ESPECIAL DIABETES 14/12/2018 - 13h29

Diabetes: por que não queremos falar da doença?

Doença que afeta mais pessoas a cada dia, a diabetes precisa de conhecimento e aceitação para ser combatida de forma correta. Trabalhos de conscientização auxiliam no processo de aprendizado dos pacientes
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Hamlet Oliveira hamlet.oliveira@opovo.com.br
LaylaBird/GettyImages
Apoio constante da família é fator importante para pacientes com diabetes pelo risco de desenvolvimento de depressão

O silêncio é uma das principais marcas da diabetes. Com manifestação por meio de sintomas que podem passar despercebidos, como urina em excesso ou perda de peso, a doença vem crescendo em todo o mundo, com 425 milhões de diagnosticados, dados de 2017. Só no Brasil, estima-se que mais de 13 milhões sofram com a doença. Por conta da falta de conhecimento de muitos, o número tende a crescer.
 
Mesmo com todo o processo de conhecimento e campanhas de conscientização, especialistas apontam que ainda ocorre resistência por parte dos pacientes em aceitar a condição e os riscos da doença. Para Hermelinda Pedrosa, endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB), o mais comum é que os novos pacientes afirmem apenas estarem com "a glicemia um pouco elevada", sem darem a importância necessária a diabetes. "Isso é uma coisa que precisa ser desmontada, porque ela (diabetes) é silenciosa e pode trazer complicações muito graves, ou ser diagnosticada muito tarde", afirma.
 
Em 2018, o tema da campanha do Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, foi Diabetes e a família. De acordo com Hermelinda, essa pauta merece destaque, pois o apoio familiar é importante para a condução do tratamento. No caso de diagnósticos do tipo 1, que em geral ocorrem na infância ou início da adolescência, a aceitação tende a ser maior, pois é algo que faz parte do cotidiano da pessoa.
 
"O paciente da diabetes tipo 2 pode ter um comportamento de forma errática por mais tempo, pois eles têm dificuldade de ter aderência ao estilo de vida. O paciente tipo 2 não é só a glicemia, é o peso, a pressão arterial, problemas relacionados à gordura no sangue, tudo coexiste quando se tem a doença." A especialista alerta que, em ambos os casos, existe risco do desenvolvimento de depressão, o que reforça a importância do apoio constante da família.
 
No caso de Antenor Moreira de Freitas, 69, portador do tipo 2, os primeiros sinais da doença vieram há 13 anos, com um glaucoma que afetou a visão do olho esquerdo. Depois de continuar a não se cuidar, começaram a surgir problemas vasculares nas pernas. "Desci do ônibus e caí, minha perna não aguentou mais. Dei um arranhão no dedo, aí foi o começo. O médico olhou, passou um remédio e mandou pra casa. Continuou doendo. O médico mandou procurar um especialista vascular. Aí eu procurei e ele disse que ia ter que amputar meu dedo", conta Antenor. Ambas as pernas foram amputadas devido a complicações da doença. 
 
Desde então, Antenor vem se reabilitando por meio do uso de próteses. O avanço foi atrasado por conta de um AVC sofrido em junho de 2018, quando perdeu novamente a capacidade de andar. Aos poucos, os exercícios diários vêm melhorando o caminhar. 
 
Mudança de vida
Diretora da ADJ Diabetes Brasil, a endocrinologista Denise Franco reforça que a diabetes tipo 2 ainda possui o estigma social, ligado a um comportamento sedentário. Dessa forma, as limitações impostas pela nova rotina também podem ser fatores que comprometem o cotidiano dos diagnosticados.
 
"Você tem a mudança de estilo de vida, tem que ter o ajuste da medicação, tomar nos horários corretos. A insulina tem toda uma rotina, ajustar a ponta de dedo, a dose de insulina que vai tomar, isso faz uma diferença grande na vida de quem tem diabetes. Tem gente que leva de maneira mais fácil e outras que olham com mais dificuldade", conta Denise.
 
Apoio em conjunto  
Criada em 2006, a Associação Cearense de Diabéticos e Hipertensos (Acedh) busca levar conhecimento para os diagnosticados com a doença. Helena Rocha, fundadora da Acedh, explica que o trabalho atual é para o empoderamento do paciente por meio de ações educativas. Um dos pilares do tratamento, ressalta, é o aspecto multidisciplinar, ao envolver endocrinologistas, nutricionistas, enfermeiros, educadores físicos e outros. A associação, que conta com mais de dez mil membros, tem parceria com a ADJ para apoiar a expansão do atendimento ao diabético no Brasil.
 
Helena explica que a abrangência do tratamento feito no Ceará precisa crescer, com uma futura inauguração de mais centros especializados. "Precisamos de um alto investimento em infraestrutura e na compra dos insumos para que não faltem para os portadores da doença." Hoje, o atendimento da Acedh é realizado na rua Jorge Dumar, 2340, no bairro Montese.
 
Quanto à relação dos pacientes com familiares e amigos, Helena ressalta que a Acedh, além de promover a integração, também realiza eventos com profissionais como forma de tirar dúvidas mais comuns dos portadores de diabetes. "A associação promove esses encontros buscando ouvir o paciente, trabalhando o empoderamento, sempre deixando claro que o diagnóstico do diabetes não é uma sentença de morte, mas uma mudança de vida e de adoção de hábitos saudáveis que se traduzem numa melhor qualidade de vida."
 
De acordo com Shérida Paz, enfermeira, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e educadora em diabetes, aspectos culturais, biológicos, psicológicos e econômicos são discutidos quando se fala da enfermidade. "Os pilares do manejo adequado da diabetes incluem alimentação saudável, prática regular de exercício físico, gestão das emoções e cuidados com insulinas e/ou medicamentos via oral. Por isso, o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar é fundamental para o tratamento e manejo da doença, uma vez que cada profissional contribuirá especificamente em sua área e, juntos, potencializam os cuidados, as orientações e o apoio que a pessoa com diabetes precisa."
 
 

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