Vista da rua, na manhã da última quinta-feira, a escola Humberto Castelo Branco, no Montese, parece vazia. Do lado de fora, não há sinal do burburinho dos alunos chegando para o primeiro turno das aulas. Lá dentro, porém, a unidade acordou cedo. Antes das 9 horas, Mara Régia de Almeida Mendonça atende a porta da escola. De cabelos tingidos de lilás e óculos azuis, a adolescente de 16 anos ainda estava sonolenta. Pela primeira vez, havia dormido no colégio.
Essa tem sido a rotina de estudantes secundaristas que ocuparam cerca de 50 unidades educacionais no Ceará desde o fim de abril, quando estourou a greve dos professores. Eles se revezam na limpeza do espaço, fazem pequenas reformas, organizam grupos de estudos e realizam oficinas artísticas. Também pedem mais verba para a merenda e passe livre estudantil.
São jovens com idades entre 15 e 20 anos e um discurso que ecoa os movimentos que explodiram noutras capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, onde dezenas de colégios foram ocupados em protestos contra a baixa qualidade da merenda. Mas não apenas. Essa nova geração também tenta encontrar respostas num momento de grave crise política no País.
Na última semana, O POVO visitou duas escolas ocupadas para saber o que pensam os estudantes. Na fala de muitos, algumas características se destacam, como a rejeição à institucionalidade e aos partidos, formas alternativas de organização social, a resolução de conflitos pela via do consenso, o respeito à diversidade, a autogestão e um senso crítico refinado.
Aluna do 1° ano do Ensino Médio, Mara Régia representa a ocupação em reuniões com outras escolas, mas dispensa o rótulo de líder. “Em um movimento de muitos, em que está todo mundo lutando pela mesma coisa, a gente não precisa de líder”, afirma.
Na Escola Adauto Bezerra, no Bairro de Fátima, ocupada em 4 de maio, os estudantes priorizam a “horizontalidade e a paridade de gêneros”. Segundo Juliana Costa, 17, aluna do 3° ano, “desde o cardápio até a continuidade da ocupação”, tudo é decidido em assembleias. “A gente vai aprendendo a usar o bom-senso, e isso pode ser usado para outras coisas. Para o sistema político, por exemplo.”
Também aluno da Adauto Bezerra, Matheus Lopes, 17, acredita que a ocupação é um ato político. “Muitas vezes os nossos representantes não nos representam. Isso aqui é outra forma de protagonismo”, avalia.
De acordo com Mara Régia, a maioria das ocupações é autônoma. “A gente aceita apoio, como doações, mas não quer ser cooptado (por partidos). Muitas dessas instituições são oportunistas”, critica. Para ela, a ocupação “não é política, mas é história”.
Assista a relatos e depoimentos de estudantes que ocupam escolas no Ceará.
O POVO online
O POVO visitou duas delas na última semana e conversou com os alunos sobre o momento político do Brasil e as formas de organização nas quais acreditam
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