REVISTA O POVO NORTE 28/04/2016 - 13h48

Kallifon, made in Aracatiaçu

Filho de agricultor, o empresário João Nelson Mesquita Viana, 48 anos, iniciou sua trajetória de sucesso vendendo calcinha de porta em porta no Distrito de Aracatiaçu. Hoje, ele é proprietário da marca Kallifon Lingerie, que conta com 13 lojas no Ceará e em outros estados
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Foto: Wellington Macedo

Tudo começou com uma máquina de costura antiga. A esposa, na época namorada, produzia as calcinhas e João Nelson Mesquita Viana vendia de porta em porta no Distrito de Aracatiaçu, distante 60 quilômetros de Sobral. Nesta entrevista, o empresário de 48 anos relembra a trajetória que levou ao sucesso da marca Kallifon Lingerie. São 13 lojas no Ceará e em outros estados e cerca de cinco mil revendedoras cadastradas.

João Nelson comanda a empresa ao lado da mulher, Maria Iraídes, 44, responsável pela criação das coleções de lingerie. A fábrica ainda hoje funciona em Aracatiaçu, na antiga casa da família. Os planos são construir uma nova unidade em Sobral e abrir mais duas lojas fora do Estado. Mas sem abandonar as raízes. “Ninguém vai levar a fábrica daqui. É uma coisa de que não abro mão. Nossa ligação com Aracatiaçu é muito forte”, revela o empresário.

Como foi sua infância em Aracatiaçu?
Meu pai é agricultor, daqui de Aracatiaçu, e minha mãe era enfermeira, mas deixou de trabalhar para casar com meu pai. Meu pai sempre foi da roça, cuidava de gado, a gente morava num sitiozinho aqui próximo. Minha infância toda sempre foi muito pobre, foi uma infância muito difícil, vendia goiaba para poder ajudar na renda familiar. Em 1981, fomos expulsos desse sítio, morávamos de favor lá, e viemos para cá, onde é a fábrica hoje. Na época, era um casebrezinho. Aí me chamaram num comércio para ser entregador. Ganhava a metade da metade de um salário mínimo. Na época, eu também andava muito na igreja e, de certa forma, me envolvia nos trabalhos da igreja, abria e fechava a igreja. Quando fui trabalhar nesse comércio, uma freira que gostava muito de mim sentiu minha falta e perguntou quanto eu estava ganhando e disse que pagava a mesma coisa pra eu ficar abrindo a igreja. E eu fiquei, saí do comércio. Me tornei sacristão e, depois, motorista do padre. Foi nesse período que conheci minha esposa, que também era da igreja. Era catequista e por convivermos juntos acabamos criando esse relacionamento.

E como foi a trajetória até surgir a Kallifon?
A mãe da minha esposa era costureira, fazia pequenos consertos em casa. E, consequentemente, minha esposa aprendeu a costurar. Ela disse que tinha o sonho de um dia fazer algo para vender, relacionado à costura. Juntou um dinheirozinho lá, eu incentivei bastante e ela comprou uns tecidos para fazer dez calcinhas. Fez numa maquinazinha na casa da mãe dela e passou a vender para a família mesmo e deu certo. Nesse período, o padre saiu da paróquia e eu fiquei desempregado. Ele me deu um valor como indenização pelo tempo que passei lá. Comprei uma máquina melhor pra ela, nova, porque a que tinha era terrível, passava o tempo quebrada. Eu digo que foi nesse momento que a gente deslanchou, passou a ter um potencial maior de fabricação. Minha mulher costurava e, como estava desempregado, eu vendia de porta em porta aqui na cidade. Com o dinheiro, a gente comprava mais tecidos e vendia mais... A demanda melhorou, aumentaram os pedidos e a gente convidou a irmã dela para trabalhar, já que tinha essa outra máquina usada da mãe. E começamos a ampliar, fizemos alguns sutiãs também, isso em 1989, 1990. Quando casei, em 1993, já existia a empresa. E foi começando a melhorar, comprando mais uma maquinazinha... Em 1996, fiz um empréstimo do Banco do Nordeste, de R$ 7.100, e compramos três máquinas industriais. Foi o período que a Kallifon deu um avanço. Passamos a vender para o comércio de Sobral também. A gente procurava aquelas lojas de confecção, de multimarcas, e vendia essas peças. Até que a gente conseguiu uma pessoa lá em Sobral para revender nossas peças, numa lojinha, que foi a Eveline Dias. Nessa época, o quartinho que a gente tinha em cima da casa da mãe da minha mulher já era pequeno (para a produção). Aí resolvemos fazer no quintal da minha casa, um fundo de quintal realmente, um espaço maior. Enfim, foi tudo bem lento, passo a passo.


Como foi a escolha do nome Kallifon?
Foi até uma brincadeira, na verdade. A avó da minha esposa era uma pessoa bem velha e se referia sempre a sutiã como kallifon. Kallifon é uma palavra francesa que quer dizer sutiã. A gente achava hilário aquilo. Procurando um nome para colocar na empresa, pensamos em botar kallifon. Aí uns riram e tal, mas botamos e pegou. Hoje acho que foi uma escolha boa, que tem tudo a ver com o que a gente fabrica.

Vocês ainda moram em Aracatiaçu?
Hoje não moro mais aqui, tudo aqui é a empresa. Fomos comprando casas ao lado, nos fundos e hoje tudo aqui funciona como empresa. Tenho uma casa aqui em cima de suporte, mas moro durante a semana em Sobral, meus filhos estudam lá. E a gente passa o maior tempo dos fins de semana em Fortaleza.

Vocês têm quantos filhos?
Dois filhos. Tenho a Isadora, de 16 anos, e o Jonas, de 12 anos. Inclusive, a minha filha está hoje na Inglaterra fazendo um curso de Administração. Ela quer (cursar) Administração e, depois, Estilismo e Moda. Porque a mãe dela também é formada nessa área.

Hoje a empresa conta com 13 lojas no Ceará e em outros estados. Como foi essa expansão?
De 2009 para cá, a Kallifon deu um salto significativo, foi quando passamos a investir em lojas próprias. Porque até então a gente tinha lojas terceirizadas, fabricava e colocava na loja de alguém para vender. Abrimos a de Juazeiro (do Norte), a de Fortaleza e o faturamento começou a aumentar. Investimos pesado na marca. O nosso maior patrimônio é a marca. A gente tem crescido em média de 30% a 40% ao ano.

 

Como se reinventar nesse mercado?
É muito simples, é foco. Até então, esse mundo de lingerie era muito focado para magazine, para terceirizar paras outras pessoas venderem. A gente tentou sempre se focar na marca e hoje o que vende não é a lingerie, é a marca kallifon. Vende pela qualidade e pela dedicação que temos integralmente à nossa empresa. Como nos reinventamos? Ano passado investimos pesado em treinamento. Passamos por duas consultorias dentro da empresa e mais uma fora. Levamos todo mundo para treinar. Nós temos pessoas altamente produtivas e comprometidas na nossa empesa. E a ideia é essa, procurar fazer uma gestão boa, sem se arriscar muito, fazer tudo com pé no chão.

Há planos de expansão?
Sim, conseguimos este ano um terreno em Sobral, em frente ao Assaí (rede atacadista). Nossa ideia é levar nossa fábrica para Sobral, próximo à BR, que vai dar uma visibilidade maior para a empresa. Este ano, reinauguramos a loja de Crateús, que era pequena e hoje é imensa. Estamos reformando a de Sobral e temos planos para abrir mais duas lojas este ano, uma em Teresina, no Piauí, e a outra estamos estudando o mercando ainda, fora do Estado.

De onde vem a matéria-prima para confeccionar as lingeries?
Boa parte vem de Santa Catarina, polo industrial de malhas, e de São Paulo. E trabalhamos muito com renda importada da China.

 

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