CURIOSIDADE 24/09/2018 - 07h00

Futebol: rivalidades em alguns clássicos do esporte

Guerras e histórias de independências são ainda hoje pano de fundo para disputas em campo. Confira cinco exemplos e entenda porque muitas vezes os ânimos são acirrados durante as partidas
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Foto AP
Briga entre sérvios e albaneses após o meia sérvio Mitrovic derrubar uma bandeira kosovar/albanesa

Muito se escuta sobre como o futebol é capaz de promover um encontro entre povos e nações e como este pode ser usado em prol da paz. Mas fora dessa imagem romantizada, as quatro linhas ainda são usadas como campo de batalha. Não à toa, os goleadores são chamados de "artilheiros". Conheça alguns clássicos que são movidos por antigas guerras e questões políticas.

Barcelona x Real Madrid
O El Clásico foi, na última década, um verdadeiro embate entre o argentino Lionel Messi e o português Cristiano Ronaldo, agora na Juventus. O mundo parava para ver o confronto dos dois maiores jogadores dos últimos dez anos. Muito mais que isso, o clássico espanhol tem em suas raízes questões históricas e políticas. De um lado, o Real Madrid, time da capital da Espanha, representando a centralização e a unidade espanhola pela camisa do clube madrilenho; do outro, o Barcelona da Catalunha, região que, há tempos, luta por sua autodeterminação e pela independência da Espanha. Muitos jogos foram movidos por protestos de ambas as partes. Os torcedores do Barcelona usavam os jogos como maneira de pedir a emancipação catalã cantando o hino e erguendo bandeiras da Catalunha.

Rangers x Celtic
O Old Firm, com um total de 578 jogos, é um dos clássicos mais antigos do mundo, disputado desde 1888. O embate escocês, com bandeira político-religiosa, divide protestantes e católicos há mais de 130 anos. Os Rangers, que desde 1890 só contratavam jogadores protestantes, são anglicanos, pró-Reino Unido e possuíam simpatia pelo Ulster Volunteer Force (UVF), grupo paramilitar anti-católico da Irlanda do Norte. O Celtic é o clube com predileção pelos católicos e simpatiza com o grupo paramilitar católico Exército Republicano Irlandês (IRA), extinto em 2005. Os confrontos entres as equipes sempre são marcados por torcidas inflamadas e jogadores com nervos à flor da pele dentro da cancha. Os torcedores do Celtic sempre mostram apoio à Irlanda católica romana; os adeptos dos Rangers com bandeiras do Reino Unido.

Argentina x Inglaterra
Em 1982, todas as vezez em que essas seleções enfrentaram-se, levaram a campo a sangrenta Guerra das Malvinas, conflito armado entre Argentina e Inglaterra pelas Ilhas Malvinas, localizada no sul do Oceano Atlântico. Na Copa do Mundo de 1986, disputada no México, os dois times confrontaram-se, com vitória dos sul-americanos por 2x1. Neste jogo, Maradona marcou seu inesquecível gol de mão e outro em uma arrancada do meio de campo driblando meio time inglês. A vitória sobre os ingleses foi mais que esportiva: foi militar dentro da cancha.

Sérvia x Albânia
As relações entre os vizinhos dos bálcãs sempre foram delicadas, com várias guerras no histórico. O conflito é ainda movido por questões étnicas-religiosas. A Albânia tem 61% de sua população muçulmana e 84,5% dos sérvios são cristãos ortodoxos. Atualmente, o Kosovo é o centro do conflito entre os dois países - 92% de seus habitantes são de origem albanesa. Por mais de 500 anos, o Kosovo fez parte do Império turco-otomano e, em 1912, foi integrado à Sérvia e não à Albânia. Declarando-se independente dos sérvios em 2008, a província ainda não tem sua emancipação reconhecida por muitos países. Até hoje, o encontro entre Sérvia e Albânia traz à tona esse conflito. Em várias partidas, sempre é possível ouvir o canto dos sérvios com dizeres "Kosovo je Srbija", que significa Kosovo é Sérvia.

Croácia x Sérvia
Os ânimos ainda não esfriaram entre as antigas províncias da Iugoslávia. Mais de 20 anos após a desintegração iugoslava e a Guerra da Bósnia, os embates dentro de campo entre Croácia e Sérvia cheiram aos antigos conflitos. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Croácia, governada pelo regime Ustaše, propôs uma limpeza étnica dos sérvios em todo o território croata. Em 2013, o então técnico croata Igor Štimac, fez a proposta de que o pontapé inicial da partida fosse dado por dois generais do período dos conflitos, gerando uma instabilidade ainda antes da partida. Em tempos de paz e tentativas de reconciliação, esse clássico dos Bálcãs ainda é tido como um barril de pólvora.


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