Nem o litoral de Aquarius, nem o sertão de Boi Neon. O cineasta cearense Leonardo Mouramateus acredita em outros cenários, outras temperaturas. “O cinema brasileiro não precisa ter uma cara e nem estar sempre ligado a uma paisagem tropical”, sugere o jovem diretor que acaba de ter seu primeiro longa-metragem, António Um Dois Três, selecionado para o Festival de Rotterdam. Em entrevista ao Vida & Arte, Leonardo, que já havia circulado festivais mundo afora com seus curtas, celebra os múltiplos olhares que a produção audiovisual nacional tem conseguido internacionalmente.
“A gente (brasileiro) tem um problema de identidade que tem mais de 500 anos.
É hora de fazer desse problema uma vantagem”, aponta Leonardo, que atualmente mora em Lisboa, onde seu longa foi gravado. Para ele, é difícil falar da produção audiovisual brasileira de maneira simplista e unificada. “Eu nem me considero indicado para falar desse ‘cinema brasileiro’, porque o que faço não tem uma identidade muito forte com outros filmes recentes”, contrapõe.
Citando produção de outros países, como Romênia e Irã, onde os filmes têm maior semelhança entre si, Leonardo diz que o cinema brasileiro “ainda não existe” enquanto marca registrada. “E isso é massa”, arremata. E, apesar de não se incluir diretamente no hall dos cineastas brasileiros que têm exibido seus trabalhos em festivais, ele celebra a projeção artistas do País têm conseguido.
“Em Portugal, por exemplo, os filmes brasileiros têm bastante visibilidade, são bem reconhecidos”, diz.
Com sete anos de atuação desde o primeiro curta, Fui à guerra e não te chamei, o cearense já foi destaque na 35ª edição do Cinéma du Réel, no Centre Pompidou, em Paris, e estreou mundialmente o curta História de uma pena na 68ª edição do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, além de participar de outros tantos eventos nacionais e internacionais. O evento holandês, no entanto, tem para ele um brilho a mais. “O Festival de Rotterdam tem uma cara de mundo, porque aposta em propostas mais variadas, mais abertas de cinema de lugares de diferentes”, afirma.
Apesar de apontar que o primeiro longa-metragem da carreira é uma continuidade do seu trabalho, Leonardo destaca também as mudanças. “Tem um desvio de rota em António Um Dois Três. Além da duração, ele tem uma mudança de tom, é uma comédia mais claramente. Eu estou muito contaminado pela atmosfera da cidade (Lisboa)”, afirma, apontado que as relações Brasil-Portugal (e como esses países se enxergam de forma micro e macro) perpassam a obra. “A lógica entre brasileiros e portugueses é diferente nas próprias relações. O filme não é tão acalorado quanto os meus outros. É outra montanha russa. Outra rota”, descreve.
Apesar de não ser filmado na capital cearense, António, Um, Dos, Três tem muita da cidade natal do cineasta, seja subjetivamente ou na construção dos personagens. “Um dos personagens, o Daniel, é um talentoso diretor do teatro cearense e ele tem uma emergência nas paixões. É como Fortaleza, onde as pessoas são movidas por impulso. Não é uma cidade asséptica, não é limpinha é cheia de tempos diferentes”, avalia.
Mouramateus também estreia este mês o filme Vando Vulgo Vedita, curta feito em parceria com a coreógrafa e bailarina Andréia Pires. A obra foi selecionada para compor a Mostra Foco, em Tiradentes, e vai competir com outros dez curtas.
Saiba mais
Além de António Um Dois Três, outros dois filmes brasileiros foram selecionados para a mostra Bright Future, do Festival de Rotterdam. São eles: Corpo Elétrico, de Márcio Caetano, e Pela Janela, de Caroline Leone. A sessão é dedicada a diretores estreantes no formato longa-metragem e reúne 16 produções. O vencedor ganha 10 mil euros para o desenvolvimento de próximos projetos.
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