Há dois anos, a ONG Tapera das Artes, localizada em Aquiraz, firmou uma parceria com a Fundação Bachiana de São Paulo que resultou na criação da Orquestra de Cordas Bachiana Jovem. Formada por crianças e adolescentes de 7 a 14 anos do município localizado a 32 km de Fortaleza, a Orquestra faz parte de um grande projeto de formação, educação e cidadania, que tem a música como gancho. Visando a criação de outras formações de música de câmara, o projeto vem ganhando apoios importantes, como o do maestro João Carlos Martins, que visitou a instituição em março deste ano.
Na última quinta-feira, 9, outra visita veio para somar a Tapera das Artes. Com experiências nas orquestras de Londres, Hong Kong, Knoxville, São Paulo e outras, o maestro Kirk Trevor veio ao Ceará conhecer o projeto e levar à diante uma missão particular de dividir a música erudita com o maior número possível de pessoas. “O problema da música clássica é essa percepção de que é de elite. Há 40 anos, eu tento quebrar essa barreira”, comentou o maestro acrescentando outra dificuldade que deve ser superada. “O público da música clássica é de, em média, 60 anos. Os mais jovens, por conta da falta de tempo, usam o tempo de outras formas, por exemplo, com a família. Por isso, eu levo orquestras para todos os lugares, como parques e praças”.
Nascido na Inglaterra, Kirk Trevor esteve à frente de grandes orquestras do mundo, além de ter gravado com boa parte delas em mais de 250 discos. Suas primeiras experiências na música aconteceram aos oito anos e, aos 12, ele teve chance de reger o primeiro concerto, algo que não parou mais de fazer. A primeira visita de Trevor ao Brasil aconteceu em 2006, a convite da Universidade de São Paulo (USP). De lá para cá, além do trânsito da capital paulistana, impressionou o maestro a vontade dos brasileiros em tentarem ser cada vez melhores, apesar das dificuldades. “Mesmo dando aula para músicos profissionais, eles são humildes para ouvir o básico”, diagnosticou.
Investimento privado
Nas visitas que fez ao Brasil, Kirk Trevor ainda se aprofundou nas obras de Cláudio Santoro (1919 – 1989), César Guerra-Peixe (1914 – 1993) e Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), compositores que agora fazem parte do seu repertório. Fã ainda de Tom Jobim e João Gilberto, ele aponta que percebeu melhoras na formação musical brasileira nesses oito anos, mas lamenta que elas sempre sejam atreladas a um plano de gestão pública. “Nos EUA, muda o presidente, mas o ensino de música não muda, porque a maior parte dos investimentos vem do setor privado”, comenta o músico, que hoje se dedica a formar outros professores de música.
Entre os alunos de Kirk Trevor, está Ênio Antunes, diretor artístico e pedagógico da Tapera das Artes. Mineiro de Belo Horizonte, ele desenvolveu o programa de sensibilização artística Um toque de classe, que parte da vivência social e cultural dos alunos para chegar à formação erudita. Desde janeiro deste ano, ele vem ao Ceará pelo menos uma vez por mês para coordenar os trabalhos dos nove professores e 400 alunos da instituição. Seu projeto para a Tapera tem um horizonte de quatro anos e inclui a criação de formações como camerata, sinfonietta, coro sinfônico, quarteto e quinteto de cordas, entre outras. Segundo Ênio, esse projeto será acompanhado por Trevor e João Carlos Martins, que vão voltar a Aquiraz a cada dois anos. Segundo ele, a aprovação tem sido absoluta. “A única dificuldade é fazer as crianças entenderem o projeto todo, mostrar a importância de um processo cognitivo. Mas, no momento que desenvolvemos a confiança, dá tudo certo”.
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