PONTO DE VISTA 18/04/2016

Dúvidas indicam dias ainda tensos pela frente após votação na Câmara

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O brasileiro acorda esta segunda-feira, tomada a decisão pela maioria dos deputados na Câmara de admitir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), apresentando uma dúvida principal: sua vida vai melhorar, agora? A partir de quando? Claro que ainda sob o calor dos acontecimentos parece impossível apontar prazos ou oferecer certezas, restando alguma convicção de que dias ainda difíceis nos esperam. De um lado, teremos até uma maior compreensão de setores que já manifestavam de maneira clara uma falta de de disposição e paciência com o PT, especialmente no empresariado. Do outro, é de se esperar ruas ainda mais tensas, com a permanência nelas de segmentos que nos últimos dias se mobilizaram na defesa da petista ou, no dizer de seus representantes, da democracia. A derrota de ontem na Câmara foi apenas uma etapa - importante, é verdade -, de um processo que terá etapas novas adiante para serem superadas. O tempo correrá contra Dilma com a mesma velocidade que deve desafiar Michel Temer (PMDB), seu vice e substituto caso o Senado confirme o afastamento de 180 dias para investigação.


Ou seja, razões diferentes colocarão ambos sob pressão, em meio ainda a um cenário político de grande instabilidade. Dilma precisará demonstrar habilidade política para reverter o quadro desfavorável, algo de que não foi capaz dispondo da força da caneta, enquanto Temer viverá a experiência inédita de gerir a máquina com a perspectiva de poder articular, de lá, sua permanência até o final do mandato. A batalha que os dois protagonizaram nos últimos dias deve prosseguir pelos próximos meses, se o roteiro for mantido, apenas com esta inversão de posições dos dois principais atores políticos.


É impossível, enfim, apresentar elementos que permitam ao cidadão comum esperar dias mais calmos na sequência do calendário, Pode-se dizer, pelo menos, que está superada uma fase aguda da crise, alimentada por uma Câmara de Deputados cuja qualidade esteve exposta na patética forma como muitos dos votos foram manifestados ontem. Espera-se que o Senado aja com um pouco mais de seriedade e com interesse real de investigar se há os crimes de responsabilidade atribuídos à presidente da República e se eles justificam um processo que lhe pode levar à perda de um mandato conferido por mais de 54 milhões de votos.


Guálter George, editor-executivo de Conjuntura

 

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