O Centro Histórico de Sobral convida ao passeio. Vale a pena enfrentar o calor e percorrer as ruas para contemplar os casarões antigos, os sobrados, as igrejas, as praças bem cuidadas e as belezas naturais da Cidade, margeada pelo rio Acaraú e ao pé da Serra da Meruoca. Esse conjunto fez com que o Sítio Histórico de Sobral fosse tombado como Patrimônio Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 12 de agosto de 1999.
Quem conta essa história é o arquiteto Antonio Carlos Campelo Costa. Em 1997, ele foi contratado pelo então prefeito Cid Gomes para, juntamente com sua equipe, fazer o levantamento e a delimitação de áreas de valor histórico e cultural para Sobral, necessários para a solicitação de tombamento junto ao Iphan. Fotografias, mapeamentos e relatórios embasaram o pedido, aceito por unanimidade pelos conselheiros do instituto.
Proteção
O conjunto urbanístico reconhecido como Monumento Nacional abriga 1.247 imóveis em uma poligonal com perímetro total de 5,33 quilômetros. O patrimônio é rico e variado. Não há uma arquitetura única e, sim, diferentes estilos: colonial (Casa do Capitão-Mor), barroco (Sé Catedral), neoclássico (Teatro São João), art nouveau (residências da rua Lúcia Sabóia) e art déco (agência dos Correios e Telégrafos), entre outros. O tombamento foi uma forma de preservar e proteger esses bens, norteando futuras intervenções e guiando o planejamento urbano para que a Cidade se desenvolva respeitando sua história.
O arquiteto Campelo cita que, nos anos seguintes ao tombamento, foram executadas obras na área de preservação do sítio histórico e seu entorno, como a requalificação do Largo das Dores; a urbanização da margem esquerda do rio Acaraú; a restauração do Theatro São João e da Casa do Capitão-Mor; a reforma do Boulevard do Arco; e a criação da Escola de Comunicação, Cultura, Ofícios e Artes (Ecoa), que ocupou antigos galpões de uma fábrica.
Alex Costa
Rua Floriano Peixoto, no Centro, reúne casas no estilo art nouveau
MelhoriasA criação de parques (a exemplo do Parque da Cidade e do Parque Mucambinho) e a reforma de praças também melhoraram a relação dos moradores com a cidade, incentivando a ocupação dos espaços públicos. Os sobralenses passaram a se apropriar ainda mais do lugar em que vivem. E as melhorias continuam. Em parte do Centro Histórico, as calçadas foram alargadas e padronizadas, e o asfalto deu lugar a blocos mais charmosos de concreto, tornando o passeio mais agradável. Um dos próximos passos deve ser a internalização da fiação elétrica, diminuindo a poluição visual.
Campelo lembra que, no início, houve algumas reações por parte de moradores porque, na área preservada, mudanças em imóveis particulares só podem ser feitas após análise da Prefeitura e do Iphan. “Mas isso foi no início. Depois, a população passou a apoiar 100%, sem restrições. A cidade tem uma espécie de amor próprio, de autoestima, que são muito característicos daqui. Sobral é ciosa de sua importância histórica, econômica e política. Hoje, as pessoas já ligam para os órgãos competentes denunciando se tiver algo errado, se tiver alguém derrubando [um imóvel]”, exemplifica o arquiteto, que também é secretário-executivo do Gabinete da Prefeitura.
ReconhecimentoO reconhecimento da importância do patrimônio de Sobral não é de hoje. Liberal de Castro, estudioso da arquitetura e do urbanismo colonial cearense, escreveu, em 1973: “Considerados como conjunto, os espaços urbanos de Sobral são os mais ricos do Ceará, já que ali se dispõem em harmonia os velhos traçados medievais lusitanos, misturados com formas novas, difundidas sistematicamente a partir da época do Marquês de Pombal, das cidades de xadrez”.
Décadas antes, em 1884, o escritor cearense Antônio Bezerra também fez seu relato, no livro Notas de Viagem ao Norte do Ceará. “As esquinas das ruas e travessas não terminam como nas outras localidades, mas se erguem em frontão, simulando andar superior com portas e grades de ferro, defronte um do outro, e pela altura das paredes dão à paisagem ar elegante e imponente. Esta originalidade por si torna Sobral uma cidade excepcional, atrativa e grandiosa.”
Alex Costa
A beleza das casas com fachadas preservadas chama atenção de quem passeia pelo Centro de Sobral
PERCORRENDO O CENTRO HISTÓRICO- O passeio pelo Centro Histórico pode começar pelo Arco do Triunfo de Nossa Senhora de Fátima, projetado por Falb Rangel. O arco substituiu, em 1953, o antigo Cruzeiro ou Cruz das Almas, marco da passagem peregrina de Frei Vidal da Penha em suas andanças pelos sertões nos fins do século XVIII.
- Caminhando para o centro da cidade, a praça São João é parada obrigatória. O espaço é rodeado de cultura e de história. Na praça se ergue, majestoso, o Theatro São João, construído entre 1875 e 1880. Nele, se apresentavam companhias vindas da Europa, desembarcadas no porto do Camocim e transportadas até Sobral pelos trens da Estrada de Ferro.
- Ao redor da Praça São João, destacam-se o sobrado que sedia a Casa da Cultura, o Museu Dom José, a Igreja do Menino Deus e o prédio da Escola de Música.
- Descendo pela avenida Dom José, encontra-se boa parte do casario centenário, como o imenso sobrado onde fica o Colégio Sant’Ana, que foi residência do senador Paulo Pessoa e do próprio Dom José. Mais abaixo, fica o prédio onde funcionou a Academia Sobralense de Estudos e Letras.
- Ainda na avenida Dom José, destaca-se a Praça Dr. José Saboya de Albuquerque, com a nova Coluna da Hora, onde funcionou o antigo mercado.
- Ali perto, no centro da cidade, fica o famoso Becco do Cotovelo e a Igreja do Rosário, da antiga Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
- Mais adiante, encontra-se o Palace Club, hoje Palácio de Ciências e Línguas Estrangeiras, que, no passado, serviu às festas e aos bailes da aristocracia sobralense.
- Outro espaço a ser contemplado é a Praça João Pessoa, com seus casarões em estilo art nouveau. Da praça, bifurcam-se diversos caminhos. Um deles é a Praça do Patrocínio, onde se localiza a igreja de mesmo nome e onde se pôde comprovar a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, em 1919. Hoje, o local também abriga o Museu do Eclipse. É nessa área que também fica o prédio onde funciona o Centro Educacional Maria Imaculada, com seus azulejos portugueses.
Fonte: livro Sobral Solar (Prefeitura Municipal de Sobral)
Alex Costa
Construção histórica em Sobral
UM POUCO DE HISTÓRIA- Sobral desenvolveu-se às margens do rio Acaraú, a partir da instalação de uma fazenda de criação chamada Caiçara que, na linguagem indígena, significa estacas de mato ou cerca de pau. O primeiro núcleo de povoamento foi na área hoje situada em torno da Igreja Matriz. Em 1973, a povoação foi alçada à condição de vila, chamada Distinta e Real de Sobral e, posteriormente, Fidelíssima Cidade Januária do Acaraú.
- O florescimento da povoação deu-se em decorrência da indústria da “carne do Ceará” (charque). Também ajudou no desenvolvimento o fato da vila estar inserida na rota de comunicação entre a Serra da Ibiapaba e o Porto de Camocim.
- Com a queda da produção do charque no início do século XIX, Sobral começou a desenvolver intensamente sua vocação comercial, operando com os portos de Camocim e Acaraú. Na época, Sobral chegou a ter uma população quase três vezes maior que a de Fortaleza. Nesse período, foram construídos muitos dos sobrados, símbolos do poder econômico (as famílias moravam nos pavimentos superiores e os de baixo eram utilizados para comercialização de produtos). Ocorre uma expansão urbana, considerada a fase áurea.
- Em 1881, foi criada a Estrada de Ferro de Sobral, ligando a cidade ao Porto de Camocim. O período foi marcado pela atividade algodoeira, quando surgiu o conjunto fabril e a vila operária.
Fonte: livro Sobral Solar (Prefeitura Municipal de Sobral)