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Ana Isaura na trilha do centenário
Texto de Liana Maria Barbosa, professora, UEFS.
No dia 6 de julho de 2014, Ana Isaura Barbosa integra a população longeva, centenária e brasileira. Nascida em 1914, Ana Isaura é a mais velha da família de quatro homens e cinco mulheres do casal Francisca Amélia e José Antonio da Silva (Zeca Cacundé). Desta família, quatro mulheres maiores de 88 anos - Ana, Maria, Mundinha e Lurdes testemunham lembranças sobre as pestes dos três oito (1888) contadas pela avó; da arte de carpintaria, rabeca e caixinha de música do pai; da malária que a mãe contraiu; das festas da padroeira Senhora Santana; os parentes que migraram para a Amazônia, além de secas e enchentes do Rio Jaguaribe. Em União, atual município de Jaguaruana (Ceará), Ana Isaura aprendeu tecelagem de varandas de redes, renda de bilros e seu ponto forte: corte- costura. Alfabetizada para escrita, leitura e domínio com aritmética, em 1935, Ana casou com Francisco Pereira Barbosa (Chico Pereira), nascido em Jureminha, filho de João Pereira e Maria Cândida Araújo. Inicialmente, o casal residiu em Lagoa Vermelha, zona rural de Jaguaruana. Ao passo que os filhos nasciam, a família seguiu um roteiro de migração: Lagoa Vermelha, vila-sede de Jaguaruana, Baixinha (atual Pindoretama), Pacajus e Fortaleza. Na capital cearense, a família se instalou no sítio do velho Campelo nas margens do Lagamar, fato que não agradou Ana Isaura: “como pode, sair dos matos prá vir morar nos matos! Nesse tempo, o bairro (São João do Tauape) era uma casa aqui e outra acolá, tudo longe. Não tinha luz. Para ir à rua (como era chamado o centro da cidade), precisava andar até o Atapu”. No final da década de 1940, a família fixou residência no outro lado do trilho na “Rua da Maloca”, atual Rua Sabino Monte. Os filhos nasceram com auxílio de parteiras em Jaguaruana, em Pacajus e em Fortaleza, tiveram acesso à educação formal e a maioria se espalhou por outros estados brasileiros. Ana ficou viúva em maio de 1992 com doze filhos - nove homens e três mulheres, dezenas de netos e bisnetos, além de um quintal grande, onde o balanço no pé de seriguela e o tanque abrigaram os netos até a década de 1990, aproximadamente. Adepta aos chás, Ana adotou o livro “As plantas curam”, e, na sua experiência com chás, desenvolveu um mito para ir à missa domingueira: “na noite de sábado, antes de dormir, tomo chá de boldo para o intestino não funcionar logo cedo de manhã”. Na atualidade, o aparelho de TV substitui às idas à Capela do Braz (Igrejinha), no Pio XII. Em 2012, Ana Isaura sofreu um acidente vascular cerebral, com implantação de sonda gástrica e cuidados especiais em saúde. Antes disso, apenas aos 90 anos, teve uma complicação mais grave devido à pedra na vesícula, que causou internação hospitalar e, felizmente, sem intervenção cirúrgica. Nas crises gripais, a consulta era com o clínico geral, doutor do bairro. De outro modo, seu encontro anual, sem falta, era com oftalmologista, de quem se tornou paciente fiel: “foram tantos anos, que comecei com o oculista-pai e passei para a filha, que tem a mesma especialidade”. Há muito tempo e sem preconceito, Ana aderiu à campanha de vacinação contra influenza. No dia-a-dia, ela aprecia o movimento de pessoas, principalmente crianças; fica irritada quando dizem que ela é a avó do gato; recebe visitas regulares da senhora que faz orações, da senhora que a faz rir, dos filhos, das profissionais que cuidam de sua saúde, formando um cenário que move seu dia juntamente a bandeira do Ceará (futebol) no telhado do vizinho, o sino da felicidade na entrada da casa, o gavião, o latido do cachorro, o vai-e-vem das galinhas, a auréola ao redor da lua ou as nuvens pesadas ou não. Tudo isso marca e define o tempo desta senhora mãe, sogra, avó, bisavó, tataravó, irmã, tia, prima, amiga e vizinha, que sumaria o segredo da longevidade na palavra PACIÊNCIA!
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