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Caminhar entre os jazigos do cemitério Parque Bom Jardim é perceber que o intervalo de tempo entre uma estrela e uma cruz não raramente é curto. Os símbolos significam as datas de nascimento e óbito de quem lá descansa e retratam o quão efêmera foi a vida de
boa parte dessas pessoas.
A vida de quem vai ao cemitério relembrar o passadoFuncionários de cemitério relatam visitantes "inusitados"Coveiro trabalha em cemitério onde filho está enterradoCemitérios realizam missas e cultos no Dia de Finados
Localizado no Bom Jardim, bairro estigmatizado pela violência, o cemitério é o único público que está ativo na Capital. Outros cemitérios, como o da Parangaba e o da Messejana, já atingiram capacidade máxima e recebem apenas sepultamentos de famílias que compraram jazigos no passado. Assim, o cemitério do Bom Jardim recebe parcela significativa das vítimas de homicídios em Fortaleza.
“É muito de 18 (anos) pra baixo. Muito jovem de 15 anos. A gente vê o sofrimento da mãe e se coloca no lugar dela. Pedindo a Deus pra que nada aconteça com os nossos. Converso com eles pra não se juntarem com amizade errada”, conta Elieuda Bezerra, 48, mãe de dois filhos e que trabalha na parte da limpeza e na cantina do cemitério.
Segundo o relatório Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil, Fortaleza foi a capital do País com maior número de assassinatos de jovens com até 19 anos. O estudo realizado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso) apontou que em 2013 foram 81,3 homicídios para cada 100 mil habitantes. O número é cinco vezes maior que a média nacional (16,3 por 100 mil habitantes).
Nem a administração do cemitério nem a Secretaria Regional 5 têm estatísticas etárias dos sepultamentos no Bom Jardim, assim como as causas dos óbitos.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ocorreram 6.594 Crimes Violentos Letais Intencionais (CLVI) de 2013 até o último mês de outubro. Este ano, foram 961 mortes que se encaixam nessa categoria. Grande parte dessas vítimas, jovens de periferia cujos destinos foram abreviados pelos mais diversos motivos.
A emoção de Jó
“Dá pra tentar não se emocionar. Nem sempre a gente consegue. Em muitas situações, temos que ser profissionais porque temos que cumprir uma série de coisas e ao mesmo tempo facilitar a vida da família. Mas uma mãe que grita desesperada mexe com a gente. É muito difícil ver, por exemplo, um menino de 9 anos morrendo a bala por conta de tráfico”, conta Jó, que hoje se surpreende mais com mortes naturais que com as violentas.
O cemitério Parque Bom Jardim foi inaugurado em 1994.
Segundo a Secretaria Regional 5, órgão responsável pela administração do local, já foram realizados no local mais de 90 mil sepultamentos. A capacidade do cemitério é de 100 mil sepultamentos.
Esse é o único cemitério público da Capital que ainda aceita sepultamentos.
Em média, são realizados 16 enterros por dia. Mas esse número pode ser maior em situações específicas como, por exemplo, dias de enterro de indigentes levados pela Perícia Forense.
A administração do cemitério tem convênio com todas as funerárias de Fortaleza. As famílias não precisam gastar para sepultar um ente querido. É necessário apenas levar alguns documentos de identificação além de certidão de óbito para realizar o sepultamento. É obrigatório ainda um comprovante de residência, pois o cemitério realiza sepultamento apenas de moradores da Capital.
Cinco anos após o enterro, a família pode escolher se deseja transferir o corpo para um outro cemitério privado ou mesmo para outra cidade. Caso a família não queira, é feita a exumação e o material levado para o ossuário do cemitério. O intuito das exumações é fazer com que haja espaço para novos sepultamentos.
Ao enterrar algum ente querido, a família recebe um papel de identificação da administração do cemitério para facilitar a localização em uma visita futura.
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