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Quando assumiu a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), o jornalista Paulo Mamede tinha pouco mais de um ano para desfazer a imagem de um governo que havia negligenciado a pasta por quase dois mandatos consecutivos.
A Copa do Mundo e o período eleitoral, marcados no calendário de 2014, eram obstáculos. A vida impôs outro: o secretário passou um mês afastado para tratamento de saúde - que ainda está em curso, mas não lhe tirou o fôlego. Em entrevista ao O POVO, Paulo Mamede faz um balanço de sua gestão.
O POVO - O senhor assumiu a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) em setembro do ano passado num momento de muito descrédito, problemas burocráticos, críticas diante de uma apatia que durou sete anos, quase todo o governo Cid Gomes. O senhor pode descrever como foi esse momento?
Paulo Mamede - Recebi a secretaria com um déficit mensal de R$ 250 mil e um finalístico de R$ 3 milhões (valor que faltava no orçamento para fechar o balanço financeiro do ano). Não tinha uma empresa terceirizada. Nós temos três empresas terceirizadas de prestação de serviço – para segurança, TI (tecnologia da informação) e serviços gerais. Todas essas empresas estavam com contrato vencido que vinha sendo renovado há cinco anos. Havia ameaça de corte da Coelce. Três ameaças de corte. Os telefones da secretaria estavam cortados, só recebiam. Não havia uma – uma! – obra licitada. A grosso modo, foi o que encontramos. Isso com uma pressão social muito grande. A primeira coisa que eu fiz foi abrir o diálogo. Conversei com todos os segmentos ligados à cultura. Conversei com produtores, com as várias linguagens, pessoal de fotografia, dança, música, teatro, enfim...OP – E, diante desse quadro, o que foi priorizado?
Paulo Mamede -Estabelecemos três metas. A primeira era um ajuste interno. Ter um orçamento adequado às despesas da secretaria, zerar nosso déficit, pagar o que a gente estava devendo - principalmente editais. Havia editais não pagos desde 2012. E conseguimos. A primeira grande vitória foi essa. Demos uma ajeitada.
O que não é o ideal. Porque não temos servidores. A Secretaria da Cultura do Ceará é a mais antiga do Brasil e nunca houve um concurso. Todo o dia eu assino três, quatro aposentadorias. Em dois anos, a secretaria não vai ter mais nem um funcionário no quadro efetivo. O que dependeu da secretaria foi feito. A solicitação de 72 vagas está na Procuradoria Geral do Estado, que deve encaminhar pra Assembleia Legislativa. Também conseguimos adequar nosso orçamento e fazer todas as licitações. Outra grande vitória foi lançar todos editais previstos em lei. Há sete anos, o próprio governo não cumpria a legislação. Nós conseguimos lançar todos os editais, e com pelo menos 30% a 40% de reajuste. O (edital) Natal de Luz era o último pra não fechar a gestão (estava com inscrições abertas até ontem). E, dependendo do FEC, (Fundo Estadual de Cultura), ainda quero lançar outro edital neste ano. Embora eu não ache que edital seja a política prioritária, defendo que tem que haver. É como você democratiza, mas há uma concentração principalmente com pessoas já tarimbadas de fazer um bom projeto. Nossos editais são muito mal feitos. Quero deixar essa herança de melhorá-los. O pacote significa mais de R$ 20 milhões diretos na ponta. E, por último, nós conseguimos licitar todas as obras que estavam previstas no plano do governo. Tinha obra - a interseção do Dragão do Mar com a Biblioteca Menezes Pimentel, por exemplo - que estava há sete anos só como projeto.
OP - Quais obras serão entregues?
OP – O que falta para a obra da biblioteca começar?
Paulo Mamede - Aí a pergunta não é pra mim. Porque eu licitei, a empresa foi contratada e foi homologada. Mas preciso do Mapp (aprovação pelo Monitoramento e Acompanhamento de Projetos Prioritários do Governo do Ceará). Acho que eu não conheço nenhum governo que tenha feito mais obra do que esse. Não vou entrar no juízo de valor.OP - A obra de integração com o Dragão do Mar não justifica o fechamento da biblioteca. Por que ela permanece fechada se não há previsão para início da obra?
Paulo Mamede - Fechei por decisão minha, do secretário. Por uma questão humanitária. Aquelas vidraças enormes estavam seguras por uma madeirinha, parecia um pregador de roupa. A fiação estava toda exposta. As pessoas tinham que levar ventilador de casa. Não funcionava ar-condicionado. Não funcionava banheiro. Muita gente fala mal de servidor público. Mas eles tratavam no balde porque não tinha descarga. Nenhum elevador funcionava. Infiltração. Eu fechei porque era impossível manter a biblioteca aberta. Era uma mentira. Não posso colocar ninguém em risco, nem os servidores. Mas ainda estou estou atrás de solução, tentando transferir uma parte do acervo para galpões da Rffsa que já estão prontos (onde deve funcionar a pinacoteca pública). Quero fazer isso antes do final o meu mandato. Mas tive dificuldades. Fui abatido por um problema de saúde e perdi dois meses de tratamento
médico.
Frase
“Havia ameaça de corte da Coelce. Os telefones da Secult estavam cortados, só recebiam. Não havia uma – uma! – obra licitada”
"Eu estou com muita esperança mesmo por conta do empenho do Camilo e do Tiago (Santana, irmão do governador)"
"Não podemos deixar que o Centro se transforme numa cracolândia. E é o que está acontecendo"
"Não dá pro diretor do Dragão do Mar ganhar R$ 15 mil e a diretora do José de Alencar ganhar R$ 2,5 mil"
SAIBA MAIS
Alguns dos principais projetos
Restauro e reforma do Cine São Luiz – investimento de R$ 15 milhões.
40 salas de cinemas no interior – As obras já estão em curso. Parceria entre Ancine e Secult.
Centro de Cultura e Memória Engenheiro João Felipe - complexo cultural instalado nos sete galpões da antiga Rffsa. Três dos sete galpões estão em
fase de conclusão.
Memorial Cego Aderaldo – obra pronta para inauguração em Quixadá.
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