“No início, aqui só tinha três casas: a da minha família, a do José e a do Jesus”. É assim que a marisqueira Juraci Lima Bezerra, 65, começa a contar a história da comunidade Boca da Barra, na foz do rio Cocó, na Sabiaguaba. Atualmente, são cerca de 150 casas na região, que é considerada Área de Proteção Ambiental (APA) desde 2006.
Unidos pela geografia e por parentescos, os moradores temem ser removidos, após a área ser incluída no projeto de regulamentação do Parque do Cocó, proposto pelo Governo do Estado.
Os moradores contam que funcionários de uma empresa terceirizada pelo Governo foram à comunidade, em 19 de dezembro de 2015, e marcaram as portas das casas com números e siglas topográficas. “Disseram que iam tirar todas as casas. Desde então, ninguém mais ficou tranquilo”, lembra Rita Bezerra da Silva, 30, dona de um mercadinho. Filha de Juraci, ela mora a algumas casas de distância da mãe.
Por causa da possibilidade, a comunidade tem se mobilizado realizando protestos, reuniões com a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) e um abaixo-assinado pela permanência no local.
Os argumentos contra a remoção surgem da vivência. “Se nos tirarem daqui, acho que vamos ter que pedir esmola. A gente vive da pesca, das coisas do lugar. É só o que a gente sabe fazer”, conta Francisco Ernane Lima Bezerra, 36.
Apesar de a retirada das casas ser considerada pelo Governo desde que a foz da Sabiaguaba foi incluída no projeto da poligonal do Parque do Cocó, os moradores reclamam de falta de explicações a respeito dessa possibilidade. “O assunto é um só: o parque. Não falam nada sobre a comunidade, nem informam pra onde vão nos mandar. É como se a gente não existisse”, reclama Francisco.
Para tentar dar visibilidade à questão, o jornalista e morador da comunidade Eduardo Paranhos criou o movimento SOS Sabiaguaba Nativa, em novembro de 2015. Por meio de uma página no Facebook, o movimento mostra como vive a comunidade e divulga informações sobre as mobilizações pela permanência na região.
Segundo Eduardo, a falta de reconhecimento governamental é antiga. “A Boca da Barra só tem energia elétrica há uns 15 anos, a água ainda vem de poços nas próprias casas e não temos rede de esgoto”, detalha.
Com a história das próprias vidas amarrada à história do local, os moradores também lamentam as mudanças causadas pela construção da ponte sobre o rio Cocó, nas cercanias. “A gente se sustentava pegando marisco. Depois que construíram a ponte, o rio secou e encheu de areia, e os mariscos estão morrendo”, lamenta Juraci.
Agora, a marisqueira Juraci também trabalha em uma barraca de praia e “pastora” carros de turistas. Diz que “quer morrer“ no local. “Minha mãe nasceu aqui, eu nasci aqui. Se tivermos que sair, meu Deus, o que vai ser de nós?”.
Saiba mais
Uma longa história
Os moradores da Boca da Barra falam que as famílias estão no local há mais de 100 anos. Conhecido como o “contador das histórias” da comunidade, Rocimar Mauricio de Souza vive no local desde que nasceu, há 65 anos, mas diz que contabiliza “também os 96 da avó”. “A minha tataravó já era da Sabiaguaba, minha mãe teve 13 filhos, e os oito que não faleceram vivem por aqui”, afirma.Tradição e modernidade
Além da pesca artesanal e da extração de mariscos, os moradores da Boca da Barra criam galinhas e outros animais. Entretanto, atualmente a sobrevivência depende também de outras atividades. Com o crescimento do turismo na Sabiaguaba, alguns nativos construíram pequenas barracas de praia, outros trabalham cuidando de carros nos estacionamentos do local.Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje
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