Pouca gente se surpreendeu quando, na última semana, Ciro Gomes (Pros) disparou pesadas críticas ao até bem pouco tempo aliado Eunício Oliveira (PMDB). Anunciado há meses, rompimento entre o clã Ferreira Gomes e o peemedebista é só mais um caso em uma linhagem de conflitos nascidos de antigos aliados. Na história política local e nacional, exemplos que ilustram a tese não faltam: mais regra que exceção, maioria das grandes rivalidades partiu de quem até pouco tempo antes andava de mãos dadas.
Após seis anos de aliança, rompimento entre o governador e a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), é um desses casos. “Nem a indústria naval do mundo inteiro vai estragar essa relação de carinho e amizade”, disse Cid à petista em 2010, durante crise do estaleiro do Titanzinho. A “inabalável” amizade veio abaixo dois anos depois, após a Prefeitura de Fortaleza virar alvo de cobiça de ambos. “Gestão Luizianne está exaurida”, disse Cid à época.
Não restritas aos Ferreira Gomes, ao Ceará ou à redemocratização, rivalidades do tipo acompanham a República brasileira desde o seu berço. Homem de confiança do imperador D. Pedro II até a noite anterior à instauração do regime republicano, o Marechal Floriano Peixoto virou às costas ao aliado em 15 de novembro de 1889. Encerrada a Monarquia, o “Marechal de Ferro” assume a vice-presidência do País, vindo a se tornar o segundo presidente brasileiro em novembro de 1891.
Mais de meio século depois, o embate entre aliados permaneceu na vida pública brasileira. Alçado em cúpula pelos coronéis Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora ao governo do Ceará em 1983, o professor Gonzaga Mota rompe com o PDS - partido de seus mentores - e lança Tasso Jereissati (então PMDB) à sua sucessão. O “karma” foi imediato: entre eleição e a posse de Tasso, o novo governador nega partilha de cargos e encerra relações com Gonzaga Mota.
O “rosário” de rompimentos não parou por aí. Após estabelecer domínio político no Ceará e eleger Ciro Gomes seu sucessor, Tasso acaba isolado na disputa pelo Senado em 2010. Na época, o ex-governador rompe com Cid e Ciro Gomes, após eles cederem a pressões do PT Nacional e apoiarem José Pimentel ao cargo. Agora, o próprio Cid vivencia novamente a situação, ao ver em Eunício, antigo aliado, seu principal adversário na eleição deste ano.
Ideologia e votos
Entre pesquisadores, a alta flutuação de alianças pode ser explicada pelo pouco peso ideológico e forte caráter eleitoreiro da maioria das alianças. Coligações sem peso ideológico explicariam, por exemplo, reaproximação entre o PT e o deputado Paulo Maluf (PP) em São Paulo. Antigo rival dos petistas no Estado, Maluf se reaproximou para facilitar campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo em 2012.
Da mesma forma, outros adversários históricos de Luis Inácio Lula da Silva (PT), como José Sarney (PMDB), Fernando Collor de Mello (PTB) e Eduardo Paes (PMDB-RJ) também acabaram unidos no mesmo palanque do petista.
DE AMIGOS A RIVAIS
1. Gonzaga Mota e os coronéis Alçado ao governo pelos coronéis Adauto Bezerra, Virgílio Távora e César Cals, Gonzaga Mota rompe com eles para apoiar Tasso Jereissati à sua sucessão. No detalhe, reportagens do O POVO de 1983
e 1985 mostram mudança na relação entre eles.
2. Tasso Jereissati e Ciro Gomes Padrinho de Ciro desde o início de sua carreira política, o então governador Tasso alça o jovem Ferreira Gomes à presidência da Assembleia. Logo após, trabalha ativamente para eleger Ciro prefeito de Fortaleza e, dois anos depois, governador do Ceará. Em 2002, vai contra o próprio partido e apoia Ciro (no PPS) à Presidência da República. Em 2006, repete a postura e apoia Cid Gomes (no PSB) ao governo do Ceará, contra o seu correligionário Lúcio Alcântara. Em 2010, rompe com os Ferreira Gomes e perde reeleição.
3. Luizianne Lins e João Alfredo Em 2006, quando Luizianne sai candidata à Prefeitura sem apoio do PT, João é um dos poucos petistas a rejeitar determinação nacional para apoiar Inácio Arruda (PCdoB) na disputa. Em 2005, quando deixa o PT, João tenta trazer a prefeita para o Psol. “Ela tem o meu respeito e o meu apoio, estaremos juntos”, disse. Em 2008, é eleito vereador e se torna um dos mais ativos opositores da petista na Câmara.
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