O sentimento de caminhar pela Praça General Tibúrcio (ou Praça dos Leões) de segunda a sexta-feira é bem diferente da experiência de passar por lá nas noites dos fins de semana. O lugar, cravado no Centro de Fortaleza e que já foi marginalizado décadas atrás, tem erguido uma atmosfera diferente nos últimos quatro meses, para se transformar em música, dança e corpo que vibra. Por lá, o glitter pede passagem, e mesmo quem não usou os brilhos pelo corpo recebe um pouco do que fica grudado no suor e na roupa, depois de uma meia dúzia de abraços.
O fluxo de gente intensificou de tal forma que uma festa que deveria ser para 300 pessoas, se transforma em um evento que arrasta 2 mil. É a Cidade latejando em frenéticos movimentos. Mas não é novidade haver festas na Praça. Elas acontecem, pelo menos, desde 1998, quando os atuais donos do bar Lions Self-Service assumiram sua gestão. Até pouco tempo, antes de novos grupos redescobrirem a praça e o Lions, as festas que aconteciam por ali agregavam um número bem menor de pessoas. Eram calouradas universitárias, comemorações do Cine Ceará, carnavais e eventos particulares.
O catalisador de toda essa movimentação é o Lions, bar que o casal Fátima Silva, 62, e Eufrásio da Silva, 75, toma conta há 18 anos. Paraibanos, eles vieram morar em Fortaleza depois que o negócio deles - no mesmo ramo - deu errado na cidade de Campina Grande (PB). Já em Fortaleza, encontraram o ponto na Praça da Leões logo que chegaram. Deu certo no Ceará. “Quando procuram a gente para fazer evento aqui, eu digo: venha, meu querido. Eu não posso esperar essa crise passar. Traga gente”, conta Fátima. Animada, ela diz que, de quatro meses para cá, o rendimento do bar melhorou, a despeito do que vinha acontecendo nos últimos anos. Tempos de crise. Não mais para o Lions.
Fátima atribui o fenômeno, especialmente, às redes sociais. Nesse momento da entrevista (feita no bar), Eufrásio senta à mesa e se apruma para explicar. “Começou assim: um rapaz que trabalha com arte e cultura fez um aniversário aqui e essa festa saiu no Facebook dele. Como a internet é um ambiente de comunicação, isso, rapidamente, toma uma proporção grande. Aí outro quis fazer aniversário aqui também, gerando um fluxo maior de gente, porque já tava circulando no Facebook. E assim começou”, conta e emenda. “É um meio de melhorar nossa renda e levantar o Centro da Cidade, que precisa de gente”.
Bem histórico
Com a grande quantidade de pessoas frequentando a Praça dos Leões (bem tombado pelo Estado em 1991), a Prefeitura e a população precisam ficar atentos à preservação do espaço, que passa a ficar mais exposto. De acordo com o titular da Secretaria do Centro, Ricardo Sales, a revitalização, concluída em junho, fez com que a praça se tornasse mais atrativa para a população (mesmo que o entorno continue sendo alvo de denúncias de insegurança).
“Com a praça mais iluminada e a população usando, não deixa de ser um combate à criminalidade”, analisa o secretário. Algo que passou a ocorrer com a maior ocupação da Praça foram carros estacionados na parte superior do equipamento, o que não é permitido. Segundo o secretário, nos últimos eventos, isto começou a ser coibido. Mesmo assim, Carlos afirma que nenhuma ocorrência grave foi registrada. De qualquer forma, fica a proposta para que as pessoas se apropriem cada vez mais de um espaço que é da Cidade. A Lions é nossa!
Saiba mais
A construção do prédio onde está o Lions Self-Service foi concluída em 1915,para se chamar Palacete Brasil. No início, foi endereço do Banco do Brasil, mas logo cedeu espaço para também ser o Hotel Brasil.
O antigo Palacete Brasil compõe um conjunto arquitetônico. A praça é o encontro das ruas General Bezerril, São Paulo e Sena Madureira. Os vizinhos do Lions são: o Museu do Ceará, a Igreja do Rosário e o Palácio da Luz (Academia Cearense Letras).
Bate-papo com o leitor
Passei alguns dias da última semana dedicada a ouvir histórias sobre as festas na Praça dos Leões, para escrever matéria publicada na edição deste domingo. Conheci os donos do bar Lions Self-Service, conversei com pesquisadores, frequentadores e Prefeitura. Até o começo da noite de sexta-feira, quando fechei a matéria, "violência" e "confusão" eram verbetes inexistentes nos discursos das pessoas que ouvi. E do meu discurso também, que fui a algumas destas festas do Lions e jamais presenciei um bate-boca sequer. Até a manhã deste sábado (quando soube do que houve), a primeira coisa que vinha à memória quando pensava nestes eventos era glitter. É lamentável e estarrecedor ler esses relatos sobre a noite de sexta no Lions.
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