Vela Latina 11/08/2016

Dona de barraca onde portugueses foram mortos ainda vive no lugar

Adelina Farias Barros, 65, vive até hoje na mesma barraca onde os seis portugueses foram assassinados em 12 de agosto de 2001
notícia 3 comentários
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Thiago Paiva thiagopaiva@opovo.com.br
EVILÁZIO BEZERRA
Quarto de Adelina Farias fica vizinho ao cômodo onde os corpos dos portugueses foram enterrados

A chacina que amanhã faz 15 anos vitimou de forma cruel seis turistas portugueses, violentamente agredidos e enterrados ainda vivos na cozinha de uma barraca na Praia do Futuro, em Fortaleza, também tirou dos eixos a vida da garçonete Adelina Farias Barroso, hoje com 65 anos. Dona da barraca Vela Latina, palco da barbárie internacionalmente conhecida como Chacina dos Portugueses, é lá que a mulher ainda vive, com a filha de 20 anos, uma criança à época do crime.

 

Adelina dorme até hoje no quarto vizinho ao cômodo onde os corpos dos portugueses Antônio Correia Rodrigues, Vitor Manuel Martins, Joaquim Silva Mendes, Manoel Joaquim Barros, Joaquim Fernandes Martins e Joaquim Manuel Pestana da Costa foram ocultados, numa cova coletiva, sob o piso da cozinha. Diz não ter medo dos mortos. Amedronta-se com os vivos e sonha com a possibilidade de ter uma casa nova.


“Gostaria muito de ir embora. Queria morar em qualquer lugar, menos aqui. Hoje vivo comendo areia. Desde aquele dia minha vida não teve mais prumo”. Cearense, Adelina morou por 27 anos em São Paulo, onde ficou solteira, ainda grávida. Voltou dois anos antes do 12 de agosto de 2001, quando a tragédia arquitetada pelo português Luiz Miguel Militão Guerreiro, 46, se concretizou.


Vela Latina

Foi para o cunhado do lusitano, Manoel Lourenço Cavalcante, 45, o “Cláudio Lourenço”, que Adelina alugou a barraca, também em 2001, sob a promessa de que o imóvel, em frente ao Clube dos Oficiais da Polícia Militar, seria comprado um ano depois. Entretanto, o crime planejado por Militão, que havia chegado ao Brasil naquele mesmo ano, pôs fim à possibilidade de mudança. Com intenção de sequestrar o grupo e pedir R$ 1 milhão pelo resgate, Militão acabou decidindo matar todos eles.

“A barraca vizinha fechou. Nada mais foi pra frente aqui. Cheguei a reabrir por dois anos, mas tive que fechar de novo. Não dá movimento. Tentei vender, mas o pessoal coloca o preço muito baixo. O dinheiro não ia dar pra fazer nada. A igreja católica queria pra construir uma capela, mas por doação. E eu não posso dar a única coisa que tenho. Os portugueses tentaram comprar para fazer um memorial, mas não avançou”, detalha.


Adelina, que hoje trabalha para um irmão, já morava na barraca na época do crime. Havia alugado apenas os cômodos com frente para o mar. No dia da chacina, porém, estava fora. “Era Dia dos Pais e fui pra casa da minha irmã. Soube de alguma coisa no dia que a Polícia Federal veio fazer perguntas. Depois eles já vieram com os presos e começaram a cavar. Eu ainda duvidava. Não acreditava naquilo. Quando desenterraram os corpos, não senti nada. Só depois, quando todo mundo saiu, que fui fechar a barraca sozinha e me deu um medo grande. Saí correndo”, lembra.


Atualmente, a Praia do Futuro passa por obras de requalificação, incluindo o trecho onde a barraca está localizada. A mulher espera ser indenizada, por meio de desapropriação, para conseguir mudar para outro local. “Desde aquela época eu espero por isso, porque, naquele tempo, a Prefeitura tinha me dito que removeria a gente. Queria que eles fizessem alguma coisa pra eu receber um dinheiro e comprar uma casa”, anseia.

 

Saiba mais


Os seis portugueses chegaram à Fortaleza por volta da 0h15min, em 12 de agosto de 2001, mesmo dia do crime. As investigações revelaram que os empresários teriam sido atraídos ao Brasil por Luiz Militão com o objetivo de fazer turismo sexual.

 

As vítimas foram recepcionadas no aeroporto por Militão e Manoel, que convenceram os seis a dispensar serviços de uma agência de turismo e ir direto para a barraca na Praia do Futuro. Os portugueses foram rendidos e amarrados enquanto Militão testava as senhas de cartões deles. As execuções só começaram após a permissão de Militão.

 

Todos os réus foram condenados, na medida de suas participações, por latrocínio, ocultação de cadáver e formação de quadrilha. O julgamento ocorreu em 21 de fevereiro de 2002. Os cinco estão presos na Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba. As penas são cumpridas em regime fechado. As informações são da Vara de Execuções Penais do Fórum Clóvis Beviláqua. 

 

Os condenados


Luiz Miguel Militão Guerreiro, 46, comerciante. Confessou o crime e entregou os demais acusados. Condenado a 150 anos de prisão por ter sido o mentor intelectual da chacina, o português cumpriu 15 anos e 4 meses da pena. Poderá ter direito à progressão de regime, passando a cumprir pena em semiliberdade, em 2026.

 

Raimundo Martins da Silva Filho, 40, garçom. Condenado a 132 anos de prisão após ter sido apontado no processo como o mais violento de todos. Poderá ter direito à progressão de pena em 2020.

 

Leonardo Sousa dos Santos, 41, pedreiro. Condenado a 120 anos de prisão. Poderá progredir sua pena em 2023.

 

José Jurandir Pereira Ferreira, 50, segurança. Condenando a 120 anos de detenção. Deve progredir de regime em 2021.


Manoel Lourenço Cavalcante, 45, segurança. Condenado a 120 anos e deve ganhar direito à progressão de pena em 2020.

 

Memória


12/8/2001. Os seis portugueses são executados por volta das 2 horas no dia em que chegaram à Capital.


13/8. Saques e compras são efetuados nas contas das vítimas.


16/8. Cônsul de Portugal em Fortaleza pede informações sobre o grupo desaparecido.


23/8. Militão é preso no Maranhão.


24/8. Vítimas são encontradas mortas na Praia do Futuro. Leonardo e Jurandir são presos.


25/8. Raimundo Martins é preso.


26/8. Manoel Cavalcante é preso. Militão confessa o crime.


10/9. Militão e Leonardo tentam fugir da carceragem da Polícia Federal, no Ceará.


21/2/2002. Todos os cinco réus são condenados, na medida de suas participações.


29/7. Militão tenta fugir do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) cerrando as grades da cela.

 

Multimídia

Veja entrevista com Adelina

espaço do leitor
brenda 11/08/2016 10:41
onde é que tá citando isso??????????????
Francisco Sousa 11/08/2016 10:21
"Direito a progressão da pena", a justiça brasileira é uma mãe para os delinquentes.
Rose Ramiro 11/08/2016 08:25
Só não entendi o cara ter cumprido 18 anos se o crime aconteceu há 15?????
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