Eram apenas dez segundos de fala para cada deputado federal, mas os discursos na tribuna surpreenderam quem assistia ao desfile de agradecimentos a pais, mães e filhos.
Na sessão que aprovou o pedido de abertura de investigação da presidente Dilma Rousseff, no último domingo, uma dúvida se formou na cabeça do eleitor: é esse o nível dos representantes do povo?
Dos 511 deputados presentes - foram apenas dois ausentes - , alguns se destacaram pelo inusitado; outros, pela contundência retórica.
De um lado, os espectadores não estavam habituados a escutar parlamentares quase reclusos no anonimato por conta do predomínio dos líderes de bancada. Do outro, na ânsia de se destacar, houve quem oferecesse o voto “pela paz em Jerusalém”.
Professora de filosofia política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mirtes Amorim admite que ficou “impressionada com o nível político baixíssimo dos discursos dos deputados”. “E isso em dimensão nacional. É chocante perceber que são representantes da nação brasileira, encarregados de decisões importantíssimas para o país, como o impeachment. Beirava o ridículo. Chegou a ser ocasião para mandar ‘alô’ para a mamãe”, diz Mirtes, surpresa.
Com tantos rostos desconhecidos, muitos estranharam motivações tão similares.
Para o escritor e analista político Flávio Morgenstern, a repetição é esperada. “A maior parte dos deputados vota conforme o partido manda. Não existe individualidade: falam segundo ordens de cima”, reflete.
“Então, na busca de destaque, acabam repetindo aquelas expressões de sempre que já não querem dizer muita coisa. A esquerda sempre fala de ‘democracia’, mas num conceito muito distante do estabelecido pela ciência política – que é completamente diferente do que os deputados pensam ser”, pontua o analista.
Clemilton Gomes, 40, ficou preocupado. Para ele, os pronunciamentos foram tão rasos que passou a acreditar que “são todos duvidosos”. “Até o Tiririca, que o pessoal diz que é correto, não gostei quando riu, fez palhaçada”, desconfia. “Parecia um circo, um parque de diversões. Acho que eles não têm capacidade pra decidir. Não tem mais jeito, não”, complementa.
De acordo com Mirtes Amorim, há uma saída, sim. “Uma reforma política, tanto pelo fim do financiamento privado -- que leva políticos pelo dinheiro e não pela capacidade – quanto pelo fim da abertura indiscriminada de partidos políticos”. Conforme a pesquisadora, “formam-se micropartidos na câmara com muita frequência”, o que faz com que os candidatos não tenham “compromisso ideológico e comprometimento com um programa e com o país”.
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