[an error occurred while processing this directive] Coveiro trabalha em cemitério onde filho está enterrado | O POVO
PARQUE BOM JARDIM 02/11/2016

Coveiro trabalha em cemitério onde filho está enterrado

O coveiro Raimundo Nonato tem a companhia diária de Raílson, filho, ex-companheiro de trabalho e vítima da violência
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FOTOS FABIO LIMA
O coveiro Raimundo Nonato de Lima trabalha há oito anos no Parque Bom Jardim, onde está enterrado o filho Raílson. O jovem foi assassinado em 2012

Raimundo Nonato de Lima passou os últimos oito anos dos 49 de vida trabalhando como coveiro no cemitério Parque Bom Jardim. Tímido e de poucas palavras, reluta em falar um pouco sobre alguma história marcante que tenha presenciado nos anos de labuta, sol sobre o cocuruto e sepultamentos de perder as contas. A resistência tem explicação revelada por uma lembrança específica e os olhos que não demoram a enrubescer e lacrimejar.

 

“Tem um filho meu bem ali. Tá enterrado. 23 anos. Raílson. Morava mais eu. Trabalhava de coveiro também. É assim mesmo. É da vida”, revela com frases pausadas e tom monocórdico. “Ele sempre fica assim quando lembra disso”, conta outra funcionária do cemitério ao vê-lo chorar.

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Ele diz não se importar em levar a reportagem ao local onde o filho agora descansa. Chegando lá, é notório o contraste entre o jazigo de Raílson e os demais. A grama bem cuidada em frente à lápide destoa do restante do solo do cemitério, marcado pela aridez da mistura entre areia e pedras.

Lucicleide esteve no cemitério para um enterro e visitou o túmulo do irmão

“Nasceu em 1989. Olha como era novo. Tem esse jardim que eu sempre aguo, cuido. Pra mim não tem essa de cemitério de rico e cemitério de pobre. Todos pra mim são iguais. Nossa carne é uma só. O mesmo deus dali é o deus daqui”, conta enquanto confere se está tudo certo com a grama do jazigo do filho.


O coveiro está no terceiro casamento e tem companhia de outros dois filhos e três netos dos quais não esconde o orgulho. Em meio à rotina de 16 sepultamentos que realiza em média por dia, Raimundo encontra sempre um tempinho para reencontrar o filho que se foi. Além do cuidado, é também uma oportunidade para falar sobre a vida. “Às vezes converso com ele. Se ele ao menos ouvisse... Mas faço uma oração, acendo uma vela. Ele sempre foi meu anjo da guarda”, revela, fazendo questão de dizer que não pratica nenhuma
religião específica.


O contato de pai e filho deixou de ser físico em 2012. O jovem tinha 23 anos e estava feliz por trabalhar ao lado do pai como coveiro depois de passar quase quatro anos com os funcionários que faziam as exumações do cemitério. “Era trabalhador demais”, faz questão de frisar.


Raílson também foi vítima da violência urbana. Foi assassinado por um homem infeliz e deixado pela mulher com a qual Raílson se envolvera. “É complicado essa coisa de mulher que não quer mais e o cara perde o juízo. Se essa morte tivesse sido natural, a gente ficava menos indignado. Mas a gente bota tudo na mão de Deus que as coisas dão certo”, finaliza ao se despedir. (João Marcelo Sena)

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