O POVO PEOPLE LUXO 28/04/2017 - 14h47

O mundo em fusão de Walter Salles

A People Luxo homenageia o diretor que fincou o cinema brasileiro no cenário internacional das grandes produções
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Jáder Santana jadersantana@opovo.com.br
Foto: divulgação

A história de Walter Salles não renderia um filme. Na trajetória de um dos maiores cineastas brasileiros, não há grandes dramas, histórias de bravura e lições de moral. Nasceu em uma das famílias mais ricas do País, o que naturalmente o afasta do imperativo de superação e escalada muitas vezes imaginado para os artistas. Mestre em comunicação audiovisual pela Universidade da Califórnia e listado pela revista Forbes como uma das pessoas mais ricas do Brasil, seguiu um curso que foge do tradicional conto de fadas.

É seu cinema o que chama atenção. As histórias que decidiu contar, as adaptações que realizou, as ousadias que cometeu: para ser decifrado, Walter precisa ser assistido. Com trajetória que começa nos anos 1980 e avança até os nossos dias, o carioca fez filmes que refletiram seus tempos. A redemocratização e a frustração da juventude, as relações familiares, os costumes de um interior esquecido, tudo foi captado pelas lentes de Walter.

Filho do banqueiro e diplomata Walther Moreira Salles - milionário elegante e amigo dos irmãos Rockfeller - e de Elisa Margarida Gonçalves - colecionadora de moda -, cresceu com a segurança de uma herança familiar que em 2016 lhe garantiria um patrimônio de mais de R$ 12 bilhões. A família Salles detém o controle acionário do grupo Unibanco, que em 2008 entrou em processo de fusão com o Itaú, dando origem ao holding Itaú Unibanco.

Walter é irmão do banqueiro Pedro Moreira Salles e do documentarista João Moreira Salles, criador da revista Piauí, ambos presentes na lista da Forbes de pessoas mais ricas do País. Casado com Maria Klabin, é pai de Vicente, nascido em 2006. Antes de se dedicar ao cinema, estudou economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Hoje, é considerado o cineasta mais rico do mundo, com fortuna que ultrapassa a de George Lucas, da franquia Guerra nas Estrelas.

Cena do filme Diários de Motocicleta. Foto: reprodução

A trajetória
Depois de morar nos Estados Unidos e na França, e de concluir sua formação acadêmica, voltou ao Brasil. Durante a década de 1980, realizou uma série de entrevistas, especiais e documentários para a televisão, como o Conexão Especial, até que em 1987 fundou, ao lado do irmão João Moreira, a produtora Videofilmes. Walter lançou seu primeiro longa-metragem em 1991: A Grande Arte, com texto baseado em romance do escritor Rubem Fonseca.

Começou a chamar atenção no panorama nacional da sétima arte com Terra Estrangeira, rodado em 1995 e apontado por muitos críticos como filme do ano no Brasil. Co-dirigido por Daniela Thomas, que seria sua parceira em outros projetos, o filme viajou pelo mundo, marcando presença em mais de 40 festivais internacionais e fortalecendo o cinema nacional em seu período conhecido como retomada. Foi premiado na França, Bélgica, Estados Unidos e Uruguai.

O filme, retrato emocional e artístico dos dias de ruptura da era Collor, mostrava uma geração frustrada com as promessas de redemocratização e que sonhava em fugir do País. Com uma equipe pequena, Walter abusou de sua ousadia: filmou nossa desilusão na Europa e na África, com uma fotografia em preto e branco e o Vapor Barato de Gal Costa como trilha sonora.

Mas sua consagração veio com Central do Brasil, de 1998, que recebeu aclamação internacional e duas indicações ao Oscar, nas categorias de melhor filme estrangeiro e de melhor atriz, para Fernanda Montenegro. Se Terra Estrangeira falava de frustração, Central do Brasil chegava com esperança. O filme, um dos mais importantes daquela década, ajudou a mudar a visão que o grande público tinha do cinema feito no País. Aclamado em diversos festivais ao redor do mundo, Central do Brasil recebeu um Globo de Ouro, um Bafta, um César, e foi premiado no Festival de Berlim e no Independent Spirit Awards.

Em Abril Despedaçado, de 2001, o diretor colocou Rodrigo Santoro em uma narrativa potente de vingança entre famílias em um rincão perdido do Brasil, em texto baseado no livro homônimo do escritor albanês Ismail Kadare. O filme foi nomeado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Alguns anos depois, trabalhou como produtor em dois grandes êxitos do cinema nacional: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, e Madame Satã, de Karim Ainouz.

Diários de Motocicleta, de 2004, foi seu maior sucesso comercial até o momento. Walter se debruça sobre a vida de jovem Ernesto Guevara e suas viagens pela América Latina. Foi a primeira incursão do diretor em um filme com idioma diferente do seu, e a resposta do público foi positiva: o longa registrou grande bilheteria no continente e na Europa e foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Um ano depois, lançou Água Negra, filme que abriria as portas para o universo de Hollywood. Adaptação de um longa japonês de 2002, do mesmo diretor de O Chamado, Água Negra trouxe Jennifer Connelly no papel de uma mulher que se depara com uma presença maligna em seu novo apartamento.
Foto: Everett Collection/Shutterstock

O último grande projeto de Walter foi a adaptação de On the Road, clássico beatnik de Jack Kerouac que há décadas vinha passando pelas mãos de renomados diretores e estúdios. Os direitos de filmagem haviam sido adquiridos por Francis Ford Coppola, da trilogia O Poderoso Chefão, ainda nos anos 1990, mas só a partir de 2005 o cineasta norte-americano começou a se aproximar do brasileiro. O longa estreou no Festival de Cannes de 2012.

Depois de On the Road, Walter ainda filmou Jie Zhang-ke, um Homem de Fenyang, tributo ao diretor chinês de Plataforma e Em Busca da Vida e um dos cronistas das transformações pelas quais seu país passou depois de Mao Tsé-tung. No filme, Zhang-Ke apresenta a Walter seus amigos e colaboradores, em um passeio informal pela memória e pelos espaços do país que virou potência.

Entre os melhores
Walter foi eleito pelo jornal britânico The Guardian como um dos 40 melhores diretores do mundo, em uma lista que trazia nomes como David Lynch, Martin Scorsese e Terrence Malick. O jornal citava a crise do cinema hollywoodiano e destacava que o cinema de arte continuava bem de saúde. Único brasileiro da lista, aparece na posição 23, acima de nomes como Spike Jonze, Ang Lee e Wes Anderson. De repente, o mundo se rendeu à arte de Walter Salles.

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