Assisti a esses últimos dias com um olho no microscópio e outro no telescópio. Procurando compreender os detalhes que chegavam antes da votação na Câmara dos Deputados. E tentando explicar a amigos brasileiros que estão longe do País ou a estrangeiros, que têm simpatia pelo Brasil, o momento de instabilidade política e econômica que vivenciamos e da possibilidade do impeachment, que agora espera a decisão do Senado. A tarefa difícil não era aclarar o rito do processo, mas fazer com que entendessem o que acontecera ao partido que prometia profunda reforma social. E que – aos olhos de fora – assim poderia ser. Ou o enfraquecimento de um dos políticos mais populares da história brasileira. E que – aos olhos de muitos – ainda parecia ser. O complexo desta empreitada era o pedido de alguns por um prenúncio do cenário político futuro: nas mãos de quem ficará um país que passa por tamanho escrutínio? O que fica de cada uma destas conversas não é a conjectura, mas a diagnose do presente: um hostil e quase surrealista Congresso – com cerca de 60% dos seus parlamentares enfrentando algum tipo de acusação (de acordo com números levantados pela organização Transparência Brasil) -, uma gestão econômica frágil com os fantasmas da inflação e do desemprego voltando à memória dos brasileiros e, por fim, uma série de vítimas feitas pela intolerância política resultante de um emotivo e fragmentado debate travado nos últimos meses. Porém, o que não se explica em bom português ou se traduz em outra língua é o real significado da perda. De todos os lados. Porque, de uma maneira ou de outra, todos nós saímos perdendo. A propósito, esta descrição de “um olho no microscópio e outro olho no telescópio” foi dada à escrita literária do uruguaio Eduardo Galeano. Achei a definição propícia para este momento e por fazer-me lembrar de um autor que, quando falava de perdas, dizia que era como andar com uma música ruim na alma.
Infelizmente, temos escutado muitos acordes.
Ana Naddaf, diretora-executiva do O POVO
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