O POVO NORTE 05/01/2017 - 13h14

A rica história do Mosteiro de Marphisa Mont'Alverne

O Mosteiro de Marphisa Mont'Alverne é um convite a viajar no tempo. Inaugurado há quase 100 anos, o solar mantém preservadas não apenas fachada e estrutura, mas também mobiliário e objetos antigos
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Tiago Braga tiagobraga@opovo.com.br
Alex Costa
A casa histórica foi lar de umas das famílias mais tradicionais de Sobral

O imponente casarão de fachada amarela chama a atenção de quem passa pela rua Doutor João do Monte, no Centro de Sobral. O que poucos sabem é que o palacete guarda relíquias e memórias de uma das famílias sobralenses mais tradicionais. A atual moradora, dona Ruth Araújo Mont’Alverne, de 98 anos, manteve não só a fachada e a estrutura do solar preservadas, mas também as mobílias, as telas de pintura, as gravuras francesas e as imagens no santuário.
 
Visitar o local, conhecido como Mosteiro de Marphisa Mont’Alverne, é fazer uma viagem no tempo. Inaugurado há quase 100 anos, em 4 de agosto de 1918, o palacete foi moradia do casal Antônio Mont’Alverne Filho e Maria Marphisa Araújo Mont’Alverne. O casarão foi presente do coronel Alexandre Soares, o Barão, tio e pai adotivo de Marphisa. A construção durou dois anos e contou com o trabalho de 42 operários.

Inauguração
A festa de inauguração foi solene e ocorreu na manhã de um domingo. O coronel Alexandre Soares e sua esposa, Maria Delmira, de vestido longo e sombrinha francesa adquirida na Maison Bleue, recebiam os convidados no topo da escadaria na entrada da casa. Aguardados, os donos do solar chegaram por volta das 10 horas, com os filhos em cortejo. Dona Ruth, a caçula na época, tinha somente três meses e entrou nos braços de Marphisa.

A solenidade iniciou com a bênção das dependências da casa por dom José Tupinambá da Frota, acompanhado dos padres Antônio Lira Pessoa de Maria e Fortunato Alves Linhares. O Hino Nacional foi executado pela banda de música Euterpe Sobralense, sob queima de fogos. Em seguida, os anfitriões levaram os convidados até a mesa de refeição secular, repleta de doces e salgados, além de vinhos italianos da Sicília e da Toscana, encomendados na Casa Boris. A festa seguiu com os discursos dos oradores, celebrando as amizades.

Alex Costa
Relíquias e objetos diversos remontam a história da família Mont'Alverne

Relíquias
Ao visitar o casarão, fica fácil imaginar essas cenas. Além das mobílias austríacas de cor escura, continuam preservados os consoles de pau-preto, com lanternas de cristal e jarros de opalina; os espelhos venezianos; o piano alemão; os retratos dos antepassados; as portas entalhadas e com trincos de louça; o guarda-roupa de cedro-faia; os urinóis de cristal; os lavatórios; as penteadeiras; e a liteira. Também ainda está lá o quadro do Cristo, adquirido em Santa Maria de Belém do Grão-Pará (atual Belém) e que, no dia da inauguração, foi alçado por roldanas ao alto da parede central na sala de visita.

A matriarca Marphisa morreu em maio de 1973, 47 após ter ficado viúva. Dona Ruth sempre morou com a mãe e decidiu permanecer no casarão. “Continuei a viver neste mosteiro como sentinela inarredável que vela por tudo o que aqui está, preservando-o para a descendência de meus pais e para regalo dos visitantes. Vivo alegre, mas com o coração povoado de saudades”, discursou em novembro de 2004, quando a fachada do imóvel foi restaurada pela Prefeitura de Sobral.
Alex Costa
Aberta à visitação, a casa oferece uma verdadeira viagem no tempo

Cheiro de infância
Hoje, dona Ruth recebe o cuidado e a atenção dos sobrinhos, que guardam uma relação de carinho com o casarão. O lugar, com porão, jardim lateral e oitão, era terreno fértil para a imaginação das crianças. “Todas as lembranças que tenho aqui são boas, de uma infância muito feliz, com muita gente. A casa da minha avó tem um cheiro que só ela tem, que remota ao meu passado”, recordou a auditora fiscal do Trabalho Maria Fernanda Mont’Alverne Frota, de 57 anos. A neta diz ainda que herdou a religiosidade da avó. “O terço era rezado diariamente com todos que se encontravam na casa pela tarde. Ela também chamava os netos para fazer a coroação de Nossa Senhora, em maio. E foi minha primeira catequista.”

O médico Francisco José Mont’Alverne Silva, de 61 anos, também conta ter muitas lembranças do mosteiro. “Aqui é um museu vivo.” “Vivi minha infância no solar de minha avó materna. O casarão era meu fascínio pelos amplos cômodos, pelos móveis antigos, pelos adornos e, principalmente, pela casa cheia de gente: tios, primos, parentes e visitas. Mas o melhor era o quintal com castanheira de copa imensa, goiabeira e ateiras”, relatou outro neto, o professor, advogado e escritor Francisco Marialva Mont’Alverne Frota, que mora em São Luís.
Alex Costa
Foto exposta no local

SAIBA MAIS
Antônio Mont’Alverne Filho e Maria Marphisa Mont’Alverne casaram-se em novembro de 1906, na Capela de Nossa Senhora do Rosário. Antes de morarem no casarão, residiram em Ipu, terra natal de Marphisa.

O casal se viu pela primeira vez na Estação da Estrada de Ferro de Sobral, quando Marphisa, então com 12 anos, chegou a Sobral com os tios e pais adotivos. Segundo os relatos, foi amor à primeira vista.
Ao todo, o casal teve 15 filhos: Maria do Carmo (Mimosa), José Maria, Maria Elisa, Aracy, Guarany, Alpha, Maurício, Ruth, Myrian, Sarah (irmã Marphisa), Walderez, Thais, Leda, José Lourenço e Maria da Soledade (Alverninha).

O terreno onde o casarão foi construído pertencia ao coronel Antônio Mont’Alverne, avô de dona Ruth por parte de pai. Em 1910, na sucessão hereditária, o terreno coube a Antônio Mont’Alverne Filho.

Marphisa ficou viúva cedo. Antônio Mont’Alverne Filho, chamado pela família de Toinho, morreu em 6 de novembro de 1926, aos 44 anos, em um acidente de trânsito durante uma viagem ao Rio de Janeiro. Ele era dono de um armazém. Os netos contam da devoção de Marphisa pelo marido e o culto a sua memória.
 
Durante décadas, o 6 de novembro foi dia de luto. O ritual, do qual filhos e netos participavam, iniciava com uma missa em latim na Igreja de São Francisco (com padre de casula preta), seguida de visita ao cemitério. Ao chegarem ao casarão, todos rezavam um terço. Flores eram colocadas no jarro para o retrato de Toinho na sala de jantar.
 
O casarão é chamado de mosteiro porque a matriarca Marphisa era católica devota e transformou o solar em uma espécie de igreja doméstica. Além disso, pela grandiosidade do imóvel, muitas pessoas confundiam o lugar com uma igreja, se benzendo ao passar em frente.

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