11/10/2017 - 13h22

O silêncio das panelas e da cidadania

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Guálter George gualter@opovo.com.br

A falta de panelas batendo nas ruas a cada travessura que patrocina parece ter tirado qualquer timidez do presidente Michel Temer e seus articuladores na batalha em que se envolveram para salvar um governo fortemente ameaçado de não permanecer de pé até janeiro de 2019, como está previsto no calendário político brasileiro. As conversas tortas e acordos espúrios acontecem mesmo à luz do dia, sob o olhar de uma sociedade cuja mobilização intensa transformou-se numa apatia absoluta, o que coloca em dúvida parte da intenção real das espetaculares manifestações cívicas de até outro dia, em outro contexto político.

O movimento para manter o deputado mineiro Bonifácio de Andrada, um tucano aecista, relator da denúncia contra Temer na CCJ da Câmara, por exemplo, deu-se sem qualquer esforço de questionar a ideia de que por trás de tudo estava a garantia de um voto pró-peemedebista. Já não se faz qualquer gesto no sentido de tentar convencer a sociedade de que há um mínimo de seriedade no tratamento das questões sérias dentro da política brasileira. É explícito o objetivo de atender o que seja o interesse do governante de plantão, única e exclusivamente.

Estivesse isso sendo feito à base de convencimento, do bom uso de argumentos, do combate justo à ideia fortemente prevalecente de que os indícios envolvendo o presidente da República são graves e merecem ser investigados, faria sentido que as panelas se mantivessem guardadas. No entanto, a estratégia coloca como instrumento principal de captação de apoio o uso descarado e agressivo da máquina pública, oferecendo-se dinheiro, cargos e apoio do Executivo a iniciativas que tramitam dentro do Congresso. Apenas considerando aquilo que tem sido possível noticiar, pois, é certo, há muito mais acontecendo nos bastidores escusos de Brasília para garantir a sobrevida de um governo que se fragiliza um dia após o outro.

É impressionante que se aceite com poucas críticas e quase sem resistência, nos limites do que a democracia permite, o episódio, recentíssimo, da troca do responsável pelo núcleo de fiscalização do trabalho escravo do Ministério do Trabalho. O que está dito, sem negativas oficiais enfáticas, é que sua "cabeça" foi oferecida à bancada ruralista no Congresso, crítica de uma ação do Estado que procura garantir, no ambiente laboral, respeito mínimo aos direitos do trabalhador no País. Para salvar Temer, avalia-se, vale tudo, até comprometer a vida de quem precisa de proteção do governo para não ser explorado de maneira, muitas vezes, até desumana. É este brasileiro que, contra a própria vontade, contribui para salvar o governante mais impopular da nossa história política recente.

Há muito mais acontecendo agora na superfície da disputa pelo Poder e, em especial pela manutenção dele no País. Um deputado de Minas Gerais, estado cuja bancada anda às turras com o Planalto pela decisão recente de vender parte da Cemig, empresa energética que até hoje permanece estatal, anunciou eufórico na tarde da última terça-feira que Temer prometera R$ 1 bilhão para necessidades urgentes na área de saúde. Se realmente necessárias e se efetivamente urgentes, por que atrelar os recursos ao voto dos parlamentares pela manutenção dele no cargo? É um acinte que as duas situações se cruzem!

O silêncio das panelas, enfim, é o sinal confirmador de que havia um ódio político, partidário e ideológico por trás de todo aquele baruilho dos tempos de Dilma Rousseff e do PT. Se, ao contrário, tivéssemos a mesma mobilização e igual disposição para fazer prevalecer a vontade de uma maioria que está insatisfeita, como as pesquisas expressam com larga facilidade, Michel Temer e assessores não demonstrariam tanta desfaçatez e naturalidade ao colocarem os interesses públicos a serviço do esforço de caráter quase pessoal para se salvarem em meio a denúncias e acusações graves e que, no mínimo, precisariam de uma investigação para tranquilizar o cidadão em relação àqueles que o governam.

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