[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Natal de Delicadezas O POVO
ENFERMEIRA CLÁUDIA ALCÂNTARA

Uma receita para a felicidade

A gentileza está nos pequenos afagos. Nos bom dias, nos abraços, nos sorrisos. Precisamos despertar para o outro. Cláudia nos lembra ser gentil não lhe custa nada. Não lhe toma o tempo e faz um bem danado
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Liana Costa cotidiano@opovo.com.br
FÁBIO LIMA
A enfermeira Cláudia Alcântara é idealizadora da campanha Dezembro de Ouro
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No Instituto Doutor José Frota (IJF), são recebidos em média 430 pacientes por dia. São 430 casos de traumas, intoxicações, queimaduras; 430 vítimas da violência, do descaso e da negligência. Em dezembro, no entanto, o hospital também se tornou o lar das delicadezas, do cuidado e da generosidade. A morada da gentileza, representada pela enfermeira Cláudia Alcântara, idealizadora da campanha “Dezembro de Ouro”.

“Quando entrei no IJF, no começo do ano, eu andava pelos corredores e via o medo nos rostos da pessoas. Na maioria delas, bem jovens. Então decidi que tinha que fazer algo grande, algo diferente”, lembra Cláudia. A enfermeira de 31 anos resolveu se tornar a mudança. Começou pela maior delas: o amor.

Pintou o mês de dezembro de dourado e fez a sugestão: uma gentileza a cada dia. Fez surgir nos corredores do hospital um número maior de “bom dia”. Inventou mais abraços e sorrisos. Uma caixinha de recados se transformou em correio para as mensagens de afago. Um médico, em Papai Noel. Entre os pacientes, corais amenizavam a dor da internação. Até a confraternização de Natal, que havia um ano não tinha lugar na rotina do hospital, ganhou vida nova.

RECEITA ESPECIAL
A campanha ganhou a cidade. Deixou de ser da Cláudia para se tornar de todos. Espalhou-se para outros hospitais. Pelas redes sociais, empresas pediam material. Uma senhora ligou avisando que iria distribuir flores na Praça do Ferreira. Um grupo de jovens pediu orientações para arrecadar alimentos para uma instituição de caridade. Três dias após criada, a página da campanha no Facebook já contava com 16 mil visualizações.

“A gentileza é uma coisa que perpassa o nosso comportamento. Tudo o que vamos fazer, podemos fazer de maneira gentil. Quando você consegue trazer a gentileza para o seu dia a dia, está influenciando diretamente as pessoas”, receita Cláudia.

OLHAR O OUTRO

Há muito, no entanto, Cláudia compreende o poder da generosidade. É que gentileza é se vestir com a pele do outro, seja quem for. Um cuidar gratuito. A Cláudia, por exemplo, entende a gentileza como a habilidade de olhar para o outro - qualidade cada vez mais rara. “Quando você começa a se amar, você limpa os olhos e começa a enxergar o outro. É uma coisa de formiguinha, de balançar o outro e dizer que ele é importante. Às vezes, você diz ‘eu te amo’ para um filho e não se preocupa com uma pessoa que está sofrendo longe. Você tem que dar o que pode para aquela pessoa. Sabendo que qualquer pessoa sempre merece um pouco mais.”

No Hospital Infantil Albert Sabin, primeiro emprego após a faculdade de Enfermagem, Cláudia aprendeu que a atenção não substitui a falta do amor, mas ameniza a solidão. “Eu ia trabalhar vestida de boneca. No São João, organizava o arraiá com as crianças e maquiava todo mundo. Na ala da Genética, organizava um teatro de fantoches enquanto os meninos tomavam enzimas na veia. Na hora que você vir como isso é importante, você começa a fazer.”

Com as crianças do Albert Sabin, a vontade era de dar colo, lembra Cláudia. O mesmo que recebeu dos pais quando, aos 16 anos, ficou grávida. Maria Clara, que hoje tem 15 anos, disse à mãe na semana passada que iria levar um grupo de amigos, um violão e uma porção de tinta às crianças do Albert Sabin. “Fiquei super orgulhosa. Acho que, de certa forma, estou plantando algo.”

Onde está a gentileza?

Cláudia e o seu Dezembro de Ouro nos lembram que os atos diários de gentileza estão cada mais mais subestimados por nós. Em algum ponto do caminho, deixamos de praticar algo tão essencial. A campanha nos serve de alerta. Lá em casa, após ler sobre o Dezembro de Ouro, minha mãe, que também se chama Cláudia, passou a mandar pelo celular poesias para os amigos. Um dia desses, recebeu uma de volta. Parece pouco. Não é. Faz uma enorme diferença.

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