A rua Saudade, no Montese, é uma curva. Dessas parecidas com os caminhos tortos que a vida nos obriga a percorrer antes de a lembrança construir morada no peito. Com apenas 395 metros de extensão, quem passa por ali quase nunca atenta ao nome, mas ele está por todos os lados: em placas de orientação, correspondências e, principalmente, nas histórias contadas pelos moradores.
A saudade existe. Daydiane Oliveira, 29, sabe, mas prefere não pensar no sentimento que batiza a rua. A dona de casa busca na memória algum exemplo, mas é difícil recordar. “A saudade é triste, maltrata, mas é importante pra gente. É como se as coisas boas continuassem perto”. Mesmo assim, ela não quer que as duas filhas guardem o sentimento - o que reconhece ser impossível.
Outra moradora dali, Maria do Socorro Lima, 63, não se incomoda com a saudade grafada na rua e nas lembranças. Para a aposentada, é bom recordar os momentos como as conversas na casa da mãe em final de tarde ou quando a juventude parecia eterna. “Mas a gente não pode ficar pensando muito nas saudades. Basta sentir”.
E quando a saudade teima em ficar? Dalila Moreira, 25, já tentou, mas não consegue esquecer o namorado que foi morar em São Paulo. “Eu era casada e a gente se conheceu assim que me separei. Em pouco tempo, começamos a morar juntos, mas ele não conseguia emprego aqui. Teve que viajar”, recorda.
O combinado era que a viagem durasse dois anos, mas há cinco eles não se encontram. “Perdemos o contato, mas eu não deixo de pensar nele. Principalmente, à noite, quando eu chego em casa e ele não está”, comenta. Para a diarista, toda história de amor desemboca em saudade.
Longe dali, a costureira Maria de Deus Silva, 57, pensa parecido. Ela mora na Avenida da Saudade, no Passaré, e não sabe o que é o sentimento há um mês. Foi nesse período que ela e o marido se reconciliaram, após passar um ano sem trocar palavra. “A gente brigava muito. Ele queria sossego e minha casa vivia cheia de gente. Aí ele decidiu morar só”.
Poucos metros atrapalhavam a união de 31 anos. Eles não moravam longe, mas era como se fosse. Para não se perder nas lembranças, Maria mergulhou no trabalho. “Foi o período que mais costurei na minha vida. Não queria ficar com a mente vazia, porque, nessas horas, a saudade vem”.
Foi uma crise no casamento da filha mais velha, Ana Paula, que obrigou os dois a retomarem as conversas. Perceberam que podiam tirar dali o fôlego para restabelecer o casamento. Maria de Deus se mudou para a casa alugada pelo marido durante a separação. Começam nova vida: longe das brigas, perto dos filhos. A saudade agora não mata ninguém, é só um nome no alto da placa.
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