ENTREVISTA. CONEXÃO HORIZONTE-DETROIT 25/03/2014

O Cearense "Pai" do Troller

Rogério Farias conta o início de um dos 4x4 mais desejados entre os apaixonados por aventura. Foi a união entre conhecimento, dinheiro, amigos e sorte do homem que aprendeu a fazer carro fazendo. Hoje, a Troller pertence à Ford
notícia 9 comentários
DictSql({'grupo': ' ', 'id_autor': 16420, 'email': 'andreh@opovo.com.br', 'nome': 'Andreh Jonathas'})
Andreh Jonathas andreh@opovo.com.br
FOTOS DEIVYSON TEIXEIRA
Rogério Farias já participou do Rally Paris Dakar e viu sua cria, o Troller, ganhar o mundo participando de competições

Ele não costuma dar entrevistas, é discreto. É também engenhoso, tanto que desenvolveu lanchas, um carro anfíbio, além do buggy Fyber 2000 e Fyber 3000. O cearense de Nova Russas, Rogério Farias, remexeu na história do carro que o tornou conhecido no ramo automotivo, o Troller. A Ford comprou a fábrica em 2007, mas antes disso ele já não era mais sócio da marca 4x4.

 

Rogério é administrador de empresas por formação e engenheiro mecânico por insistência. Conta que aprendeu a soldar, tornear e pintar para fazer o que ele mais sabe: criar. Muitos sabores, ralis e muitas histórias que o Troller lhe trouxe. Dinheiro mesmo, outras atividades lhe proporcionaram mais.


Bem de vida, hoje desenvolve elevadores e peças para parques de energia eólica. Mas essa é outra história. Quisemos mesmo saber como, com quem e com que dinheiro conseguiu tornar sua cria em um dos carros mais desejados para amantes de aventuras fora de estrada.


E Rogério contou ao O POVO tudo e um pouco mais em entrevista na primeira concessionária do 4x4, a Trilha Fort.

 

O POVO - Como foi o estalo para criar e desenvolver o Troller?

Rogério Farias - Em 1994, eu comecei o projeto. Gostava de andar nas praias com lancha. Antes, podia. Mas o buggy não puxava a lancha como um 4x4. Eu imaginava em fazer um carro para andar nesse imenso litoral do Ceará. Então, eu desenvolvi um veículo com tração automática. Mas naquela época, você não poderia importar a parte de mecânica. Então foi o jeito eu fazer aqui. Consegui alguns protótipos. Cada vez que você tem uma decepção com uma peça, você também aprende. Quando você aprende, você melhora. Aí eu passei mais ou menos um ano e pouco fazendo esse carro.

 

OP - Qual era o tamanho da equipe?

Rogério - Como o dinheiro era meu para desenvolver o projeto, eu tinha que fazer uma coisa com a certeza de acerto. Aprendi a soldar, tornear, pintar, tudo que era preciso.

 

OP - Qual carro foi inspiração para o Troller?

Rogério - Já tinha nome e tudo. Em agosto de 1996, estava pronto o primeiro carro. Eu imaginava que tinha que ser um jeep e ser resistente. Não interessa o estilo dele. O cara que gosta não está muito preocupado com a aparência. Está preocupado se tem robustez e boa mecânica. Esse tipo de carro não tem boa aerodinâmica, porque é para andar no máximo a 100 km por hora. A inspiração foi o Jeep. O difícil é fazer o simples. A gente trabalha muito para fazer o simples. O Troller tem essa característica. Tudo é simples nele.

 

OP - Quanto você investiu e como conseguiu o dinheiro?

Rogério - Eu tinha vendido outra fábrica que eu possuia e tinha US$ 1 milhão na época. Eu gastei tudo nos primeiros carros. Foi muito mais do que isso? Foi. Não sei quanto. Mas o meu US$ 1 milhão foi embora.

 

OP - Esse dinheiro voltou depois?

Rogério - Para o bolso não voltou. A vida da gente não é feita só de dinheiro. E o que eu vivi? E o que eu participei? E o que fui querido pelas pessoas por isso? Eu já vivia razoavelmente bem. Hoje também. 

 

OP - Como conseguiu sustentar uma fabricação em baixa escala de produção?

Rogério - Depois do carro pronto, pensei: “Como vou produzir isso?” Eu fazia um por semana, praticamente eu fazendo com mais duas pessoas trabalhando. Uma produção em baixa escala não tem sentido. Menos de 100 unidades por mês é um número muito pequeno para o mercado. Você vai comprar um motor, o fabricante não vende de pouco. Eu fui em uma fábrica em um México que fabrica sete mil e quinhentas caixas de marcha por dia. Quando eu disse que queria 100 caixas por mês... para eles lá, não faz a mínima diferença.

 

OP -E como você conseguiu abrir as portas no mercado?

Rogério - Eu conheci uma pessoa em Detroit, que estava em uma feira. O cara estava fumando em um cantinho. Eu cheguei lá. Minha mulher fala muito bem inglês. Pedi a ela para falar com ele, eu achava que era um vendedor. Era o presidente da Dana Mundial, Roy Mills. Eu contei minha história. Aí ele chegou e disse que ia me ajudar. Esse cara foi quem abriu as portas do mercado para mim.

 

OP - Que portas ele abriu?

Rogério - Se eu chegar de fora, em alguns lugares, ninguém nem me recebe. Precisa de um cartão. Eu cheguei em uma fábrica de homocinética e disse: “Eu quero essa peça aqui, mas eu quero uma borracha aqui.” Era uma mudança pequena. O cara me disse: “Nem pensar. Eu acho que não vou nem vender pra você a peça normal, quanto mais modificar”. Aí eu disse: “Não, rapaz, eu estive em Detroit com o Roy Mills.” Aí, ele: “Com quem? Tem o cartão dele aí?”. Fizeram cópia do cartão e disseram que fazia a peça para mim.

OP - Que lembrança marcante você tem do Rally Paris Dakar?

Rogério - Tínhamos um piloto, que já morreu, chamado Arnoldo Júnior, que eu considero o melhor piloto de fora de estrada do Brasil. Esse cara foi para o Dakar com a gente. Eu fui para acompanhar. Ele poderia ter ganho o Dakar, mas por política, ele não ganhou. Não chegou em primeiro lugar, porque recebeu um rádio dizendo que ele tinha que ajudar os outros, tinham que chegar os quatro carros. Eu respeito isso. Chegaram os quatro carros inteiros e funcionando. De 250 carros que fazem um Dakar, chegam 40 ou 50 no final. A única experiência que tínhamos era as áreas da nossa praia e os pilotos que são muitos bons.

 

OP - Quando você vendeu totalmente a Troller?

Rogério - Rapaz, não me lembro, mas foi seis meses antes de vender para a Ford, que foi em 2007. Eu tinha 7% da Troller.

 

OP - Você já sabia que iria ser vendido para a Ford?

Rogério - Não.

 

OP - Valeu a pena todo o tempo e dinheiro que você investiu no Troller?

Rogério - Claro. Tudo que eu tenho hoje, essa vontade de viver, de crescer, de estar sempre presente em aventuras, tem a ver com isso. Eu fico cheio de sentimentos bons porque eu contribuiu um bocado para a felicidade de muita gente. Você fica pensando em fazer outras coisas melhores.

 

PERFIL

 

Filho de “chefe de estação”, Rogério Farias nasceu em Nova Russas (cerca de 300 quilômetros de Fortaleza) no dia 7 de abril de 1958. Em Fortaleza, estudou no Liceu do Ceará e formou-se administração de empresa na Universidade Federal do Ceará (UFC). É divorciado e tem quatro filhos. Aprendeu a desenvolver carro na prática, pois não tem formação em engenharia mecânica. Seu pai é de Camocim e atuava como agente de estação. Viajava muito.
 

NOVO TROLLER TRX

Novo Troller TRX já havia sido flagrado algumas vezes pela imprensa automotiva nos testes de rua. O POVO apurou que há uma previsão para chegada em Fortaleza no final de abril ou começo de maio. O desenvolvimento do novo jipe foi chefiado por Luc de Ferran, experiente engenheiro da Ford e um dos responsáveis pelo projeto Amazon, que deu origem ao EcoSport. O estilo deve ganhar mais personalidade, enquanto o interior terá melhor acabamento e maior oferta de equipamentos. O motor será mantido como o 3.2 atual, com 165 cv e 38,8 kgfm.

> TAGS: ceará ford troller
espaço do leitor
Vinicius Lima 29/01/2016 17:41
Desde os anos 90 sonho com um troller T4. Valeu Rogério por me proporcionar um sonho tão bonito.
Barbara De Souza 15/06/2015 13:13
Olha ten alguem que falar que ele inventou ou troller ele se chama Asther Donner Theophilus porque ele nao e mensionado na historian?
marc 02/04/2015 14:29
Mais um brasileiro talentoso !
Lima 05/06/2014 19:57
Quem é bom nunca fecha a porta. Vc sabe tudo de jeep e esta ford mudou demais nosso amado troller. Cara faz outro e sem esta danação de sensores que dão pane toda hora. Antes ninguém ouvia dizer que troller entrava em módulo de segurança e cortava aceleração. Amigo mostra tua raça faz outro pra nós.
VALTERLAN VIANA RIBEIRO 02/06/2014 09:36
Parabéns grande cearense
Ver mais comentários
9
Comentários
500
As informações são de responsabilidade do autor:
  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

ACOMPANHE O POVO NAS REDES SOCIAIS

Erro ao renderizar o portlet: Barra Sites do Grupo

Erro: <urlopen error [Errno 110] Tempo esgotado para conexão>

Jornal de Hoje | Veículos