A confirmação do segundo turno para governador produziu emoções distintas nos protagonistas da disputa. Eunício Oliveira (PMDB), que até a tarde de ontem dizia confiar em vitória no primeiro turno, mostrava indignação e acusava o lado adversário de jogo sujo, compra de voto e uso da máquina. No comitê governista, Camilo Santana (PT) e seu aliado maior, Cid Gomes (Pros), eram pura euforia, com direito ao governador se jogando nos braços da plateia.

 

“Hoje (ontem) ficou demonstrado para vocês da imprensa, para o Ceará e para o Brasil a maneira como eles estão fazendo política, de pressionar as pessoas, da compra de voto descarada, de uso intensivo das máquinas, do uso perverso do dinheiro público. Mas nós estamos aqui, mostrando que somos um povo verdadeiramente libertário”, declarou Eunício em entrevista coletiva no seu escritório, na Aldeota, ao lado do vice-prefeito Gaudêncio Lucena (PMDB) e outros aliados. O grupo não foi ao comitê central da campanha.

Eunício afirmou que, embora as pesquisas lhe dessem vantagem de até seis pontos sobre Camilo, “já esperava” a aproximação do petista em razão do “uso perverso da máquina”. “Os funcionários públicos foram pressionados, ameaçados, os prefeitos foram pressionados, ameaçados”.

 

“Oportunista”

Camilo chegou ao seu comitê, no Cocó, acompanhado de Cid e de outras lideranças, como o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (Pros), em clima de vitória. O governador pulou do capô do Jipe sobre nos braços da multidão. Camilo, mais comedido, seguiu até o palco sem alvoroço.

Entre críticas às pesquisas eleitorais e a Eunício, os principais expoentes da campanha de Camilo conclamavam a militância a retomar a campanha e “se livrar” da influência das pesquisas.

“O bem venceu o mal e estou com muito mais energia para enfrentar o segundo turno e mostrar ao povo cearense o caminho que a gente tem de traçar para melhorar a vida do povo”, disse Camilo. Segundo Cid, a estratégia para o segundo turno é “mostrar para as pessoas quem é o Eunício”. “Se conhecerem o Eunício, ninguém vai votar nele, porque ele é um aproveitador, é um oportunista, é ambicioso”, disse Cid.

 

Clima nos comitês

Eleitores de Camilo reuniram-se no comitê do candidato, para comemorar a primeira colocação. Antes que Camilo chegasse, eleitores tiravam selfies com o telão com a apuração. O público se animou quando foi levado ao palanque um caixão que simbolizava o “enterro do Ibope”, apontado pelos militantes como culpado por Camilo não ter vencido ainda no primeiro turno.

 

“O povo acredita muito na pesquisa, se eles não tivessem dito até o fim que o Eunício estava na frente, teríamos ganhado logo agora”, opinou o locutor Adriano Cavalcante.

O público apontou razões como o apoio do atual governador, a “integridade de Camilo”, e “ser o candidato da presidente Dilma” como as razões para o bom desempenho do petista.

A decepção que Eunício não conseguiu esconder se refletiu na militância que foi ao comitê do candidato, na avenida Barão de Studart. Por volta de 19 horas, com a confirmação do segundo turno, os eleitores esmoreceram e, sem a esperada presença de Eunício, o público dispersou. Mesmo em meio ao clima de decepção, houve quem acreditasse que o segundo turno será de vitória. “Vamos entrar com tudo nessa nova fase. Estamos com muita força e coragem”, disse a conciliadora jurídica Valquíria Feitosa, 39, enquanto tentava disfarçar algumas lágrimas que perigaram cair. (Bruno Pontes, Camila Holanda, Domitila Andrade e Jéssica Welma)