A Conferência de Paris pela paz no Oriente Médio advertiu israelenses e palestinos, ontem, para que evitem “ações unilaterais” em Jerusalém e nas fronteiras, alegando que essa medida de força pode ameaçar uma solução baseada em dois Estados.
Em um comunicado final, negociado em cada detalhe pelos representantes de cerca de 70 países, a conferência pediu às partes que “demonstrem seu compromisso para a solução de dois Estados e se abstenham de ações que prejudiquem os resultados da negociação, principalmente sobre as fronteiras, sobre Jerusalém, sobre os refugiados”. Se levadas adiante - garante o texto -, essas ações “não serão reconhecidas”.
A Grã-Bretanha não assinou a declaração final, informou o Ministério britânico das Relações Exteriores. “Temos reservas particulares sobre uma conferência internacional destinada a promover a paz entre duas partes sem que estas estejam presentes, uma conferência realizada contra a vontade dos israelenses”, explicou a nota, acrescentando que, por essa razão, Londres participou apenas como observador.
No mesmo tom, Israel criticou a conferência, classificando-a de “inútil”.
“Essa conferência internacional e as resoluções das Nações Unidas apenas afastam as perspectivas de paz, dado que estimulam os palestinos a manter sua recusa a negociações diretas com Israel”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em Jerusalém.
Ao contrário de Israel, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) comemorou o texto final do encontro e voltou a pedir “o fim da ocupação israelense”, informou seu secretário-geral, Saeb Erekat.
Além disso, a OLP solicitou o “imediato reconhecimento do Estado da Palestina com suas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como sua capital”.
“Provocação”
O anfitrião do encontro, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, advertiu que a transferência da embaixada americana seria uma “provocação” e traria “graves consequências”.
O comunicado final omite qualquer referência ao polêmico projeto do presidente eleito dos Estado Unidos, Donald Trump, de mudar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.
Ayrault lembrou ainda que a resolução do conflito deve se basear nas fronteiras de 1967 e nas grandes resoluções da ONU, referindo-se aos textos que pedem a Israel para se retirar dos territórios ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967.
Já o secretário de Estado americano, John Kerry, considerou a declaração final “equilibrada” e confirmou ter conversado por telefone com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para “tranquilizá-lo”.
“Chegamos aqui e, onde pensamos que havia desequilíbrio e que não se estava expressando o tipo de unidade de que eu falei, nós lutamos para resolver isso”, garantiu.
“Nós não suavizamos. Nós fizemos o que era necessário para ter uma resolução equilibrada e, se você olhar para ela, ela fala de maneira positiva, e não negativa, para ambos os lados”, avaliou Kerry.
O secretário observou que as principais nações árabes estiveram presentes nas negociações e concordaram com a linguagem condenando a incitação, além de apoiarem o esboço dos Estados Unidos de uma solução de dois Estados.
Esse projeto, revelado por Kerry no mês passado, insiste na necessidade de dois Estados - um deles, Israel, reconhecido como um Estado judeu.
“Essa resolução não prejudica o resultado das negociações de status permanente para Jerusalém Oriental, as quais devem refletir os laços históricos e as realidades no terreno”, concluiu. (AFP)
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