artigo 17/07/2017 - 17h25

Os AntiCristo

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Os AntiCristo

 

José Periandro Marques

 

 

 

Neste escopo, não me reporto a criaturas infernais, mas a seres humanos, que consomem o sal da terra, sorvem em longos haustos o ar atmosférico, absorvem os odores e os sabores que lhes aprazem, que degradam, modificam e recompõem o ambiente que lhes serve de oficina e morada, e em especial aos estudiosos da “Palavra Sagrada” que, inteirados do livre-arbítrio, seguem suas próprias cartilhas, valendo-se de raciocínios distorcidos para se locupletarem.

Quem se afasta dos ensinamentos do Cristo por ignorância, desinteresse ou conveniência e age contrariamente ao que Ele ministrou, seja por ideologia, desvio de conduta, comportamento inadequado ou mera sujeição aos atrativos planetários, afunda-se em tormento consciencial, que só múltiplas encarnações serão capazes de sanar.

Todas as pessoas que repelem e execram seu semelhante tornam-se réprobas perante as leis divinais, porque afrontam a máxima crística do “amai-vos uns aos outros”, e sem amor, segundo São Paulo, nada somos. E mais ensinou o Mestre: “amai os vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem e vos caluniam”, e quantos de nós, insubmissos, nos comprazemos com as tribulações de outrem e regozijamo-nos com seu insucesso, forjando inimizade não raro criada por nossas mentes invigilantes e doentias!

Pobres os religiosos que se julgam fiéis seguidores de Cristo, quando nada mais são que pastores negligentes e ambiciosos, a tosquiarem suas ovelhas para ter dormidas confortáveis, sem se ocuparem com os desabrigados, expostos às intempéries e à fúria dos desalmados, que os agridem com atitudes, gestos e palavras, quando não os assassinam de forma brusca e inesperada!

Quando se rechaça outrem por preconceito de casta, de raça ou motivos variados, estigmatiza-se o indigitado como ser inferior, ao tempo em que o ofensor distancia-se da Suprema Bondade, que o ama intensamente. Por extensão, toda vez que insultamos, mentimos, enganamos e caluniamos, renegamos a virtude, e os débitos contraídos serão reparados de modo dorido e em prazo alongado. 

Quando, tu ó homem, te voltas contra políticas sociais que visam abrandar a penúria e fazer ressurgir esperança em corações aflitos, combates os amados do Cristo, os miseráveis, por Ele agraciados com a promessa de vida futura plena e feliz.

Quando viras o rosto ranzinza ante um maltrapilho à porta de uma lanchonete, olvidas as dele e tuas próprias necessidades alimentícias. E se a fome aperta, tu dizes de maneira singela: estou morrendo de fome; mas, não, teu instante sempre chega contente, por vezes com gula extravagante, mas observa o menino africano, só couro e osso: a existência lhe escapa a cada aspiração insuficiente e expiração ofegante. Oh, como somos displicentes, senão coniventes com o crime!

Na parábola de Cristo sobre Lázaro e o rico mau, a avareza deste, e seu menosprezo, fizeram o famélico chaguento roer ossos descarnados e a catar restos, lixos que eram, do esplêndido palácio; no entanto, o mendigo, pós desencarne, teve por companhia Abraão em toda sua majestade, enquanto o rico, que ostentava luxo e se vestia de púrpura, tornou-se pária e se vestiu de andrajos, porque os valores celestiais não se entrelaçam com os da matéria.

Quando de maneira hipócrita ajuízas que se deve ensinar a pescar em vez de doar o peixe, falas em tom melífluo, mas com o coração referto de peçonha. Ficas possesso contra quem faz circular a renda, agasta-te porque alguém de baixo poder aquisitivo viaja em aeronaves, ou com outro, oriundo das classes populares, que consegue ingressar em faculdade. Em verdade, nunca te interessaste pela sorte do carente, sequer dele te aproximaste por um só momento para sondar suas desditas ou orientá-lo quanto ao porvir; o cheiro da massa trabalhadora repugna-te. Tu julgas o pobrezinho, indolente, preguiçoso, merecedor, portanto, de severos castigos e penas. Não te dignas, por menor motivo, a aferir se em determinado lar mãe e ou pai rumina desemprego há tempos, padece doença irremissível e se há parentes desvalidos ou infantes absolutamente dependentes, a exigirem cuidados intensivos; destaque-se: quem não possui ganhos suficientes para pagar babás e cuidadores, deve ser presente no zelo ao inválido; o dever revela-se mais elevado que a necessidade da pecúnia, sempre bem-vinda, se destinada à promoção do bem-estar geral. São tantas e complexas as nuanças de vidas atribuladas, que um quanto de tolerância e compaixão faria efeito considerável. Como julgar peremptoriamente sem conhecimento de causa?

Argumentas com seriedade aparente, que se deve dar vara de pescar ao obreiro, em vez de entregar-lhe diretamente o resultado da pesca. Seriam sensatas e prudentes tuas palavras, se não fossem destituídas de sinceridade. Com efeito, o melhor método para se adquirir bens pecuniários será através do emprego honrado. E tu que fazes sempre que tua ambição te impulsiona adiante? Adquires máquinas que substituem dezenas de homens em atividades laboriosas, mas continuas com o discurso maroto de que se deve dar enchança, em vez de caridade, mas tal oportunidade é sonegada sempre que tua ambição soa mais alta, além do que não há cem por cem de postos de trabalho ocupados, em qualquer parte do orbe terrestre.  

Quando a pesca se fazia escassa no mar da Galileia, e os pescadores se desesperaram com sua falta, Jesus ordenou que seus comandados lançassem a rede uma vez mais, e a pescaria de tão extraordinária, quase fez o barco afundar nas águas. Neste singelo exemplo, observa-se o auxílio prestado por Nosso Senhor Jesus Cristo, sua bondade e solidariedade para com seus semelhantes. Ele não inquiriu se aqueles trabalhadores se acomodavam em palestras ociosas, se deveriam buscar outra fonte de sobrevivência, mas simplesmente agiu e permitiu que uma realidade negativa se tornasse venturosa.

Condenas, ó portentoso homem de “negócios”, distribuição de renda para gente necessitada, porque consoante tua lógica a riqueza deve ser concentrada em reduzida camada social, que produz seus próprios valores, que oprimem e ordenam o mundo com injustiças e crueldade.

Quando Jesus ponderou: “dai de comer a quem tem fome, dai de beber a quem tem sede”, Ele se dirigiu a todos, e mais especificamente à coletividade com condições de tornar mais brandas as vicissitudes vivenciadas pelas gentes esquecidas e maltratadas. Para exemplificar o que pregava, Ele, em certa ocasião, em frente a uma multidão que se quedava embevecida e reverente a escutá-lo, por imensa piedade fez a multiplicação de pães e peixes, estes já preparados, a fim de atender aos famélicos, que já se inquietavam com a sede e a fome que grassavam. A imperiosa ordem emitida pelo Amantíssimo Ser varou os tempos, mas não tocou o coração dos homens de posses, que veem o mendigo como um assunto governamental ou da economia, nunca como um ente imortal e um irmão em Cristo, a ser bem considerado e com direito às benesses propiciadas pelo sistema capitalista.

O amoroso filho não regateava a caridade: quando Maria Santíssima nas bodas de Canaã sentiu a aflição no rosto dos anfitriões, pois o vinho se fizera escasso, ela valeu-se do primogênito, que naquele instante principiou seu apostolado, ao realizar seu primeiro “milagre”, ao transformar água em vinho, fato não mais concretizado, o que se continuado, revolucionaria a indústria de bebidas, mas o certo é que fazer o bem nunca é demais nem deve ser adiado.

A água, substância que emana das fontes cristalinas, das nascentes que principiam de filetes, os riachos que corroem cantantes, as cascatas deslumbrantes, em queda livre, as chuvas despejadas das nuvens, tudo demonstra seu esplendor, vida e utilidade. Aviltá-la com poluição ou represá-la para fins especulativos é exorbitar do que nos foi concedido graciosamente pela Providência Divina. A escassez verificada em certas regiões do globo ocasiona um oceano de dificuldades de sobrevivência para os habitantes locais, que teimam em coexistir em meios hostis. Sob este aspecto, como se conceber que por politicalha, ganância de poder ou outro motivo inconfessável se promovam campanhas para que determinados segmentos sociais não a tenham límpida e em abundância? Como um só cristão será capaz de levantar a voz contra a redentora esperança de a população poder lavar, cozinhar, higienizar-se, fazer crescer frondosas árvores e cuidar dos animais, nossos irmãos menores? Como a sede de poder intenta ressecar a ânsia do viver satisfatoriamente?

O orbe tremula e convulsiona-se ante a ameaça de guerra mundial que, se efetivada, trará o inevitável caos, um decesso inimaginável no progresso até o momento por nós alcançado. Ao Deus vingativo, Jesus apresentou o Pai Generoso. À lei do olho por olho, o Santíssimo sacramentou a Lei do Amor. Os gigantes do capitalismo, apoiados por uma multidão de admiradores, revolvem terras e mares, sempre na busca de recursos monetários, que lhes não serão úteis no mundo das essências; enganam-se terrivelmente esses homens quanto ao sentido vital e em suas ânsias de dominação, promovem medo e insegurança, e sem os devidos preparos psíquicos e espirituais poderão transformar nosso recanto, belo e  habitável, em um deserto gélido, sem vida, sem finalidade.

O irmão que estira a mão em súplica, quiçá padeça frio em noites insones, sofra ao relento, revoltoso e sem estímulo, e seus rebentos sequer possuam uma tira de pano puído que cubra suas vergonhas, sem que se vislumbre mudança viável, que os tornem, de sujeitos marginalizados, seres humanos integrados ao cosmos.

Se por obra e graça sublimes um só governante ousasse pensar nos pequeninos, e contribuísse para a transmudação da paisagem de dor e ruína para relativa igualdade, tu que és rico e bem informado, promoverias batalha para destruí-lo e fazer retornar com mais rigor a desdita ou lutarias por justiça social, porque esta, ideário de tua vida?

A riqueza poderá ser fraternalmente repartida sem que para isso empobreçam os ricos: os valores econômicos ampliam-se no decorrer dos dias; há fortunas que jamais serão dissipadas em uma existência centenária, ainda que pródigos sejam seus detentores.

Tu, escravo das posses passageiras, patrão de uma moralidade de fachada, eleges Mamon como deus e renegas o Criador, como outrora a Cristo preferiste Barrabás. Teces loas a César, mas não dignificas o Pai que te deu razão e capacidade para evoluir infinitamente e construir a felicidade. Dás mais a César do que a Deus e com isto tu provas das delícias efêmeras, mas te manténs afastado das glórias celestes.

Na incessante busca do ouro que reluz e encanta, e da moeda que tilinta como melodia eternal, o indivíduo se enfronha nos prazeres e gozos passageiros, olvidando, contudo, o essencial, que não se compra nas prateleiras de boutiques, por serem valores imortais.

Quando atestas que os pobres formam sub-raças, são inferiores e imprestáveis, não reconheces que com o suor do rosto e as mãos calejadas, eles te proporcionam um mar de vantagens financeiras. Quando sugeres que eles preferem ficar em casa porque recebem migalhas governamentais, arrasa-os; não há ser pensante que podendo alavancar suas chances e alcançar os astros, se detenha em poças e charcos, supondo estar no sétimo céu.

Lembrai-vos, digníssimos filhos do Altíssimo, das sábias palavras do apóstolo Paulo: “quem não é por mim, é contra mim”. E quem é por Cristo, se age de forma contrária a seus ensinamentos e procedimentos?

Em reverência a Paulo, sejamos por nós, sejamos por Jesus, sejamos pelo próximo, sejamos por Deus, com Deus, de Deus e em Deus.

 

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