeito. Era um comerciante, não se metia muito nessa história.

 

OP –Quando o senhor começa a fazer política na Capital?

Iranildo – Eu estudava no Liceu. Primeiro, fiz política estudantil. Depois, na Faculdade de Direito, fiz política estudantil. Nesse período, eu demonstrava muito meu pendor político. Trabalhava numa empresa americana, era cobrador de rua. Eu saia do trabalho e ia lá pras galeras da Assembleia, ali no Centro (à época, na Praça dos Leões) para assistir às sessões. A vida política era ali. E eu resolvi me candidatar a deputado estadual. Eu não tinha recurso. Era um cobrador de rua. Aquilo ali foi mais uma ousadia. Não tinha dinheiro, minha família era pobre. Num tinha cacife eleitoral. Porque em Santana do Cariri a votação era muito pequena. Nós, ainda menores. Aí eu chego um dia e disse para mim mesmo: “Vou ser candidato a deputado.Vixe Maria, aquilo ali levaram na brincadeira. Na minha terra quase não tive voto. Na minha região quase eu não tive voto. Aí eu tive uns votos aqui, tive uns votos ali. Fiquei como suplente de deputado estadual.

 

OP –Como era fazer campanha nesse tempo, não tinha propaganda na televisão...

Iranildo – No meu caso, até por não ter recurso, era no corpo a corpo. E eu sempre fiz política no corpo a corpo. Mas, do outro lado, os partidos políticos tinham muita força. Então o partido central, o diretório daqui, chegava para um município desses “Olha, o candidato a deputado é fulano de tal”. Aí as chefias políticas passavam a trabalhar cada um para dar a maior quantidade de votos. O partido fazia a avaliação: “Nós vamos eleger tantos deputados”. Aí fazia a destinação. Dividia os colégios (eleitorais). Quase um voto distrital.No meu caso, eu era apenas uma bucha (expressão que designa candidatos que, sem grandes esperanças de serem eleitos, acabam servindo só para dar votos ao partido e, assim, ajudar a eleição dos figurões). No meu caso, para ter voto, eu ia garimpar. E quando eu ia crescendo que entrava num colégio destinado a fulano de tal, ih, era uma guerra contra mim. Porque não era para eu ir lá.

 

OP –Hoje, se o candidato tiver recurso, ele circula o Ceará em um dia só. Nessa época, como era esse deslocamento?

Iranildo –Os indicados pelo partido às vezes nem iam lá. Os chefes políticos é que vinham aqui. O sujeito chegasse indicado pelo partido e fosse ao município, ele entrava numa redoma. Não podia sair, ficava na casa do chefe (local). Porque o chefe era o chefe. Eleitor não conversava com o candidato. Tudo quem resolvia era o chefe. O deputado não gastava dinheiro. A locomoção se dava muito dependendo da vinculação dele com o município. Fosse no município dele, ele ia. Mas, se fosse no outro município, o chefe político é quem resolvia o problema.

 

OP –O senhor exercia mandato como suplente de deputado estadual quando veio o golpe de 1964. Como foi o impacto na Assembleia.

Iranildo – A Assembleia se omitia de discutir as questões nacionais. Consequentemente, a ditadura era assunto que não se falava. Eram meia dúzia. Eu, Luciano Magalhães, Castelo de Castro, que levantavam a questão da ditadura. Não era nem meia dúzia. E ainda era censurado pelos colegas. “Rapaz, num faça isso, pode vir em cima de nós”.

 

OP –Bom, mas nesse momento, acaba UDN, PSD, PTB. Como foi a transição para criar o MDB?

Iranildo –Muito dolorosa para nós. Nós do MDB éramos caracterizados como comunistas. Imagine, hoje ainda é um estigma muito forte. Naquele tempo, tudo é comunista. Sem ser. Mas aí eu fui organizar diretório. Eu e o Eufrasino Neto. O partido era pouca gente. Diziam: “Você vai para tal região organizar diretório”. Aí era uma dificuldade imensa, imensa. Porque ninguém queria vir para o MDB, por causa disso. Teve um episódio na cidade de Jati. Tinha um rapaz lá que votava em mim. Aí eu fui com o Eufrasino. Já decepcionado. Aí chegamos lá no bar já meio puto. Todo mundo no bar ficava olhando para nós. Eufrasino puxou da pasta dele a lista que a gente tinha dos diretórios que foram extintos. A gente já tava abusado de fazer. Ele perguntou lá para o dono do bar: “Me diga uma coisa”. Já todo policial. “Você conhece fulano de tal?” “Não”. Fulano de tal?” “Não”. Cidadezinha bem pequenininha. Conhecia ninguém. Aí ficava puto. Aí lá pras tantas apareceu um camarada que me reconheceu. “Ah, o senhor é o deputado Iranildo Pereira”. Aí a coisa melhorou, né. Que os caras pensaram que a gente era comunista, que tava atrás de prender as pessoas com aquela listona. Aí, quando eu disse que era, o dono da bodega: “Deputado, o senhor me desculpe. É que a gente tem muito medo, mas eu conheço todo mundo que você mencionou”. Aí eu disse: “Pois mande uma pessoa chamar o Vicente. Vicente Pereira”. Matutozinho, corajoso que só o cão. Mas sem muita liderança. Quando o Vicente me viu foi aquela alegria. Então, a gente passou, naquele município, a receber muita gente. No bar, praticamente, nós organizamos o partido em Jati. Então, o clima era esse, muito hostil. Nem todo mundo, nem todo deputado se propunha a sair. Eram poucos deputados, só 12 ou 15. Mas ninguém queria se expor, porque nós estávamos com a pecha de comunistas.

 

OP – Por isso o senhor lamenta, por ter passado por tudo isso e ver no que se transformou?

Iranildo – No Interior, valia muito a história da coragem do sujeito. E como a minha atuação parlamentar era marcada pela coragem, então eu tinha boa aceitação no Interior. Mesmo sem ter base eleitoral. Naquela época, acho que eu tive 37 mil votos. Sete mil em Fortaleza. Muito pouco. Aí passei a ter 30 mil no Interior. Sem conhecer ninguém. Porque refletia minha atuação parlamentar, de coragem, de enfrentamento agudo.

 

OP – E não tinha TV Assembleia nesse tempo.

Iranildo – E nem rádio. Rádio não noticiava. Chegou um tempo em que se fecharam para mim as rádios aqui em Fortaleza. Só tinha rádio praticamente em Fortaleza. E eu fiz uma campanha contra os Queiroz, que era o problema da universidade, as greves. Aí, a partir dos Queiroz, fecharam-se todos os meios de comunicação para mim. Num era só deles não, era dos outros.

 

OP – O senhor chegou a ser persona non grata no grupo?

Iranildo – Ainda hoje eu sou. Aí, para falar com o povo lá do Cariri, eu ia para Cajazeiras, na Paraíba. Limite. Tem uma rádio muito forte, chama Rádio Piranha. Eu ia dar entrevista lá. Os caras empolgados, radialistas. Às vezes eu vinha de Brasília para dar entrevista, para poder me comunicar. Essa rádio pegava a região quase toda, Iguatu. Mas no Crato eu num dava entrevista.

 

OP –Mesmo com toda dificuldade, o senhor decidiu deixar o mandato de deputado estadual e buscar o de deputado federal. Como foi isso?

Iranildo – Do mesmo jeito. Eu com dois mandatos aqui disse: “Vou ser deputado federal”. Encontrei uma barreira que, por ser deputado estadual, eu votava nos deputados federais. Quando eu disse que era candidato a deputado federal, foi uma guerra. Não vou citar os nomes, que são meus amigos. Mas foi uma guerra danada contra mim. “Isso é um ingrato”. “Não sei o quê”. Teve um que veio na minha casa, eu estava viajando, falou para a minha mulher: “Olhe, convença esse Iranildo a não ser candidato a deputado federal. Vai me prejudicar. E outra coisa: ele num vai ter voto nem porra nenhuma”. Um estímulo, não era?Em vez de dar voto, eu ia disputar com eles. E eu disse: vou provar que tenho voto. Aí fui pra luta, fui pra guerra, já com nome. Dois mandatos estaduais. Aí os candidatos que se elegiam, já tinham os colégios (eleitorais) do MDB, ao invés de perseguir os caras do outro lado, iam perseguir a mim. O pessoal num gostava muito de mim, não. O partido não gostava muito de mim. Por causa disso. Eu estava me confrontando com eles.

 

OP –Quem estava na linha de frente da organização do MDB no Ceará naquele momento?

Iranildo – O chefe era o Martins Rodrigues (ex-deputado federal). Foi a maior figura que nós tivemos.

 

OP – E os membros do MDB tinham qual origem? Gente do PSD, trazida pelo Martins Rodrigues?

Iranildo – A origem era mais PSD. Porque o Martins Rodrigues sempre foi um nome forte. E foi ele quem foi organizar o partido. Eu saia com ele num Volks andando pelo Interior. Com a maior humildade, que eu nunca vi um homemdaquele. Aí os caras do PSD mais fieis a ele, ao Figueiredo Correia, ao próprio Paes de Andrade, eles vieram para o MDB.

 

OP –Todos os depoimentos que já ouvi sobre o Martins Rodrigues o apontam como um dos mais brilhantes políticos que o Ceará já teve.

Iranildo –Foi. Eu convivi na intimidade com ele até o dia da morte.

 

OP – O que faz um homem grande como o Martins Rodrigues? Quais são os elementos que faltam hoje?

Iranildo –Olha, faltaeu não diria não são nem os elementos. É da pessoa. Falta um Ulysses Guimarães, que não apareceu ninguém para substituir. Pelo contrário, vieram esses Michel Temer (vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB), que acabaram o partido. Aqui também falta um Martins Rodrigues, que tinha idéiasfirmes, coragem de enfrentar tudo. E tinha também, não digo ideologia, em termos de direita ou esquerda. Mas tinha ideais. Hoje não tem. Hoje tem uma agremiação política que serve apenas ao presidente. Pode olhar aqui no Ceará. Só é o Eunício (Oliveira, senador e presidente estadual do PMDB).Nem o Mauro Benevides se rebela, que foi presidente a vida toda. Mas foi presidente pra ele, entendeu? Usar o partido lá em Brasília, como o Eunício usa.

 

OP –O senhor teve quase todo seu tempo de mandato durante a ditadura. E resolve virar deputado federal, no fim da ditadura. Não era melhor ficar quietinho aqui?

Iranildo – Eu nunca fui quietinho, aí não dava. Aqui era horrível para mim. Eu tinha posições, eu atuava e então encontrava um ambiente hostil a mim na Assembleia. Eles queriam discutir as questões locais. Eu discutia as questões locais, mas enfocava a questão nacional. Quando eu chego em Brasília, eu já conhecia algumas pessoas importantes, porque havia as convenções nacionais. E eu sempre fui escolhido aqui para ser um dos delegados. E nessas convenções eu não ficava calado. Aí passei a conhecer o Ulysses Guimarães, o Tancredo Neves e tantos outros. Quando havia as convenções estaduais, alguns deles vinham. E o Mauro Benevides me dava a incumbência de ser o cicerone. E teve um episódio. Quando Ulysses já estava com muita força, convidaram ele para um jantar na casa de um Jereissati desses. Eu sabia que o grupo não gostava de mim, por causa da greve da universidade, não queria criar o constrangimento. Eu disse: “Doutor, vamos fazer o seguinte. Eu não vou a esse jantar”. “Por quê?” Aquele jeito dele. “Por isso, isso e isso. Eu vou criar um constrangimento. Para o senhor ou então para eles”. Ele disse: “No lugar que eu for e você não for, eu não vou. Mas você vai comigo”.Aí eu fui. Lá era o Tasso, essa corriola todinha de empresário que já estava querendo usufruir do Ulysses. Ih, rapaz, quando eu cheguei lá, bando de... Era Iranildo para cá, Iranildo para lá. Aí Ulysses faliu: “Rapaz, você disse que esse povo num gosta de você, daquele jeito?” (Risos) Mas tem uma frase dele, numa dessas convenções que era na Assembleia antiga, fazendo a saudação. Ele era formidável na hora de formular o discurso. Se referiu a um e outro, Mauro, Figueiredo. “Agora eu vou falar sobre Iranildo”. Falou e tal umas coisas e disse: “Se o medo fosse a única doença que matasse, Iranildo Pereira seria imortal”. Eu até usei em campanha. Então é assim. Lá em Brasília, quando eu cheguei, eu me acerquei muito dele e do Tancredo. E no gabinete de um e de outro, conversava com um e com outro. Tancredo era aquela sabedoria total. Aí me tornei muito amigo dos dois. Isso me levou a ter certa projeção nacional. Iranildo com Ulysses. Onde ele ia queria que eu fosse. Ao me tornar amigo deles, passei a ter espaço maior na minha atuação parlamentar.

 

OP –O senhor acompanhou de perto a anticandidatura a presidente (1974).

Iranildo –Quando houve a candidatura de Ulysses, o anticandidato, a primeira viagem que ele fez foi a Goiás. Eu fui com ele. Eu, ele e o Jarbas Vasconcelos, que era o vice-presidente do partido. Como o Ulysses era o candidato, ele assumiu a presidência. Aí nós fomos de carro. Fiz essa viagem com ele e fiz várias outras. À Bahia, para o lado do Mato Grosso, aqui para Natal (RN). Andei com ele nessa peregrinação como anticandidato. Foi bom demais para mim. Aprendizagem imensa e uma amizade que eu sabia que era verdadeira.

 

OP –Depois disso, o senhor se engajou na luta pela anistia.

Iranildo – Quero fazer justiça, porque quem mais assumiu a luta pela anistia foram as mulheres, que organizaram. Os homens eram retraídos. As de sempre. A Maria (Luiza Fontenele), A Rosa (da Fonsêca) e outras pessoas da universidade. O primeiro ato que aconteceu aqui, tinha uma mulher que foi muito importante nisso, a Therezinha Zerbini. Aí ela veio aqui para o Ceará. Organizamos uma reunião com ela, num colégio ali perto do Liceu. Até então, com o eu lhe disse, esse movimento da anistia era muito restrito às mulheres. Então, eu falei. Dessa minha fala resultou eu ter uma participação maior no movimento, principalmente com a Maria Luiza.

 

OP – Sobre a Maria, que foi do PMDB, isso remete a algo que eu queria perguntar. O MDB, com a ideia de frente de partidos, reunia muitos grupos. Como era a convivência?

Iranildo – Muito difícil. A formação do MDB era de centro-direita.Tô falando aqui (Ceará). E abrimos o guarda-chuvas para esses grupos que viviam na clandestinidade, não podiam atuar organizadamente. Estava lá dentro a Maria Luiza, o PCdoB, o MR-8. Só gente para criar confusão.  E criava animosidade com o outro pessoal, que não era de esquerda. Naquele tempo, o cabra que era de direita classificava a gente como comunista. Eles não sabiam diferenciar que existiam pessoas, o meu caso, que não eram comunistas. Mas eu tinha as minhas idéiassociais, que se confundiam com as ideias socialistas na minha luta. Era uma convivência muito difícil. Tanto é que, quando extinguiram os partidos (Arena e MDB), que foi para a formação do PMDB, os organizadores daqui criaram uma objeção a mim, Iranildo Pereira. Para eu não fazer parte. Por conta dessa minha ligação. Foi uma confusão danada lá, junto com Ulysses. E eles: “Não ficamos se o Iranildo ficar no partido”. Nessa época, Miguel Arraes estava lá em Brasília para organizar. Quando ele soube disso, falou com Ulysses: “Que história é essa de Iranildo não entrar no partido?” Aí Ulysses disse para ele: “Olha, Arraes, realmente, há esse movimento. Mas não há a menor possibilidade de Iranildo não participar da comissão organizadora”. Quando ele foi formar a comissão, me botou. Chegou a esse ponto. Os caras que tudo posava de corajoso, não vou citar nome, eram os que estavam pedindo a minha cabeça.

 

OP – Foi essa articulação nacional que lhe salvou o espaço.

Iranildo – Se eu não tivesse essa amizade com Ulysses, eu tinha dançado ali. Tinha ido pro PT.

 

OP –Mas depois disso, já na época das Diretas Já, o senhor chegou a ser vice-presidente do diretório no Ceará. Inclusive exercendo a presidência naquele momento-chave.

Iranildo – É que chegou um momento em que eu tinha, numericamente, a maior quantidade de diretórios organizados por mim e por alguns companheiros. Então, eu tinha o maior número de delegados. Os outros não organizaram e eu organizei. Aí eu fui à direção e disse que ia ser candidato a presidente.Vixe Maria. Aí era o Mauro. Até que contemplaram e me deram a vice-presidência. Eu assumi a presidência no período em que o Mauro Benevides foi ser diretor do Banco de São Paulo (Banespa).

 

OP –E como foi aquele momento das Diretas?

Iranildo –Houve um grande comício aqui, em frente ao Theatro José de Alencar, que veio esse povo todo. Ulysses, Tancredo, Marcos Freire, (Francisco) Julião, aquele pernambucano, das Ligas Camponesas. Eu, com esse grupo de esquerda, organizamos o comício. Porque o outro grupo não queria se envolver. E nunca foi de mobilizar ninguém. Queriam pegar tudo feito. Mas não viam com bons olhos o fato de a organização popular ser feita por nós. A gente saia pelos bairros, principalmente pelas fábricas, convocando os operários a virem para o comício. Mas a ala conservadora do partido só queria mesmo era fazer discurso. Foi uma guerra no comício porque eu, sendo o organizador, é que fazia a lista de quem ia falar. Eu dei ênfase às pessoas que vinham de fora. Os daqui, eu não dava muito espaço para eles, não.E eu ficava anunciando e cada anúncio fazia uma espécie de um pinga-fogo. Quando eu anunciei a minha vez, esculhambaram comigo. E, na hora da lista: “Eu num to na lista, não?” “Tá não”. Eu botava quem eu queria, também. O cara foi hostil a tudo que a gente tava fazendo e eu dava para ele o mesmo tratamento?

 

OP – E como foi, mais tarde, a chegada de mais um grupo estranho ao PMDB, que foi a entrada do Tasso e dos empresários, via CIC? Inclusive, o senhor era desafeto de alguns...

Iranildo – Esse processo foi meio doloroso pelo seguinte. Ninguém sabia quem era Tasso Jereissati em termos políticos. Sabia que tinha o empresário. E o nosso candidato a governador era Mauro Benevides. A gente todo empolgado. Era um companheiro antigo, a gente já conhecia bem. Aí fizemos uma reunião, eu, Barros Pinho, Franzé Morais e tantos outros, para reforçar a candidatura do Mauro, que já estava meio bambeando, né. O primeiro ato, assim, de confronto com o Tasso foi nodia da definição do candidato. Nós fomos até para a casa do Expedito Machado (então deputado federal e ex-ministro. Pai do Sérgio (Machado), que era Tasso doente. Aí chegaram com a proposta: “Não, o candidato não vai ser Mauro, não. Vai ser o Tasso”. O Mauro abriu mão para ele. Eita porra, rolou um cacete lascado meu, dessa turma toda. Mas prevaleceu o Tasso.

 

OP – O que o senhor acha que fez o Mauro recuar?

Iranildo – Acho que é o poder econômico. Ele não tinha estrutura financeira. Porque também não acreditavam muito que a gente elegesse o governador. Foi naquele ano (1986) que a gente (PMDB) elegeu todos os governadores, com exceção de um (o de Sergipe). Aí foi o Tasso candidato já com oposição dentro.

 

OP – Passadas mais de duas décadas, o senhor diria que foi a escolha certa?

Iranildo – Rapaz, olhe, eu acho o seguinte: nós tiramos um poder político. E passamos a dar ao poder empresarial. Logo no primeiro momento, nós sentimos a força do poder empresarial. Não foi econômico, empresarial. Aí ele botou quem quis para deputado, hostilizou a nós dentro do partido. E nós, do MDB, ficamos fora. Derrotou quem ele quis.

 

OP – O Mauro, inclusive?

Iranildo – Não, o Mauro não se derrota, não. (Risos). Daí pra cá eu vi que não dava pra fazer mais política. Só a do dinheiro.

 

OP – Um personagem que foi importante para a eleição do Tasso foi o Gonzaga Mota. Como foi a aproximação com ele?

Iranildo –Foi, ele veio para o partido. O Gonzaga foi quem criou a infraestrutura governamental para o Tasso. Para ter uma ideia, ele tirou a diretoria do BEC (Banco do Estado do Ceará, hoje privatizado e incorporado pelo Bradesco) para botar a do Tasso (antes de o Tassso ser eleito). Ele arregaçou as mangas. Embora ele ia ser candidato a senador, a qualquer coisa. O Tasso disse: “Não, você não vai ser candidato a nada. Você vai ficar até o fim do governo”. E ele se submeteu.

 

OP – E depois o Tasso rompeu com ele.

Iranildo – Rapaz, na posse (de Tasso como governador) já tava rompido.

 

OP –E como foi a participação do Gonzaga nas Diretas?

Iranildo – Ele não foi omisso, não. Ele era ligado a Tancredo Neves. Por exemplo, nesse comício ele foi. Não era para ir. Ele foi. Teve uma posição muito boa durante esse período das Diretas.

 

OP –Quando foi em 1989, com Ulysses candidato a presidente, Tasso sai do PMDB, depois de ter feito todo esse movimento de que o senhor falou. Como se deu esseprocesso?

Iranildo – O Tasso queria ser candidato a presidente da República. Isso eu participei lá em Brasília. Então, ele começou a queimar Ulysses. Aliás, num era só ele, não. Tinha um cara lá de Minas Gerais e tinha mais um, num sei se o Pedro Simon. Sei que se uniram para tirar Ulysses da jogada. E o Tasso passou a hostilizar Ulysses, a ponto de querer boicotar a vinda dele aqui. Aí alegava uma coisa que não foi verdade, que Ulysses teria impedido ele de ser ministro da Fazenda. Não foi verdade, mas ele (Tasso) sempre botava isso. Hostilizou de tal modo que passou a ser um adversário de Ulysses.

 

OP –O senhor falou de quando o PMDB elegeu quase todos os governadores. Como ficaram as relações internas num partido tão perseguido que, de repente, se torna poderosíssimo?

Iranildo –Poderosíssimo. Mas havia também a briga, de esses caras que tinham vindo lá da Arena quererem dominar o Sarney. E o Sarney recebia, de certo modo, a presença do Ulysses para evitar aquele negócio. Tanto que, no primeiro momento, o ministério foi todo o que Tancredo deixou.

 

OP – O Sarney enfrentava influência por conta, inclusive, do passado dele.

Iranildo – Da origem dele. E o Ulysses ficava lá o tempo todo. Diziam que o Ulysses é quem governava. Não era. Ulysses não queria era que eleesculhambasse, dando ministério a esse povo todo.

 

OP –Outro personagem que teve papel importante na sua trajetória e eu queria que o senhor falasse a respeito é o Juraci Magalhães. Como foi sua convivência com ele?

Iranildo –O Juraci era um grande amigo. Antes de ser político, assim, de evidência, era muito ligado a Mauro Benevides. Morou até ali perto dele, na 13 de Maio. Era quase um carregador de mala para o Mauro.

 

OP – Ele era um burocrata do partido?

Iranildo – Era. Ninguém sabia que ele era tão organizado. Quando foi para organizar aqui, deram a ele, o Mauro Benevides deu, a função de organizar o partido em Fortaleza. E ele organizou. Por isso que ele saiu vice (de Ciro Gomes, na eleição municipal de 1988). Quando o Ciro foi candidato, Juraci já tinha todo o plano de governo pronto. Ele organizou, porque estava vendo que o Ciro não ia ficar. Ou se ia ficar... Porque achava que ele não tinha muita aptidão. Porque o Ciro num fez muita coisa como prefeito aqui, não. No dia em que o Ciro foi embora, no outro dia o Juraci já saiu com o plano de governo. Aí, bufo, tomou conta. Deslanchou logo, porque já tinha o plano de governo para Fortaleza.

 

OP – Qual era seu papel na Prefeitura?

Iranildo – Eu era uma espécie... Eu não diria aspone, mas eu era um assessor pessoal dele. Mas não tinha cargo, assim, uma diretoria, secretaria. Tanto que uma vez ele insinuou para eu ser secretário, eu não aceitei. Não tenho formação executiva. “Não, Juyraci, deixa eu ficar aqui mesmo. Aqui tá bom pra mim e pra você”.

 

OP – Qual sua avaliação sobre aquele período, de muitas realizações, mas muitas polêmicas também?

Iranildo – É isso que nós estamos vendo aí, hoje, e o que foi Juraci. Foi uma grande administração. Tinha uma coragem muito grande. E dinheiro. Porque naquele tempo, dinheiro rendia dinheiro. Inflação monstra e o dinheiro estocado lá, rendendo. Tanto é que ele ia fazer uma obra, já tinha o dinheiro. Dinheiro municipal. Ele não tinha bom relacionamento para isso lá em Brasília, que ele nem andava, quase, lá. Aí fez o que fez. Sujeito fazer obra com o dinheiro no caixa é muito bom, né.

 

OP – E como foi a saída de vocês do PMDB?

Iranildo –Quando Eunício foi eleito presidente do partido (no Ceará, no fim dos anos 90), contra o Mauro. Eu apoiei o Eunício. Até o Juraci, também. Uma coisa que magoava muito o mauro era o fato de a gente ter feito isso, mas a gente estava tentando uma coisa nova. O Eunício estava representando para nós uma novidade e um compromisso que ele tinha, de ser candidato a governador. Mas foi para Brasília aproveitar da sombra do Paes (de Andrade, de quem é genro).

 

OP – E como se dá a briga dele com o Juraci? Ele havia vencido o Mauro, que era um pouco dono do partido. Depois, foi para cima do Juraci.

Iranildo –O Juraci tinha o comando do partido em Fortaleza, porque foi ele que organizou. Aí começou, com a tropa de choque dele (Eunício), a hostilizar o Juraci. Chegou um momento, veio uma eleição de um diretório municipal aqui em Fortaleza, já começou a guerra aí. A gente apresentava uma chapa, eles apresentavam outra. Eles passaram a hostilizar Juraci e eu passei a tomar posição ao lado do Juraci. Nessa tomada de posição, eles passaram a me hostilizar. Um dia, eu fui a uma reunião do partido e lá eu fiz umas colocações. Aí lá esse Gaudêncio (Lucena, hoje vice-prefeito de Fortaleza, sócio de Eunício) partiu para cima de mim. Com palavras e com a turma de choque dele, pessoal da Corpvs. Ele ia para a reunião e levava esse pessoal todinho. Nesse dia eu disse: não é o meu partido mais. Aí eu fui para outra reunião e levei um revólver. Fui armado, porque se o Gaudêncio partisse para cima de mim, eu metia bala nele. Chegou a esse clima. Aí eu fiz uma reflexão: o que diabo eu estou fazendo num partido que eu preciso ir armado? Aí comentando com o Juraci: “Rapaz, vamos sair”. Aí saímos(Juraci e alguns aliados, Iranildo entre eles, deixaram o PMDB em 2005 e se filiaram ao PL, atual PR). E esse cara (Eunício) transformou o partido numa máquina para ele. O pior é que eu tô aqui esculhambando ele, mas eu termino votando nele. Por quê? É uma oposição, né. É uma chapa de oposição. Se ele for candidato.

 

OP – Mas o senhor vota nele se ele for candidato de oposição...

Iranildo – Que é outra besteira minha, porque eu não tenho nada contra esses Ferreira Gomes, não. Mas é a história, né. Eu sempre fui um homem de oposição. Nunca tive ligação nenhuma com os Ferreira Gomes, mas eu acho que ele (Cid) está fazendo um bom governo. Não vou negar.

 

OP – Então, não existe mágoa?

Iranildo – Mágoa tem. A maior mágoa que eu tenho nessa história todinha é eu ter saído do meu partido. O partido, o MDB, não saiu de mim. Eu saí do MDB, mas ele não saiu de mim. Tive mágoa profunda ao deixar o partido, ir para essas outras coisas. Só fui por causa do Juraci. Se não eu tinha deixado a política totalmente, não queria mais nem saber.

 

OP – Mas pelo PL o senhor chegou a ser candidato a vice-governador, junto do desembargador José Maria de Melo (em 2006).

Iranildo – Foi. Fale disso não. Experiência totalmente negativa para mim.O Zé Maria )elo andou insinuando que topava ser candidato a governador. Aí o Roberto Pessoa (ex-deputado e então prefeito de Maracanaú), o Juraci e eu fomos formular o convite para ele ser o candidato. Ora, na hora ele aceitou. E o vice? Ninguém queria. Ele andava atrás de um vereador azqui e acolá para ser o vice dele. Aí dr. Roberto disse a Juraci: “Tem que botar o Iranildo, senão é desmoralizar, não ter o candidato a vice”. Aí me indicaram. A maior m... da minha vida foi essa.

 

OP – Por quê?

Iranildo – Nada com nada. Não tinha plano, não tinha nada e, depois, ele é um doido. Para ter uma ideia, quando foi no dia da eleição, eu saí com ele e fomos visitar algumas seções eleitorais. Aí chegamos lá no tribunal, que tinha seção, ele foi entrando lá e um cara falou: “Dr. Zé Maria”. Só bastou isso para ele dizer: “Num disse que eu tô eleito. Pode se preparar”. Foi uma loucura. Andar como nós andamos nesse Interior, sem comício.

 

OP – Se essa foi a grande bola fora, qual é o momento que o senhor tem mais orgulho?

Iranildo – Foi a participação na luta em favor da anistia. Eu tive uma atuação muito forte em Brasília. O PMDB era dividido lá. Uns queriam anistia. E nós, o pessoal mais à esquerda, queria anistia ampla, geral e irrestrita. Aí já houve o racha. Mas eu fui até o fim com essa proposta. Foi uma atuação muito importante mina, um coroamento, a gente abrir as portas do Brasil para os brasileiros.

 

OP – O senhor ainda tem envolvimento com o PR hoje, participa das coisas do partido?

Iranildo – Muito pouco. Eu vou mais por causa do Roberto. Num é nem pelo Lúcio (Alcântara, presidente do PR no Ceará), que eu num tinha grande afinidade com o Lúcio. Mas hoje eu já tenho. Porque o Lúcio discordava das posições da gente sempre.

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Carlos Eduardo 24/02/2014 12:12
Deputado Iranildo Pereira trata-se de umas das maiores reservas morais da política cearense. O pais precisa urgentemente de homens com a coragem desse grande político... Parabéns pela trajetória!!
Paulo 24/02/2014 11:42
Que bom a participação do Érico Firmo. Apesar dos brilhantes substitutos que podem ser titulares em qualquer time, torço para que volte logo!
Bel 24/02/2014 09:41
O Hotel dele não é aquele que fica na praia do Iguape, onde os banhistas são incomodados por causa da posição do local, se for ele devia relatar como conseguiu licença ambiental para o mesmo, mas se não for peço desculpas.
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