Guálter George, editor-executivo
O debate sobre a reforma política não avança no Brasil, dentre vários outros motivos, por lhe faltar apelo popular objetivo. É fundamental para que um tema ganhe importância na pauta pública nacional que as pessoas entendam como aquela situação apontada pode lhes atingir diretamente. Pois bem, a vergonhosa sessão da Câmara no último domingo abriu uma chance real de, finalmente, conseguir-se sensibilizar o senso comum para a urgência da discussão. O problema não diz respeito à decisão tomada, de autorizar a investigação contra a presidente Dilma Rousseff, aparentemente incontestável na sua legalidade legislativa. As terríveis falhas do nosso sistema de escolhas eleitorais ficaram expostas, na verdade, pelo desfile de absurdos na forma de discursos, especialmente na hora em que cada um dos 511 presentes foi chamado ao microfone para se manifestar. O mal estar geral terá sido útil ao País na medida em que seja aproveitado para uma reflexão do próprio eleitor. Uns com mais votos, outros com menos, mas todos aqueles que nos encheram de vergonha foram eleitos, ali estão legitimados (e legitimadas) pelo voto. Portanto, o modelo que os colocou lá é que precisa ser revisto com urgência, a partir da maneira como os partidos se organizam e funcionam no Brasil. Há outros pontos prioritários a discutir, ainda com foco nas causas, até que se chegue à ponta do problema, onde acontece o encontro do eleitor com a urna. O incômodo que muitos têm manifestado com o espetáculo grotesco que manchou um momento histórico do Congresso, em meio a uma votação importante e que poderá ter forte impacto sobre a vida de todos, precisa agora ser transformado em pressão objetiva para que algo de maior profundidade finalmente aconteça. Mudanças cosméticas, superficiais, já se mostraram respostas insuficientes, diante dos pífios resultados das reformas que acontecem de uma eleição para outra quando se tenta medi-los pelos exemplos práticos de melhoria na qualidade das escolhas. Tivemos um domingo pedagógico em relação à urgência da reforma do nosso modelo político, caso exista inteligência e disposição parta aproveitá-lo nesse sentido.
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